segunda-feira, 30 de abril de 2012

A Empresa Delta


Empreiteira alvo da CPI do Cachoeira tinha contratos questionados por órgãos de controle


Moradores do Alto da Bondade, em Pernambuco, tiveram de deixar suas casas pois a caixa d’água feita pela Delta ameaça desabar
Foto: Hans von Manteufell / O Globo
Moradores do Alto da Bondade, em Pernambuco, tiveram de deixar suas casas pois a caixa d’água feita pela Delta ameaça desabarHANS VON MANTEUFELL / O GLOBO
RIO E SÃO PAULO - Obras com problemas de infraestrutura, abandono de serviços, suspeitas de irregularidades em licitações, uso repetido de termos aditivos e até a contratação de funcionários fantasmas. Uma análise de contratos da Delta Construções com prefeituras de grandes cidades do país mostra um retrato do tipo de trabalho que a empreiteira vem concedendo ao poder público, hoje o único cliente da construtora. No Rio, por exemplo, a Delta está sendo investigada pelo Ministério Público. Já o Tribunal de Contas do Município (TCM) afirma que fará um pente-fino em todos os contratos executados pela empresa número 1 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e alvo da CPI do Cachoeira.
O Ministério Público do Rio apura as dispensas de licitação do lixo para a contratação da Delta pela prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, com quem a empreiteira manteve contratos sem licitação no valor de R$ 84 milhões na gestão do ex-prefeito Washington Reis (PMDB), atual deputado federal. Os promotores querem saber ainda as circunstâncias que teriam levado a Delta a contratar 67 funcionários fantasmas para trabalharem com o recolhimento de resíduos na cidade.
No ano passado, a Delta abandonou a coleta de lixo em Duque de Caxias e foi contratada, sem licitação, pela prefeita de Nova Iguaçu, Sheila Gama (PDT), por R$ 21,4 milhões para prestar serviço durante 180 dias. Segundo Washington Reis, as concorrências foram feitas de acordo com a Lei 8.666 e aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio.
Há outra investigação em Duque de Caxias sobre suposta fraude na construção do Hospital Municipal Moacyr Rodrigues do Carmo, executada pela Delta na administração de Washington Reis. Obras realizadas pela empreiteira em parceria com as prefeituras de São Gonçalo, Porto Real e Niterói são alvos também de inquéritos do Ministério Público.
Na cidade do Rio, o MP investiga contratos emergenciais de R$ 36,5 milhões feitos com a Delta pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), entre 2009 e 2011. A assessoria de Paes informa que o valor corresponde a apenas 10% do total investido nas obras de reconstrução do município após as chuvas de abril de 2010.
Desde 2008, e com previsão de conclusão em novembro de 2013, a prefeitura tem contrato de R$ 163,5 milhões para a locação de veículos e equipamentos de limpeza urbana. Em 2007, a Delta desistiu de prosseguir com o contrato do Engenhão — como fez há dez dias com o Maracanã e, na semana passada, com a Transcarioca—, sob o argumento de que não teria condições de concluir a montagem da cobertura metálica a tempo para os Jogos Pan-Americanos. Uma inspeção do TCM, concluída em 2011, apresentou sobrepreço de mais de 400% em relação ao projeto básico do Engenhão.
Em SP, suspeita de documentos falsos
A má qualidade dos serviços prestados pela Delta foi o argumento que a prefeitura de São João de Meriti usou, no começo do ano, para ameaçar a empreiteira de multa de 20% do valor do contrato (de R$ 66 milhões), além da suspensão dos pagamentos. A construtora optou por reduzir a sua participação no consórcio que executa a obra de infraestrutura do PAC no município a 1%. Era de 50%.
Um contrato de R$ 1,1 bilhão assinado em novembro do ano passado entre a prefeitura de São Paulo e o consórcio liderado pela Delta para varrição de lixo se tornou alvo de investigação do Ministério Público. Os promotores apuraram as suspeitas de apresentação de documentos falsos pelo consórcio e abertura de envelopes apesar da existência de uma liminar judicial com impedimentos ao processo.
Quem assinou o contrato em nome do consórcio foi Heraldo Puccini Neto, diretor da Delta para a Região Sudeste, que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça em Brasília na última semana a pedido da Polícia Civil, por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em licitações na área de transporte público do Distrito Federal. Até a noite de sexta-feira ele ainda estava foragido.
O contrato do lixo é o maior assinado pela Delta na cidade desde 2005, ano em que a empresa recebeu R$ 11 milhões por serviços prestados à cidade. A chegada de Gilberto Kassab (PSD) ao poder municipal, em 2006, representou um salto para os negócios da Delta com a cidade. Em 2008, a prefeitura pagou R$ 38 milhões à empresa, valor que caiu no ano seguinte para R$ 35 milhões e voltou a subir em 2010 e 2011, quando São Paulo pagou R$ 37,5 milhões e R$ 69,5 milhões, respectivamente, à empresa. Os dados são do Sistema de Orçamento e Finanças da prefeitura.
— No contrato do lixo já existem inclusive medidas judiciais por conta de supostas irregularidades praticadas pela Delta e pelo presidente da comissão de licitação — disse o promotor Silvio Antonio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público do MP de São Paulo.
Na sexta-feira, o promotor encaminhou à Polícia Federal ofício em que solicita documentos relacionados a irregularidades eventualmente cometidas pela Delta ou por seus dirigentes na cidade de São Paulo, para verificar a relação com o contrato do lixo e o diretor foragido.
O Ministério Público determinou a verificação de atestados apresentados pela Delta para participar da licitação com informações sobre a implantação de programas de educação ambiental em Poá e Itanhaém, onde já prestou serviços. Há indícios de que os dados apresentados não sejam verídicos. As decisões tomadas pelo presidente da comissão de licitação, como a abertura de envelopes com propostas apesar de decisão judicial que a impedia, também estão sendo questionadas.
Antes de vencer o contrato do lixo, a Delta já havia recebido R$ 155,7 milhões da prefeitura de São Paulo em contratos emergenciais de varrição, pagos entre 2007 e 2011. Nos últimos sete anos, a construtora recebeu outros R$ 63,5 milhões a título de obras de urbanização, pavimentação de ruas e construção de pontes.
Na noite de sexta-feira, a assessoria do prefeito Gilberto Kassab (PSD) informou que a prefeitura foi notificada sobre o processo do MP, mas não teria nenhuma declaração a fazer sobre os indícios de irregularidades.
Contratos da Delta em Campinas para varrição de lixo também foram julgados irregulares pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE). Os negócios se referem a serviço de recapeamento asfáltico, pelo qual a empresa recebeu R$ 5,6 milhões. A assessoria da prefeitura informou que não há contratos em vigor com a Delta, e os que existiam foram assinados pelos antecessores. Em nota, a Delta disse ter “certeza da sua idoneidade e da lisura e transparência de todos os certames que disputou e venceu”.


