Temer tenta contornar resistências no PMDB, mas setores do partido defendem exame da aliança por estado
BRASÍLIA — Ainda falta mais de um ano para o início da campanha da reeleição, em 2014, mas o PT e a presidente Dilma Rousseff já estão convivendo com enormes dificuldades para a composição do palanque eleitoral. Os problemas estão principalmente no PMDB, mas também no PDT e no PR.
Eleito como parceiro prioritário da chapa da reeleição, o PMDB do vice-presidente Michel Temer está rachado de Norte a Sul do país, com muitas dúvidas sobre ter palanque próprio ou simplesmente apoiar a presidente Dilma. Nos últimos meses, a presidente despachou Temer para uma missão delicada: percorrer os estados problemáticos para promover a reaproximação com governadores rebelados do PMDB, como André Puccinelli (MS), ou para minar possíveis palanques competitivos de adversários, como em Goiás, onde Temer atraiu para o PMDB o megaempresário José Batista Júnior, do frigorífico JBS/Friboi, afastando-o do palanque do presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Situação é crítica com PMDB no Rio
O problema mais acirrado está no Rio de Janeiro, onde o PMDB de Sérgio Cabral não aceita o chamado palanque duplo para Dilma no estado. Cabral exige que o senador petista Lindbergh Faria renuncie à pré-candidatura para apoiar o vice-governador, Luiz Fernando Pezão.
— No Rio, ainda não arriamos a bandeira. Temos que dar tempo ao tempo — afirmou o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Peemedebistas que dizem que Dilma enfrenta problemas semelhantes na Bahia, no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e em Santa Catarina defendem a liberação do partido na convenção nacional que decidirá sobre a eleição presidencial de 2014. O PMDB, assim, ficaria fora da coligação formal, para ir compondo com diferentes partidos, de acordo com a realidade de cada estado, o que Temer não concorda, pois perderia seu posto.
Na Bahia, se repete a situação do Rio. O grupo dos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima não se acerta com o PT do governador Jaques Wagner e deve lançar candidatura própria. E pior, com grande possibilidade de apoiar Eduardo Campos.
Puccinelli, que sempre fez dobradinha no Mato Grosso do Sul nas últimas eleições com o PSDB, mas rompeu a aliança na disputa municipal do ano passado, indica, por enquanto, que Temer conseguiu um armistício. Depois de uma conversa franca em que o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) contou a presidente Dilma as dificuldades de composição com o PT no seu estado, ela foi a Campo Grande e prometeu investimentos bilionários ao lado do governador.
PDT e PR não asseguram alinhamento automático
As dificuldades enfrentadas com o PMDB se repetem com outros partidos aliados ao governo. Com o mesmo objetivo de implodir possíveis apoios ao provável adversário Eduardo Campos, a presidente Dilma fez gestos de reaproximação com o PDT e o PR, que estavam distantes desde a “faxina ética” do primeiro ano de mandato. Mas os partidos aliados pretendem cobrar caro para não mudarem de lado. Mesmo com a reforma ministerial promovida para contemplar esses dois partidos, seus dirigentes continuam vendendo dificuldades para apoiar a reeleição e oferecer palanques a Dilma nos estados.
Em reunião recente com o presidente do PDT, Carlos Lupi, o presidente do PT, Rui Falcão, ouviu que em Pernambuco o PDT permanecerá com Eduardo Campos, e, em Minas, com o senador Aécio Neves, presidenciável do PSDB. No Rio Grande do Sul, os pedetistas vão lançar Vieira da Cunha contra a candidatura à reeleição do governador petista Tarso Genro, deixando o palanque presidencial em aberto.
Já no Rio, para apoiar a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo, o PDT quer a vice ou a vaga para o Senado. Na manga, o partido tem a possibilidade de candidatura própria do deputado Miro Teixeira ou do prefeito Sandro Matos, de São João de Meriti. Na Bahia, pelo menos, os dois partidos caminharão juntos. Quanto à eleição nacional, Lupi afirma:
— Quando há esse gesto da presidente de nomear alguém que tem vínculo histórico com o partido, retoma o diálogo. Mas a eleição está muito distante. A questão nacional é reflexo desses arranjos (regionais) — disse Lupi, salientando que a meta do partido é aumentar sua bancada de deputados federais de 27 para 50.
O PR vai pelo mesmo caminho. Mesmo depois de ter abandonado a propagada independência e voltado para a base do governo, ao ser acolhido novamente no Ministério dos Transportes com Cesar Borges, o partido não cogita alinhamento automático.
A deputada estadual Clarissa Garotinho, por exemplo, afirma que, no Rio, não há compromisso de o PR apoiar a reeleição da petista:
— Não existe compromisso com eleição presidencial. O palanque está aberto para Aécio ou qualquer outro — disse Clarissa, depois de tête-à-tête com o tucano no plenário do Senado, há algumas semanas.
A declaração de Clarissa foi chancelada por seu pai, o líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho, que pretende disputar o governo do Rio:
— É isso mesmo. Nosso compromisso é nacional.
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