Funcionários públicos que cumprem suas obrigações merecem, como acontece normalmente com quem trabalha na iniciativa privada, o pagamento regular e justo de seus salários. E, pelo menos em princípio, nada mais do que isso. É curioso, portanto, que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenha sentido a necessidade de criar um bônus para policiais que consigam reduzir a criminalidade em suas áreas de trabalho. Quem está na arquibancada imaginaria que, como em qualquer outra profissão, o salário já corresponde ao comprimento eficiente dos deveres da profissão do cidadão.
Alckmin está prometendo uma gratificação semestral para a redução dos índices de homicídio, latrocínio e roubo de veículos no estado. Ainda não decidiu quanto será necessário para estimular os policiais a combater com eficiência a criminalidade: parece que vai ser algo entre R$ 4 mil e R$ 10 mil. Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Fernando Grella, o governo está preparado para impedir possíveis fraudes nas estatísticas. Ou seja, os policiais paulistas serão devidamente policiados. Grella, pelo visto, parece saber com quem está lidando.
Mas, curiosamente, os beneficiados não gostaram da ideia: o presidente da Associação dos Investigadores de São Paulo, João Batista Rebouças, disse preferir um aumento nos salários dos policiais. Seja como for, a iniciativa não é novidade: aqui no Rio de Janeiro o sistema dos bônus vai de R$ 4.500 a R$ 13.500, e a Secretaria de Segurança tem certeza de que foi uma boa iniciativa. Segundo o subsecretário de Planejamento, Roberto Sá, a gratificação proporcionou "o diálogo e a integração das polícias". Em Pernambuco e Minas, também há prêmios para policiais.
Para quem está na arquibancada, mesmo que não se discuta a eficiência do bônus, ele certamente tem perigos. Por exemplo, a já citada fraude nos números de bandidos presos. Ou mesmo prisões não justificadas. Também, nada impede que outros servidores do Estado reclamem tratamento igual. Apenas por hipótese, existiria, quem sabe, a possibilidade de que médicos reclamassem gratificação por cirurgias bem-sucedidas. Ou que professores pedissem um prêmio pelas boas notas de seus alunos.
Seja como for, é verdade óbvia que São Paulo tem problemas sérios na área da segurança pública. No primeiro trimestre deste ano, as estatísticas revelaram aumento da criminalidade em quase todos os tipos de crime em relação ao mesmo período do ano passado. Houve apenas uma exceção: o número de homicídios diminuiu consideravelmente nos últimos anos: caiu de 13 mil para 4.800. Ninguém até hoje, descobriu uma explicação para essa boa notícia. Será importante verificar se os bônus produzirão melhores resultados nos outros tipos de crimes. E por que isso acontecerá.
O que, lamentavelmente, também será uma triste constatação sobre a motivação dos policiais paulistas.
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