  

China: Maior fornecedor do Brasil


Muito além das bugigangas, país asiático supera EUA, tradicional líder


BRASÍLIA — Boa parte das medidas adotadas pelo governo para proteger a indústria teve a China como alvo. Mas essas ações não impediram a explosão de vendas de produtos chineses ao país. Tampouco contribuíram para diminuir a dependência brasileira de manufaturados made in China. O país asiático tornou-se o principal fornecedor do Brasil nos três primeiros meses deste ano, com uma fatia de 15,5% de tudo o que se importa, ultrapassando os EUA (14,6%). A China também já é o maior vendedor de máquinas e equipamentos para a indústria nacional.
A agressividade chinesa pode ser constatada na comparação com 2000, quando era apenas o 11º fornecedor do Brasil, com participação de 2,19% no total importado. Só em 2011, as compras brasileiras deram um salto de US$ 7,19 bilhões. Os chineses também já são os maiores fabricantes de três dos 12 principais itens importados pelo país este ano, além de estarem entre os dez mais em outros dois grupos.
Desde o início do governo de Dilma Rousseff, as ações na área de defesa comercial para coibir a concorrência desleal multiplicaram-se, assim como outras iniciativas para conter as importações na fronteira. Um terço das petições em análise é contra produtos chineses. A mesma proporção vale para investigações em curso e os direitos já aplicados. Esses percentuais podem ser maiores, se consideradas ações contra Indonésia, Vietnã e Malásia, que têm sido usados como rota de produtos chineses para disfarçar a origem.
Para os exportadores, no entanto, essas medidas têm sido “uma gota no oceano”. Isso é confirmado por cálculos do governo, que mostram que se todos os processos de antidumping em análise ou em curso pudessem impedir a entrada dos produtos questionados, os efeitos seriam sobre apenas 3% do comércio. O país importa nove mil produtos todos os anos.
— São uma gota no oceano. Precisamos de reformas estruturais, como a tributária, a da previdência e a política, que poderão dar competitividade ao produto brasileiro, assim como uma situação cambial mais favorável. Também são indispensáveis investimentos em infraestrutura — diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
O diretor do Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Felipe Hees, reconhece que o impacto de medidas de defesa comercial é pequeno. Até porque têm como foco a concorrência desleal e não todas as importações. Segundo ele, é natural que a China se destaque por ser o maior parceiro comercial do país.
— As decisões não têm qualquer viés contra os chineses. Até porque há muitas petições apresentadas pela iniciativa privada que são rejeitadas — explica.
Máquinas chinesas permitem produção mais barata
Um limitador para as ações do governo de contenção das importações — e que reforça a necessidade de medidas mais amplas — está no fato de que há cada vez menos bugigangas na pauta. O Brasil nunca comprou tantas máquinas da China para ampliar a indústria nacional. Impedir a entrada destes itens limitaria a capacidade das empresas de produzir com equipamentos mais baratos.
— O fato é que, sem outras formas de reduzir custos, as empresas não têm como não recorrer a essas máquinas — diz Castro.
Superavitário até 2005, o setor de máquinas no Brasil precisou importar US$ 20 bilhões a mais do que conseguiu vender ao exterior em 2011. A China já é o primeiro fornecedor do país em quantidade e o segundo em valores financeiros. Entre a falta de iniciativas do governo e o apetite da indústria por equipamentos mais baratos, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq) lançou o “Grito de Alerta”, assinado por sindicatos. Para o vice-presidente da Abimaq, José Velloso, iniciativas pontuais não resolvem o problema. A mudança do patamar do câmbio em 2008 teria sido o “cavalo de pau” para a indústria.
— Câmbio e reforma tributária são a solução. Não desaprendemos a ser competitivos. O que mudou foi o câmbio — afirma.
Beneficiado com a aplicação de direitos antidumping e outras medidas do governo, o setor de material de construção está importando mais. Comprou US$ 7 bilhões lá fora em 2011, contra US$ 1 bilhão em 2003. A China já é quem mais vende estes materiais para o Brasil e responsável por um terço das importações.
— O câmbio e o custo Brasil têm a resposta — diz Walter Cover, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção.
Para o economista-chefe do banco ABC, Luis Otavio Leal, o protecionismo pode ser um tiro no pé e oficializar a ineficiência.

