Além dos cubanos, Brasil pode atrair médicos de Portugal e da Espanha
- Conselho de Medicina afirma que médicos cubanos que saem do país são formados em escola de qualidade inferior
BRASÍLIA — O governo brasileiro pretende atrair não somente médicos cubanos para trabalhar nas regiões mais carentes do país, mas também profissionais de Portugal e da Espanha. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta terça-feira, que desde o início do ano estuda alternativas para suprir a deficiência desses profissionais nas regiões mais remotas do país. O Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que pretende recorrer à Justiça contra a medida.
Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, após se reunir com o chanceler de Cuba, Brun Rodríguez, disse que o governo brasileiro estuda trazer ao país seis mil médicos para minimizar o déficit desses profissionais em regiões. Padilha reforçou hoje que o país precisa de médicos mais próximos da população.
— Esse é um dos nós mais críticos para levar a saúde para a população. Não se faz saúde sem médicos. O Brasil precisa de mais médicos com mais qualidade e mais próximos da população — disse o ministro.
Segundo o CFM, apenas 10,99% dos médicos formados em Cuba que tentaram validar seu diploma no Brasil conseguiram passar pelo exame em 2012. Foram 182 inscritos, e apenas 20 aprovados. Em 2011, 15 entre 140 conseguiram, ou seja, 10,71%. Os números foram divulgados na tarde desta terça-feira pelo CFM. Cuba foi o segundo país com maior número de médicos formados inscritos no Revalida no ano passado e em 2011, ficando atrás apenas da Bolívia.
Segundo o presidente em exercício do CFM, Carlos Vital Tavares Corrêa Lima, Cuba tem apenas uma escola de medicina “ortodoxa”, mas os profissionais formados nesta escola permanecem no país. Os médicos que são “exportados” para países da América Latina provêm de outra escola, que o presidente em exercício afirma ter qualidade inferior. Vital diz que o CFM esteve em Cuba e constatou que a formação desses profissionais deixa a desejar.
Sobre as críticas do Conselho Federal de Medicina à decisão, Padilha disse que concorda que a contratação tem que considerar a qualidade e a responsabilidade desses profissionais. O conselho informou, ontem, que vai tomar as medidas jurídicas cabíveis e que condena de forma veemente “a entrada irresponsável de médicos estrangeiros e de brasileiros com diplomas de medicina obtidos no exterior sem sua respectiva revalidação".
Hoje, o ministro disse que o governo já descartou a validação automática de diplomas e a contratação de médicos de países que tenham menos profissionais que o Brasil, como é o caso da Bolívia e do Paraguai.
Dados do Ministério da Saúde mostram que no Brasil existe 1,8 médico para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção é de 3,2 médicos para mil habitantes e, em países como Espanha e Portugal, essa relação é de 4 médicos. No início do ano, os prefeitos que assumiram apresentaram ao governo federal uma série de demandas na área de saúde. Entre os pontos destacados estava a dificuldade de atrair médicos para as áreas mais carentes, para as periferias das cidades e para o interior.
Padilha disse que o governo estuda várias alternativas.
— A principal medida que temos adotado é estruturar os serviços de saúde e ampliar o número de vagas nos cursos de medicina nas universidades.
Outra bandeira do ministério é o Programa de Valorização do Profissional da Atenção Básica (Provab), que oferece salários mensais de R$ 8 mil e pontos na progressão de carreira dos médicos que vão para o interior e as periferias. Até hoje só 4 mil médicos aceitaram participar do programa.
— Como ministro da Saúde, não vou ficar vendo a situação de Espanha e Portugal — que têm médicos de muita qualidade, que falam português e que vivem uma situação de 30% de desemprego — sem pensar em alternativas de intercâmbio para trazer esses profissionais.
De acordo com Padilha, o Brasil está acompanhando experiências de países desenvolvidos como a Inglaterra, onde 40% dos médicos foram atraídos de outros países, Canadá onde 22% dos médicos são estrangeiros, e Austrália, onde essa participação é de 17%. No Brasil, apenas 1% dos médicos vieram de outros países.
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