quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uma questão de bônus, por Ateneia Feijó


GERAL


Quem não se surpreendeu com as imagens dos milhares de beneficiários do Programa Bolsa Família superlotando caoticamente agências da Caixa Econômica Federal, de 13 estados, para sacar o donativo que, segundo boatos, seria suspenso?
Obviamente a leitura das cenas variou de acordo com convicções políticas e ideológicas.
Foram diversas as interpretações.
Entre as quais, a da impressionante demonstração de força; do poder de pressão. Não se percebia expressões faciais de frustração ou lamento. A multidão revoltada parecia disposta a brigar impetuosamente por direito adquirido.
Petistas radicais interpretaram o episódio como sendo terrorismo eleitoral e a presidente Dilma considerou os boatos desumanos. Pouquíssimos admitiram possibilidade de uma falha do próprio sistema.


Porém, a intenção aqui não é a de refletir sobre o Bolsa Família, legítimo e mais que aprovado pelo povo. Embora não dê para aceitar falta de cuidado em sua gestão. Dito isto, ponto.
A reflexão pretendida neste espaço é sobre o bônus demográfico brasileiro. Este sim, já está acabando. Talvez dure um pouquinho mais de dez anos. E o que é esse bônus? É uma situação vantajosa única, em que a população em idade economicamente ativa supera com folga a população de crianças e idosos.
Começou a tomar forma em meados da década de 1970, durante a ditadura, quando o Brasil cresceu economicamente sem, no entanto, se transformar em país com um povo desenvolvido. Ou seja, sem liberdade de expressão e pensamento, houve poucos avanços culturais; idem para investimentos adequados em educação.
E hoje? Crescimento e desenvolvimento continuam a depender de produtividade, ciência, tecnologia. De estudo, cultura, qualificação.
Da capacidade de poupança também. Mas queda de juros + inflação alta não estimula a população brasileira adulta a poupar para o futuro. Ficando cada vez mais complicado guardar recursos para momentos difíceis. Ninguém está imune. Nenhum país.
Pouco a ver com o Programa Bolsa Família, que transfere renda para mais de 13 milhões de famílias com um custo-benefício de 0,5% do PIB.
Tudo a ver com o bônus demográfico. Sim, ele vai acabar. Haverá menos nascimentos, ao mesmo tempo em que os velhos estarão vivendo bem mais. Haverá menos crianças, o que não será ruim, pois poderá haver planejamento para educá-las melhor, a um custo menor. Só que serão muitos os inativos a serem sustentados.
Se nada for feito agora, de onde virá o dinheiro para o bem-estar social daqui uns anos?

Ateneia Feijó é jornalista.

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