E o Bebê ?


Apesar de ter cativado britânicos, Kate enfrenta, um ano após casamento, cobrança cada vez maior para dar um filho ao príncipe William


KATE ACARICIA bebê: gesto deixou britânicos em polvorosa antes de aniversário Foto: AP/26-04-2012
KATE ACARICIA bebê: gesto deixou britânicos em polvorosa antes de aniversárioAP/26-04-2012
LONDRES. Quando vem o bebê?
Essa pergunta deixa de cabelo em pé qualquer jovem casal. Imagine a duquesa Catherine e o príncipe William — que nem cabelo direito tem —, que têm a responsabilidade de perpetuar a linha de herdeiros da rainha britânica Elizabeth II. Será que hoje, dia em que comemoram um ano de casados, os dois vão encarar esse tipo de conversa? Na família real, não se sabe. Já a pressão pública é clara. Jornais e revistas especulam sobre o próximo passo dos dois, que mantiveram o jogo da mídia de celebridades quase morno desde a pomposa festa de casamento.
Kate Middleton está com 30 anos. É elegante, discreta e um modelo de perfeição para muitas admiradoras. Tudo que faz e veste é copiado e celebrado. Na posição que ocupa é natural que o planejamento familiar seja discutido publicamente. Estar no centro das atenções também exige um autocontrole, um conhecimento profundo de sua melhor pose, do sorriso, de onde se deve colocar as mãos, como caminhar, como acenar, o que dizer. Por isso, causou sensação o carinho da duquesa com o bebê Hugo Eric Scott Vicary, de apenas três semanas, num evento em homenagem aos exploradores polares, na última quinta-feira. O pai do bebê, Vic Vicary, um dos homenageados na cerimônia contou que a duquesa achou “o bebê muito fofo” e olhou para ele com carinho. O príncipe William mostrou que leva jeito, e levou Hugo para um colinho real.
Será que estão prontos?
De acordo com a pesquisa sobre fertilidade divulgada em fevereiro deste ano pelo Office for National Statistics, órgão do Reino Unido para estatísticas, a faixa etária que mais cresce entre mulheres que dão à luz é a de 40 anos para cima. Isso vem acontecendo porque as futuras mães querem estabilidade na carreira, desejam se qualificar nos estudos e ter plenas condições financeiras antes de encararem as responsabilidades da maternidade. Kate, que não tem esse tipo de preocupação, está no grupo mais jovem de crescimento de fertilidade, entre 30 e 34 anos. A situação é muito diferente de 30 anos atrás, quando o príncipe Charles e a princesa Diana (então com 21 anos) comemoraram o primeiro aniversário de casamento três semanas após o nascimento de William.
É difícil imaginar o que se passa pela cabeça da duquesa Catherine. Suas opiniões são tão reservadas quanto seu estilo de vida. O que se sabe é que ela se saiu muito bem no primeiro ano. Segundo o diário inglês “The Telegraph”, Kate mantém uma amizade próxima com o sogro e vem frequentando ao lado dele, sempre discretamente, óperas e galerias de arte. Em seu primeiro discurso público, no mês passado, quando visitou um albergue infantil, ela estava segura — William ligou das Falklands (nome britânico para as disputadas Malvinas), para dar uma força — e bem acompanhada, com o apoio do príncipe Charles e de sua mulher. Além da proximidade com a nobreza, Kate conquista os súditos pelo jeito simples —para uma princesa — pois compra em lojas frequentadas pela classe média e já foi vista tomando café como qualquer cidadão numa popular franquia.
O estilo da princesa ajudou a elevar a popularidade da família real e a própria moral nacional, segundo avaliam três quintos dos britânicos ouvidos em pesquisa da Opinium. Mas o mesmo levantamento revela que a maioria dos compatriotas espera para o ano que vem o nascimento do herdeiro real.
Kate e William têm todos os ingredientes para a receita da felicidade. Mas a pressa é inimiga da perfeição. E perfeição é a cara da família real britânica.

