terça-feira, 14 de maio de 2013

O Escritório - Artur Xexeo


A O GLOBO (12/5/2013)

Qual é o sentimento que fica quando você precisa se despedir de uma série de televisão que o acompanha há oito anos? Peraí, é a série que o acompanha ou você que acompanha a série? Na quinta-feira que vem, a rede de TV americana NBC vai transmitir o último episódio de “The office”. Não está confirmado, mas parece que, depois de muitos desmentidos, Steve Carrel, que foi o protagonista do programa durante suas sete primeiras temporadas, fará uma participação especial no episódio que fecha a tampa da nona e derradeira temporada.
Durante todo esse tempo, foi impossível não criar uma grande intimidade com os funcionários da Dunder Mifflin Paper Company, uma fornecedora de papel instalada em Scranton, na Pensilvânia. Depois de cem episódios, é impossível não se identificar com algumas das situações retratadas em “The office”. É claro que nunca trabalhei num escritório tão alucinado quanto a filial de Scranton da Dunder Mifflin. Nunca tive colegas tão loucos também. Mas um pouco de alucinação e um tantinho de loucura também passaram pelos escritórios dos quais já fiz parte.
Creio que “The Office”, ainda no formato britânico que provocou a adaptação americana que agora sai do ar, foi o primeiro seriado cômico de TV a usar o formato de filmagem com uma só câmera para dar a impressão de que se está assistindo a um documentário. É esse o truque que justifica a série. Um falso documentário está sendo feito sobre o dia a dia do escritório da Dunder Mifflin. O espectador tem acesso a todas as cenas registradas pela equipe de filmagem. Os personagens reagem à câmera como se tivessem consciência de que estão com a intimidade invadida. A mesma fórmula foi aplicada, posteriormente, em “Parks and Recreation” e em “Modern family”.
A série americana foi bem mais longeva que sua matriz britânica. Na Grã-Bretanha, “The Office”, uma criação de Ricky Gervais e Stephen Merchant, estrelada pelo próprio Gervais, durou apenas três temporadas e um total de 14 episódios. As ideias de roteiros foram consumidas rapidamente pela equipe americana. Ainda na primeira temporada americana, o material já era quase todo original.
Acompanhei os dois seriados, mas, é claro, até por uma questão de tempo de permanência no ar, me apeguei mais ao americano. Quase toda a graça de “The office” está sobre os ombros do chefe do escritório. Michael Scott, vivido por Steve Carrel, é extremamente incompetente e totalmente incapaz de conviver com qualquer espécie de ser humano. Mas ele não se dá conta disso. Comporta-se sempre como se fosse o mais eficiente dos executivos e tem a certeza de que seus funcionários o amam. É desse comportamento que se extraía a maior parte das piadas de cada episódio. A saída de Carrel do elenco foi um baque. Mas os outros personagens eram tão fortes que ainda deu para segurar a onda por mais dois anos. Só dois anos, que acabam agora, na quinta-feira que vem. Ainda torço por um final feliz entre Jim e Pam. Torço também para que Dwight fique com Angela (dizem que haverá um casamento no último capítulo). Torço para que Oscar encontre um parceiro. Vou sentir falta de todos esses personagens. Foram meus colegas nos últimos oito anos. Como se diz nos e-mails de despedida quando algum funcionário abandona o escritório: o jeito é partir para novos desafios.

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