segunda-feira, 27 de maio de 2013

Mentirinhas, pavonada e meias verdades, por Gaudêncio Torquato



Balões de ensaio, versões polêmicas, verdades (meias verdades) e boatos costumam compor a locução rotineira dos centros e das margens sociais, que se expande nas tubas de ressonância das mídias impressa e eletrônica e, agora, nas céleres redes sociais da internet.
Balões de ensaio são geralmente produtos manipulados em laboratórios político-partidários e visam, sobretudo, testar o grau de aceitação/rejeição social a atores ou ideias; versões de conteúdo polêmico são criadas por grupos ou pessoas para contradizer pontos de vista oficiais; verdades ou meias verdades, quando expressas em linguagem que destoa do porte litúrgico da autoridade que as emite, acabam criando embaraços para as instituições; e, fechando as comunicações que causam sensação, estão os boatos que, ao abarcarem temas sensíveis à grupamentos e setores, chegam a provocar ondas de pânico, contribuindo para a desorganização de estruturas e ameaçando a credibilidade de governantes.
Numa cultura como a nossa, pontilhada por padrões que ferem a boa conduta, como oportunismo, má fé, ausência de compromissos, não causam surpresa coisas como factóides, perorações messiânicas, troca recíproca de verbos ferinos que adensam a tensão entre os Poderes da República. A pavonada - a ostentação dos galiformes - dá o tom maior dos discursos desbocados.


É o que se tem visto. Comecemos pela fala que ganha o carimbo de “politicamente incorreta”, da lavra do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Disse ele em palestra numa Faculdade de Direito: os partidos políticos são de “mentirinha” e o Congresso é “inteiramente dominado pelo Poder Executivo”.
Examinemos a fala. É evidente que os partidos são entes legais, legítimos e enquadrados nos estatutos da vida partidária. Se Sua Excelência pretendeu se referir à pasteurização, à perda da densidade ideológica, ao arrefecimento das bases, ao declínio das oposições, fenômenos que os tornam amorfos e assemelhados, na esteira da crise da democracia representativa, tem lá sua razão.
Partidos representam parcelas do pensamento social e devem clarificar seu ideário. Mas a politicagem acaba tomando o lugar da política, entendendo-se aquela como a competição entre partidos para ocupar espaços nas estruturas governativas e aumentar seu poder. A expressão “mentirinha” soa mal no dicionário do comandante da mais corte de justiça. Denota o deboche.


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