A Frase do Mês

"Quem no Congresso disser que nunca viu Cachoeira ou é cascata ou tem catarata."

Aqui ainda não se tem um país - Veríssimo




Quando o grampo telefônico e a minicâmera escondida ainda não eram instrumentos de denúncia e moralização, o político corrupto podia contar com uma certa tolerância tácita dos seus pares e do público.
Mesmo quando não havia dúvidas quanto a sua corrupção, havia a disposição de perdoá-lo, até de folclorizá-lo — e o político que roubava mas fazia tinha o privilégio do artista, de ser um canalha em particular se sua obra o redimisse.
Uma única gravura do Picasso absolve uma vida de mau-caráter. A obra do Marquês de Sade é estudada com a mesma isenção moral dedicada à obra de Santo Agostinho — que nem sempre foi santo — e ninguém quer saber se o escritor engana o fisco ou bate na mãe se seus livros são bons.
Ou querer saber, queremos, mas só pelo valor de fuxico.
A absolvição custa um pouco mais quando o pecado do artista é o da ideologia errada. Pois se se admitia no político a perversão privada do artista, a única inconveniência intolerável no artista era a incorreção política.
Assim um Louis Ferdinad Céline e um Wilson Simonal tiveram que esperar a remissão que o tempo acabou dando a Kipling, Claudel, Nelson Rodrigues, Jean Genet, etc. Mas a receberam.
O político que declaradamente roubava mas se redimia fazendo tinha um pouco desta imunidade de artista. Sua obra justificava seus pecados, quando não era uma decorrência deles.
Todo o sistema de conveniências e deixa-pra-laísmo que domina o Congresso brasileiro e que está sendo testado agora presume a mesma desconexão entre moral privada e moral aparente. A cultura do clientelismo, onde o suposto proveito político substitui a ética, está baseada nela.
O que causou a atual revolta contra a roubalheira e a tolerância com a corrupção no Brasil, além das modernas técnicas de averiguação, é a constatação crescente de que aqui não se tem nem a ética nem o proveito, rouba-se para poucos e não se faz para a maioria.
Em cleptocracias mais avançadas a obra dos artistas do desenvolvimento, todos bandidos, redimiu-os. Empresários corruptores e políticos corruptos fizeram dos Estados Unidos, por exemplo, o que eles são hoje.
O capitalismo selvagem americano domou a si mesmo depois de construir um país, ou controlou-se razoavelmente, mas nos seus tempos desinibidos escandalizaria até o Cachoeira. Aqui se tem o crime mas ainda não se tem o país.

domingo, 29 de abril de 2012

Dilma: Mudanças na Caderneta de Poupança


Para permitir queda maior nos juros, governo pretende tornar variável o ganho da caderneta, seguindo a Selic


