domingo, 12 de maio de 2013

O que Maduro precisaria ouvir em Brasília (Editorial)



MUNDO

O Globo

Brasília recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em visita aos principais parceiros do Mercosul para agradecer o apoio à eleição. O político tem a tarefa de ser o continuador do chavismo e de guiar o país na crise política, econômica e social que herdou.
O governo brasileiro foi dos primeiros a reconhecer-lhe o triunfo eleitoral, bastante duvidoso. Tem, pois, credenciais para se fazer ouvir. O Brasil é o país de maior peso da América Latina e uma das grandes democracias do mundo.
Quando Hugo Chávez morreu, a presidente Dilma Rousseff enalteceu-lhe o papel político no continente, mas ressalvou que, “em muitas ocasiões, o governo brasileiro não concordou integralmente com ele”.
Agora, o resultado das eleições apontou uma Venezuela dividida ao meio. Portanto, é bom conselho a Maduro dizer-lhe que irá na direção errada se radicalizar ainda mais. Que agirá com inteligência se patrocinar um entendimento com a oposição, que hoje representa, no mínimo, metade do país.


É preciso juntar forças diante dos desafios pela frente: uma onda inaudita de violência; inflação elevada; desabastecimento; necessidade de soerguer a PDVSA; urgência de atrair investimentos; reduzir a dependência do petróleo; conter a degradação da infraestrutura, entre outros.
Maduro deveria ouvir em Brasília que a recontagem parcial dos votos da eleição, que se iniciou a pedido da oposição, deve ser transparente. Mas a verdade é que, com o regime chavista, talvez seja melhor poupar o conselho, porque só há um resultado possível para a recontagem: a confirmação da vitória.
Isto não quer dizer que o governo brasileiro fique impassível diante de absurdos que estão sendo cometidos contra a oposição venezuelana. O presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o segundo mais poderoso chavista, cassou a palavra dos deputados oposicionistas por não reconhecerem o governo eleito em abril.
Com que direito o fez? Também é inaceitável sua decisão de restringir o livre acesso da imprensa à AN.
No início do mandato, Dilma disse preferir “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”. Por isto o Brasil tem uma democracia forte, em que a imprensa exerce seu papel de vigilância.
Nos regimes bolivarianos, a liberdade de expressão é espezinhada. A única emissora de TV aberta crítica do chavismo foi vendida para um empresário amigo do governo, uma prática que o chavismo tomou emprestado do kirchnerismo argentino.
Brasília deve dizer a Maduro que é lamentável amordaçar a Globovisión ou qualquer outro veículo de imprensa.
Merecem reparo os ataques verbais do herdeiro de Chávez a EUA e Colômbia, que só prejudicam a Venezuela. O governo brasileiro deve lembrar-lhe que os EUA dependem cada vez menos do petróleo venezuelano e que seu país não pode se dar ao luxo de brigar com a Colômbia, como reconheceram os presidente Juan Manuel Santos e Hugo Chávez. Pena, mas isto dificilmente acontecerá.

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