GERAL
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Obviamente a leitura das cenas variou de acordo com convicções políticas e ideológicas.
Foram diversas as interpretações.
Entre as quais, a da impressionante demonstração de força; do poder de pressão. Não se percebia expressões faciais de frustração ou lamento. A multidão revoltada parecia disposta a brigar impetuosamente por direito adquirido.
Petistas radicais interpretaram o episódio como sendo terrorismo eleitoral e a presidente Dilma considerou os boatos desumanos. Pouquíssimos admitiram possibilidade de uma falha do próprio sistema.
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Porém, a intenção aqui não é a de refletir sobre o Bolsa Família, legítimo e mais que aprovado pelo povo. Embora não dê para aceitar falta de cuidado em sua gestão. Dito isto, ponto.
A reflexão pretendida neste espaço é sobre o bônus demográfico brasileiro. Este sim, já está acabando. Talvez dure um pouquinho mais de dez anos. E o que é esse bônus? É uma situação vantajosa única, em que a população em idade economicamente ativa supera com folga a população de crianças e idosos.
Começou a tomar forma em meados da década de 1970, durante a ditadura, quando o Brasil cresceu economicamente sem, no entanto, se transformar em país com um povo desenvolvido. Ou seja, sem liberdade de expressão e pensamento, houve poucos avanços culturais; idem para investimentos adequados em educação.
E hoje? Crescimento e desenvolvimento continuam a depender de produtividade, ciência, tecnologia. De estudo, cultura, qualificação.
Da capacidade de poupança também. Mas queda de juros + inflação alta não estimula a população brasileira adulta a poupar para o futuro. Ficando cada vez mais complicado guardar recursos para momentos difíceis. Ninguém está imune. Nenhum país.
Pouco a ver com o Programa Bolsa Família, que transfere renda para mais de 13 milhões de famílias com um custo-benefício de 0,5% do PIB.
Tudo a ver com o bônus demográfico. Sim, ele vai acabar. Haverá menos nascimentos, ao mesmo tempo em que os velhos estarão vivendo bem mais. Haverá menos crianças, o que não será ruim, pois poderá haver planejamento para educá-las melhor, a um custo menor. Só que serão muitos os inativos a serem sustentados.
Se nada for feito agora, de onde virá o dinheiro para o bem-estar social daqui uns anos?
Ateneia Feijó é jornalista.
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