Segundo fontes da equipe econômica, Dilma prefere enfrentar o problema da poupança de frente, em vez de adotar soluções paliativas
Foto: Gustavo Miranda / Agência O Globo
Segundo fontes da equipe econômica, Dilma prefere enfrentar o problema da poupança de frente, em vez de adotar soluções paliativasGUSTAVO MIRANDA / AGÊNCIA O GLOBO
BRASÍLIA — A presidente Dilma Rousseff quer que as mudanças na poupança sejam estruturais e resolvam, de uma vez por todas, o problema da remuneração da caderneta. Só assim haveria espaço para uma queda mais acentuada das taxas de juros no país. No governo, a avaliação é que enquanto a caderneta oferecer um ganho fixo para o investidor (TR mais 6% ao ano) haverá risco de desequilíbrio no mercado. Ao concorrer com outras aplicações, como fundos, por exemplo, a caderneta acaba impondo um piso à queda dos juros. A ideia é tornar a remuneração da poupança variável de acordo com os juros.
A presidente avalia, segundo fontes da equipe econômica, que a melhor estratégia é enfrentar o problema da poupança de frente, em vez de adotar soluções paliativas como o que chegou a ser considerada no governo Lula, quando a saída encontrada para lidar com as distorções na remuneração foi tributar depósitos acima de R$ 50 mil. Outra solução temporária seria manter a remuneração, mas reduzir o Imposto de Renda (IR) dos fundos para torná-los mais atraentes.
— Adotar medidas paliativas pode ser mais complicado do que enfrentar o problema real — disse um técnico.
O Banco Central (BC), por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), deixou claro esta semana que o governo terá mais tempo para tratar do assunto, já que os juros vão cair mais lentamente a partir de agora. Segundo o documento, a Selic — atualmente em 9% ao ano — deve continuar sendo reduzida, mas com “parcimônia”. Isso indica que a taxa pode fechar o ano em 8,75% ou 8,5%.
A indicação do BC é importante, porque o clima entre a presidente Dilma e o Congresso é tenso. O governo vem sendo derrotado em votações importantes como a do Código Florestal. Os próprios líderes de partidos da base reconhecem que aprovar ainda este ano uma matéria complexa e sensível como a mudança na remuneração da poupança seria muito difícil.
— Não há ambiente para se debater o assunto este ano no Congresso, ainda mais por ser ano eleitoral — afirmou um líder da base aliada.
Desde que os juros começaram a cair de forma mais consistente, a partir de agosto passado, a poupança tornou-se mais atrativa que outros investimentos com retorno vinculado à Selic. Por isso, há o temor no governo de uma fuga de recursos em massa para a poupança, o que poderia desequilibrar o mercado.
Fuga de recursos não começou, dizem técnicos
O aumento destes recursos criaria dificuldades aos bancos, que precisam aplicar em habitação 65% dos depósitos da poupança. Ou seja, haveria dinheiro em excesso para esse tipo de empréstimo e faltaria para o restante. Além disso, a saída dos fundos também poderia afetar a administração da dívida pública, pois essas aplicações são compostas, em boa parte, por títulos do governo.
No entanto, os técnicos têm observado que ainda não há uma fuga para a caderneta. Tanto que a captação líquida da poupança, segundo dados do BC, foi negativa nos dois primeiros meses de 2012. Em janeiro, o déficit foi de R$ 2,8 milhões e em fevereiro, de R$ 412 milhões. O problema é que a uma migração como a que o governo teme não ocorre lentamente. A partir do momento em que os aplicadores perceberem que podem perder dinheiro nos fundos, vão partir para a caderneta de uma hora para a outra.
— Isso é preocupante — admitiu um técnico.
Enquanto estuda uma alternativa estrutural para a poupança, o governo decidiu adotar soluções periféricas que deem atratividade aos fundos de investimento temporariamente. Nesse sentido, a Caixa acaba de reduzir taxas de seus fundos para ganhar competitividade. A constatação do governo é que as taxas de administração — que podem chegar hoje a 2% — têm margem para redução que crie diferencial competitivo em relação à poupança, mesmo que a Selic caia mais.


  

Minto, logo Existo - Nelson Motta

Com o início de mais uma CPI em busca da verdade, a única certeza é que ouviremos mais uma cachoeira de mentiras. Mesmo jurando sobre a Bíblia, eles vão mentir, como José Roberto Arruda fez na tribuna do Senado, jurando pelos seus filhos que não tinha violado o painel eletrônico. Quantas vezes ainda ouviremos alguém dizer "eu não sabia"? É difícil saber se já houve mais corrupção no Brasil em outro tempo, mas certamente nunca na história deste país se mentiu tanto. Só que agora as mentiras se espalham instantaneamente pela sociedade, mas podem ser mais rapidamente desmentidas pelos fatos e pela tecnologia.

