SÃO PAULO - Na semana em que perdeu o vice-governador, Afif Domingos (PSD), para o governo Dilma e foi derrotado na briga por uma alíquota única para os estados no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o governador Geraldo Alckmin (PSDB) abandonou o tom cordial e mostrou estar com o pavio curto.
Durante um pequeno evento no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, na quarta-feira, Alckmin fez um discurso contra a impunidade considerado pesado até por aliados do governo. Segundo o governador, “o povo não sabe um décimo do que se passa contra ele” e, se soubesse, “ia faltar guilhotina para a Bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro”.
O discurso de Alckmin foi feito durante o lançamento de um programa de apoio aos municípios na implantação de portais de informações e transparência pública. Ao lado do procurador-geral de Justiça, Márcio Elias Rosa, ele não poupou críticas ao Judiciário, dizendo que o poder é “o paraíso” para a corrupção. O governador chegou a reclamar até das fundações estaduais que cobraram para desenvolver o programa dos municípios: “não deviam cobrar nada, isso é obrigação”.
Aliados de Alckmin e líderes tucanos disseram nesta quinta-feira, reservadamente ao GLOBO, que o governador estava irritado com a nomeação de Afif para a Secretaria de Micro e Pequenas Empresas. Expoente do PSD e muito próximo do presidente da sigla, o ex-prefeito Gilberto Kassab, Afif nunca foi aliado de Alckmin, mas sua migração para a base aliada da presidente Dilma Rousseff expõe uma fragilidade do tucano.
— Isso deixa qualquer um irritado. A saída de Afif é um paroxismo do total oportunismo político. Você viu hoje ele beijando a mão de Dilma?— reclamou um integrante do alto escalão do governo.
Além de estar “engasgado” com a saída de Afif, Alckmin tem se queixado da derrota no Senado da votação das novas regras do ICMS. A proposta do governo federal, apoiada por Alckmin, era de uma alíquota única de 4% para os estados, mas os senadores optaram por três tipos de alíquota, colocando São Paulo com a menor cota.
Integrantes da equipe de Alckmin afirmam ainda que o governador, que já foi chamado de “picolé de chuchu” por seu estilo ameno e repetitivo de discurso, anda muito pressionado pela crise de segurança pública no estado. Além do aumento no índice de mortes e assaltos, os crimes têm se tornado cada vez mais violentos. Internamente, o governador também não vive o melhor momento, com crises na condução do PSDB.
— Alckmin não tem uma marca nesta gestão. Está pressionado e tem recorrido a um discurso com apelo popular, como este contra a corrupção e como a proposta de diminuição da idade de maioridade penal. Ele precisa dar conta dos conflitos internos e manter espaço no estado em relação ao avanço do PT. Com isso, tenta se diferenciar dos petistas e se aproximar do que é mais popular— analisa a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da UFSCar, especialista em análise sobre o PSDB.
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