Primeiro senador cassado, Luiz Estevão monta escritório em frente às casas dos presidentes do Senado e da Câmara
BRASÍLIA — No dia 28 de junho de 2000, o empresário Luiz Estevão teve sua carreira política oficialmente sepultada. Cassado por 52 votos a 18 no plenário do Senado, tornou-se o primeiro integrante da Casa a perder o mandato, por envolvimento em desvios nas obras do Tribunal Regional do Trabalho em São Paulo. Desde então, passou a orbitar quase exclusivamente em torno de parlamentares do Distrito Federal. Mas isso está prestes a mudar. Ao menos geograficamente. Réu em 41 processos e inelegível até 2022, Luiz Estevão está instalando seu novo escritório em frente às residências oficiais dos presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB, partido que integrava quando cassado.
— O terreno é de minha propriedade há cerca de 20 anos. Comprei já com a casa, que foi recentemente reformada e esteve alugada até 2010 — afirma o ex-senador.
Estevão e os presidentes das duas casas do Legislativo negam já ter se encontrado na vizinhança, mas não faltará oportunidade. Na nova casa, em frente aos chefes do Poder Legislativo, ficará o departamento jurídico que cuidas das ações judiciais de Estevão e de seu Grupo Ok. Os outros 120 funcionários da empresa continuarão trabalhando na sede atual, a cinco quilômetros dali. O empresário, no entanto, manterá gabinetes nos dois imóveis.
Apontado como o maior proprietário privado de terras em Brasília, Luiz Estevão possui outros oito terrenos, dois deles construídos, apenas na Península dos Ministros, o endereço mais exclusivo do poder.
De acordo com levantamento recente do jornal “Correio Braziliense”, o empresário ainda tem 25 edifícios e terrenos na área comercial central de Brasília e outros 21 lotes destinados a edifícios residenciais nos bairros mais nobres da capital. Ironicamente, segundo o jornal, um complexo comercial de Estevão é usado, entre outros órgãos públicos, pelo núcleo de inteligência da Polícia Federal. Essa rede imobiliária é a principal fonte de renda do ex-senador desde que seus bens foram bloqueados.
Em agosto passado, Estevão deu o primeiro passo para livrar-se do bloqueio. Em um acordo considerado histórico pela Advocacia-Geral da União (AGU), o empresário concordou em devolver R$ 468 milhões aos cofres públicos, como parte da pena imposta pelos desvios nas obras do TRT-SP. Pelo acordo, o empresário pagaria à vista R$ 80 milhões e o resto em 96 meses, com parcelas corrigidas pela inflação. Ao fim do pagamento da última parcela, a AGU deve liberar um total de 1.255 imóveis pertencentes ao empresário.
Estevão continuará, no entanto, respondendo a outras dezenas de ações e à cobrança de juros e multas sobre a dívida com a União. Segundo a AGU, o valor passa de R$ 500 milhões, mas o empresário contesta. Quando firmou o acordo, o seu advogado, Marcelo Bessa, deixou claro o motivo: Estevão quer retomar a normalidade de sua vida empresarial.
Paralelamente, o ex-senador assumiu uma tarefa política, mas longe do PMDB de Renan e Henrique Alves. Apesar de estar inelegível até 2020 pela condenação ano passado no Superior Tribunal de Justiça pelos desvios no TRT, Estevão recebeu recentemente a atribuição de organizar o minúsculo PRTB, de Levy Fidélix, no Distrito Federal.
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