Historicamente, nos Estados Unidos e em países de cultura protestante, mentir é um ato muito mais grave, moral e legalmente, do que na América católica. Em países regidos por esses códigos morais, mentir em juízo sob juramento é crime de perjúrio que pode levar à prisão e até derrubar presidentes. Como o mentiroso Richard Nixon, obrigado a renunciar depois do escândalo Watergate, e Bill Clinton, que sofreu um impeachment na Câmara dos Representantes, com muitos votos do seu próprio partido, não pelo mau gosto do romance com Monica Lewinsky, mas porque mentiu. Foi salvo pelo Senado, por poucos votos. E era um dos presidentes mais populares e bem-sucedidos da história americana, com sólido apoio parlamentar.

A verdade é que todo mundo mente, uns mais e outros menos, para o mal e para o bem, pelos mais diversos motivos, sentimentos e circunstâncias, é parte da condição humana. Mas quando alguém mente para si mesmo, como Sarney se acreditando um grande estadista de moral ilibada, ou Zé Dirceu se dizendo "cada vez mais convencido" de sua inocência no mensalão, para esses casos não há cura. Mas isto é assunto psicanalítico, estamos falando de roubos e conspirações de políticos, empresários e funcionários contra o Estado.

Como nos lembram CPIs recentes, eles mentem cínica e impunemente, humilham nossa inteligência, desmoralizam nossa fé nas instituições e provam que aqui a mentira é não só tolerada como recompensada. Eles anunciam uma verdade brasileira: minto, logo existo.

Thor não trafegava no Acostamento


Laudo sobre acidente ocorrido em março é parcial. Polícia ainda aguarda dados da Mercedes



Thor deixa a delegacia após prestar depoimento
Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Thor deixa a delegacia após prestar depoimentoFABIANO ROCHA / AGÊNCIA O GLOBO
RIO - Um laudo parcial da perícia que tenta identificar as causas do acidente envolvendo Thor Batista, filho do empresário Eike Batista, mostra que ele não trafegava pelo acostamento da BR-040 (Rio-Juiz de Fora) quando atropelou e matou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos, de 30 anos, na noite de 17 de março. O caso está sendo investigado pela 61ª DP (Xerém), para onde foi enviado o laudo. Segundo a assessoria de imprensa da Polícia Civil, ainda estão sendo aguardadas informações técnicas da Mercedes-Benz, montadora do veículo usado por Thor, pois o carro não tem as características padrão dos automóveis usados no país. Os dados serão anexados e avaliados no processo.
A perícia parcial indica que o carro de Thor atingiu a vítima na pista central ou da direita da rodovia, como informou o jornal O Dia. O ciclista estaria atravessando a pista empurrando a bicicleta no momento em que foi atingido. O laudo também teria constatado que a vítima carregava um saco de plástico com lata de cerveja, encontrados no para-brisa do carro de Thor, um Mercedes McLaren, modelo superesportivo.

- A notícia de que a vítima havia ingerido bebida alcoólica já havia sido divulgada. E as marcas da freada do carro ficaram no meio da pista. Nós já sabíamos disso.Mãe de Thor, a ex-modelo Luma de Oliveira disse não haver novidade na informação.
Conforme O GLOBO noticiou, o perito criminal Mauro Ricart — que fez perícia em centenas de acidentes envolvendo veículos de passeio, ciclistas e pedestres — havia dito que o fundamental é determinar o ponto de impacto, ou seja, o local exato da batida, a fim de descobrir o responsável pelo acidente. Embora Ricart tenha feito a ressalva de que só periciando o carro é possível determinar a sua velocidade no momento do impacto, pelas fotografias que viu, as avarias do veículo indicam que ele poderia estar entre 100 e 110km/h, velocidade permitida na via.
— É possível determinar esse ponto porque, no instante da pancada, tinta e pedaços do carro se desprendem e caem no chão — disse ele. — Se o ponto de impacto for na pista, a responsabilidade é do ciclista. Se for no acostamento, é do motorista.


 

A Palavra do Dia - Adjetivo


Adjetivo
Adjetivos são palavras que se unem ao substantivo, qualificando-o ou classificando-o. Por exemplo, na frase ‘O computador velho da empresa funciona tão bem quanto os novos’, o adjetivo ‘velho’, qualifica e especifica o substantivo ‘computador’. Quando há uma expressão formada por duas ou mais palavras, que é equivalente a um adjetivo, ocorre uma locução adjetiva. As locuções podem ser formadas de ‘preposição + substantivo’ (coração de anjo, sendo ‘de anjo’ a locução adjetiva) ou de ‘preposição + advérbio’ (jornal de hoje). Adjetivos pátrios são referentes a continentes, países, regiões, estados etc. (brasileiro, baiano, carioca...). Os adjetivos, assim como os substantivos, flexionam-se em número e gênero.
>>Definição do iDicionário Aulete:

 (ad.je.ti.vo)
sm.
  1  Gram. Ling.  Palavra que se junta a um substantivo, qualificando-o ou classificando-o 
a.
  2  Que está próximo de, unido a; ADJUNTO
  3  Gram. Ling.  Diz-se de palavra que modifica um substantivo, qualificando-o ou classificando-o
  4  Gram. Ling.  Que funciona como adjetivo (locução adjetiva; pronome adjetivo)
 [F.: Do lat. adjectivus, a, um. Hom./Par.: adjetivo (sm.), adjetivo (fl. de adjetivar).]
Adjetivo atributivo  
1   Gram.  O que, atribuindo uma qualidade ao nome, funciona como adjunto adnominal (estrada longa). 
Adjetivo biforme  
1   Gram.  O que tem uma forma para o masculino, outra para o feminino (alto, alta). 
Adjetivo de dois gêneros  
1   Gram.  O que tem a mesma forma para o masculino e o feminino (estável, capaz) 
Adjetivo de dois gêneros e de dois números  
1   Gram.  O que tem a mesma forma para masculino, feminino, singular e plural (calça/calças grená; lenço/lenços grená) 
Adjetivo de dois números  
1   Gram.  O que tem a mesma forma para singular e plural (É um caso/são dois casos daqueles; É uma situação/são situações daquelas). 
Adjetivo gentílico  
1   Gram.  O que relaciona com a origem em ou pertinência a cidade, região, estado, país etc. (latino, inglês, porto-alegrense, amazônico etc.) Tb. apenas gentílico.] 
Adjetivo pátrio  
1   Gram.  O que relaciona com país ou nação (americano, brasileiro, português etc.) 
Adjetivo predicativo  
1   Gram.  O que exerce função predicativa (Não me faça ficar triste). 
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Romney teria matado Bin Laden ?


Em 2008, ex-governador criticou gastos empregados na caça ao terrorista


NOVA YORK — A campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou uma linha nova de ataque contra o candidato concorrente republicano Mitt Romney. O anúncio coloca em dúvida se Romney, ex-governador de Massachusetts, teria sido capaz de matar Osama bin Laden.
Em um vídeo disponibilizado na internet, nesta sexta-feira, chamado "One chance" ("Uma chance"), o ex-presidente americano Bill Clinton elogia a decisão do chefe de Estado por ter ordenado que a Navy Seals, uma tropa de elite da Marinha dos Estados Unidos, atacasse subitamente o complexo de Bin Laden no Paquistão.
A propaganda, depois, pergunta:
— Que trajetória Mitt Romney teria seguido?
O vídeo em questão recorda que, durante a campanha eleitoral de 2008, Romney — na época, pré-candidato à Presidência — criticou Obama por prometer levar em consideração os ataques aéreos no Paquistão e também comentou sobre Bin Laden:
— Não vale a pena mover céu e terra e gastar bilhões de dólares para capturar uma pessoa.
Em um discurso realizado na Universidade de Nova York na quinta-feira, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que o legado de Obama poderia ser resumido em um adesivo de para-choque da seguinte forma: "Osama bin Laden está morto, e a General Mortors está viva."
— Você tem que se perguntar: "Se Romney fosse presidente, ele teria usado esse slogan em sentido inverso?" — acrescentou Biden.
A assessora de Mitt Romney, Andrea Saul, disse em um comunicado que "é triste agora ver a campanha de Obama usando um acontecimento que uniu o país para mais uma vez dividi-lo, a fim de tentar desviar a atenção dos eleitores sobre as falhas de seu governo".
Em 2007, a campanha de Obama criticou a então senadora Hillary Clinton por "invocar Bin Laden para marcar pontos políticos".

CPI de faz de Conta - Merval Pereira


Estamos começando a viver um clima de faz de conta mesmo antes de a CPI do Cachoeira começar seus trabalhos de fato. O PT formalmente declara-se disposto a limitar as investigações sobre a empreiteira Delta ao que acontecia na sua direção do Centro-Oeste, cujo diretor já está preso. Como se os métodos adotados naquela região pela empresa nada tivessem a ver com a sua cultura no resto do país.
Ora, a empreiteira tem (ou tinha) obras em praticamente todas as unidades da Federação, sobretudo devido ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e nada indica que seus métodos de ganhar licitações fossem diferentes em Goiás e no Rio de Janeiro, por exemplo.
A relação próxima, quase promíscua, do empresário Fernando Cavendish com o governador Sérgio Cabral e seus secretários, se não estivesse já demonstrada no episódio do trágico acidente de helicóptero ocorrido em Porto Seguro, fica explicitada pelas fotos que o deputado e ex-governador Garotinho postou em seu blog ontem.
A comemoração do governador e vários de seus secretários em Paris com o empreiteiro revela um tipo de comportamento incompatível com o decoro de servidores públicos, além de intimidade suspeita com o empreiteiro responsável por grandes obras no estado.
Nenhum daqueles funcionários públicos provavelmente terá condições de provar que pagou a farra com dinheiro próprio, mesmo que alguns deles, como o secretário de Transportes, Julio Lopes, pudessem ter condições de fazê-lo.
E o secretário de governo, Régis Fichtner, que é o encarregado de auditoria dos contratos da Delta com o estado, nesfa fase em que se pretende fazer desaparecer os traços de ligação entre a empreiteira e o governo do Rio, aparece abraçado a Cavendish em uma das fotos, o que o descredencia para a tarefa.
Não é possível fazer de conta que a relação profissional da Delta com políticos de vários partidos e em vários estados não mereça ser investigada quando há claros indícios de que os métodos utilizados no Centro-Oeste não eram específicos apenas daquela região do país onde atuava originariamente o bicheiro Cachoeira.

sábado, 28 de abril de 2012

Cachoeira diz que elegeu Perillo


Contraventor, em diálogo com ex-presidente do Detran: ‘Quem pôs o Marconi lá fomos nós’


Carlinhos Cachoeira foi preso em fevereiro na operação Monte Carlo
Foto: O Globo / Gustavo Miranda
Carlinhos Cachoeira foi preso em fevereiro na operação Monte CarloO GLOBO / GUSTAVO MIRANDA
BRASÍLIA - Conversas gravadas pela Polícia Federal mostram que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, cobrou do ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso a fatura pelo apoio à eleição do governador Marconi Perillo (PSDB). No diálogo, o bicheiro e o ex-auxiliar do governador discutem a partilha da verba publicitária do Detran, segundo Edivaldo, no valor total de R$ 1,6 milhão. Cachoeira lembra da participação que teve na campanha de Perillo e exige a maior fatia do bolo.

— Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós — diz Cachoeira.
A conversa foi interceptada pela Polícia Federal em 2 de março do ano passado, logo no início do governo do tucano. Cachoeira descobriu que um jornal de Anápolis, de oposição ao governador, receberia uma verba mais expressiva que o jornal dele, que, segundo a Operação Monte Carlo, está em nome de um laranja do bicheiro. Contrariado, Cachoeira diz que a partilha não está correta e deve ser revisada.
"Aquele jornal foi contra o Marconi”, diz Cachoeira
Em um dos trechos, Cachoeira fala especificamente do Canal 5 de Anápolis, contratado para transmitir as sessões da Câmara Municipal e que tem como diretor Carlos Nogueira, o Butina, que ao GLOBO assegurou ser o dono da emissora. O mesmo grupo é dono do jornal “Estado de Goiás”. O contraventor vai direto ao ponto:
— O jornal “O Anápolis” vai ganhar do Detran? Aquele jornal foi contra o Marconi o tempo inteiro. O Butina falou que viu (o documento) na mão do cara (do governo) — contesta Cachoeira.
O ex-presidente do Detran nega a veracidade da informação:
— Não viu, não. Eu fechei isso ontem. Tinha televisões (e outros jornais) — disse Edivaldo, antes de complementar, dizendo que deu atenção especial ao jornal de Carlinhos.
— Eu pedi para incluir o seu (jornal) lá — disse Edivaldo.
A partir desse momento, em um diálogo de três minutos e quinze segundos, o contraventor interpela o ex-dirigente do Detran sobre a partilha de valores e compara a fatia abocanhada por concorrentes e pelos veículos ligados ao grupo.
— O nosso tem que ser muito mais. Quem lutou e pôs o Marconi lá fomos nós! — diz Cachoeira.
Presidente do Detran foi demitido, após escândaloPressionado, Edivaldo chega a concordar com Cachoeira que a verba aos jornais que fazem oposição ao governo de Marconi Perillo “não se justifica”. Cachoeira então volta a cobrar a suposta parceria com o governo goiano.
— Parceiro só para conversa, não tem jeito. Você tem que nos mostrar em números — conclui o contraventor.
Edivaldo foi demitido no começo de abril deste ano, após o surgimento de outras gravações nas quais aparece em conversas com Cachoeira. O tema da conversa era um possível encontro a ser agendado entre o governador e Cachoeira.
Butina sustentou que ele é o dono do jornal “Estado de Goiás” e da Canal 5. O advogado do governador Marconi Perillo, Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, informou que não comenta trechos pinçados e descontextualizados do relatório da Operação Monte Carlo.