Por 19 anos, Marcos Vinícius Moreira Andrade, um discreto economista mineiro de 56 anos, desempenhou papel central nos mandatos do senador Gerson Camata (foto) a gestão do dinheiro, incluindo as finanças de sete campanhas eleitorais. Na semana passada, magoado por ter sido abandonado pelo senador, resolveu mostrar a cara. Em depoimento gravado, ele trouxe à cena o lado sombrio de campanhas eleitorais e de um gabinete parlamentar por onde circulam, afirma, mesadas de empreiteiras, recibos falsos de contas eleitorais e funcionários obrigados a pagar despesas do chefe com os salários do Senado.
Embora more em Vitória há quase três décadas, Marcos Vinícius Andrade afirma que os poucos que o conhecem se acostumaram a chamá-lo de "Marcos Camata", tamanha era a sua intimidade com o senador.
- Eu tinha a chave da casa dele. Era só abrir o portão. Não precisava tocar a campainha - disse.
A parceria, iniciada em 1986 foi rompida em 2005, quando o contador de Camata assumiu a presidência da Banestes Seguros, a seguradora do governo do estado. Após cumprir mandato de dois anos e meio, Marcos não foi reconduzido ao cargo. Ao procurar o antigo patrão, pedindo ajuda, a desilusão:
- Ele me recebeu em pé, apressado. Me tratou como eu o vi fazer, por 19 anos, quando dispensava as pessoas que não lhe agradavam.
Dois anos após a ruptura, o ex-caixa decidiu contar o esquema e abriu um bloquinho, diante do repórter, para revelar todas as supostas ilegalidades que viu acontecerem nos anos em que passou no escritório de Camata, como funcionário de sua total confiança.
Marcos pegou uma caneta e marcou alguns nomes de uma longa lista de prestadores de serviços da campanha de Camata ao Senado, em 2002. É uma lista oficial, apresentada à Justiça Eleitoral. À medida que ia fazendo as marcações, inclusive de seu próprio nome, o contador informava que essas pessoas não prestaram serviço algum. Pressionadas pelo senador, teriam apresentado recibo falso para "esquentar" quase R$ 200 mil de sobras de campanha eleitoral:
Depois de entregar a lista eleitoral ao repórter, Marcos voltou a consultar o caderno. Está escrito: "Odebrecht/Terceira Ponte". A anotação se refere a uma das maiores obras de engenharia civil do Espírito Santo, a ponte que liga Vitória a Vila Velha, cuja construção demorou 16 anos. Como governador, Gerson Camata deu um passo decisivo na história da ponte, em 1984, ao assinar contrato com a Odebrecht para concluir a obra.
- Minha ligação com Camata era tão grande que as pessoas falavam as coisas comigo como se estivessem falando com ele. Uma delas foi Silvio Peixoto, da Odebrecht, que uma vez apareceu no escritório do senador com um pacote de dólares - conta o ex-caixa.
Marcos afirma que, sem ser indagado, Silvio contou que o pacote guardava US$ 5 mil, fruto de um suposto acordo da empresa com o senador que garantiria a Camata uma espécie de participação nos resultados mensais da cobrança de pedágio.
A próxima anotação do caderninho dá a senha para a continuação da entrevista: "salário/condomínio". Marcos disse que, durante 13 anos seguidos, foi obrigado a reservar 30% de seu salário do Senado para o pagamento mensal de despesas pessoais de Camata.
- Quando fui nomeado, ele disse: "Marcos, você vai pagar umas contas". Paguei o condomínio do apartamento do senador, o IPTU, a luz e o telefone. Quando fui cobrar reembolso, tive uma surpresa. Ele disse que, todo o mês, eu teria de fazer aquilo. E sem reembolso.
O ex-caixa, responsável por quase duas décadas pelas finanças de Camata, aponta dois momentos dessa experiência em que diz ter testemunhado o uso indevido de verbas do Senado pelo político capixaba. Disse que o senador capixaba recebe auxílio-moradia mesmo tendo um apartamento próprio em Brasília. Também afirmou que Camata usou a verba indenizatória destinada a aluguel de carros para comprar um veículo, burlando a natureza do recurso.
Marcos disse ainda que Camata teria simulado o aluguel de um carro, um Golf GTI, avaliado em R$ 109 mil, quando na verdade estava comprando o veículo com a verba indenizatória do Senado.
Camata contesta denúncias e afirma que seu ex-assessor está perturbado
Camata negou todas as denúncias feitas por seu ex-contador. Ele disse que, além de magoado, o ex-colaborador enfrenta hoje problemas psicológicos que comprometeriam o teor de seu depoimento.
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Embora more em Vitória há quase três décadas, Marcos Vinícius Andrade afirma que os poucos que o conhecem se acostumaram a chamá-lo de "Marcos Camata", tamanha era a sua intimidade com o senador.
- Eu tinha a chave da casa dele. Era só abrir o portão. Não precisava tocar a campainha - disse.
A parceria, iniciada em 1986 foi rompida em 2005, quando o contador de Camata assumiu a presidência da Banestes Seguros, a seguradora do governo do estado. Após cumprir mandato de dois anos e meio, Marcos não foi reconduzido ao cargo. Ao procurar o antigo patrão, pedindo ajuda, a desilusão:
- Ele me recebeu em pé, apressado. Me tratou como eu o vi fazer, por 19 anos, quando dispensava as pessoas que não lhe agradavam.
Dois anos após a ruptura, o ex-caixa decidiu contar o esquema e abriu um bloquinho, diante do repórter, para revelar todas as supostas ilegalidades que viu acontecerem nos anos em que passou no escritório de Camata, como funcionário de sua total confiança.
Marcos pegou uma caneta e marcou alguns nomes de uma longa lista de prestadores de serviços da campanha de Camata ao Senado, em 2002. É uma lista oficial, apresentada à Justiça Eleitoral. À medida que ia fazendo as marcações, inclusive de seu próprio nome, o contador informava que essas pessoas não prestaram serviço algum. Pressionadas pelo senador, teriam apresentado recibo falso para "esquentar" quase R$ 200 mil de sobras de campanha eleitoral:
Depois de entregar a lista eleitoral ao repórter, Marcos voltou a consultar o caderno. Está escrito: "Odebrecht/Terceira Ponte". A anotação se refere a uma das maiores obras de engenharia civil do Espírito Santo, a ponte que liga Vitória a Vila Velha, cuja construção demorou 16 anos. Como governador, Gerson Camata deu um passo decisivo na história da ponte, em 1984, ao assinar contrato com a Odebrecht para concluir a obra.
- Minha ligação com Camata era tão grande que as pessoas falavam as coisas comigo como se estivessem falando com ele. Uma delas foi Silvio Peixoto, da Odebrecht, que uma vez apareceu no escritório do senador com um pacote de dólares - conta o ex-caixa.
Marcos afirma que, sem ser indagado, Silvio contou que o pacote guardava US$ 5 mil, fruto de um suposto acordo da empresa com o senador que garantiria a Camata uma espécie de participação nos resultados mensais da cobrança de pedágio.
A próxima anotação do caderninho dá a senha para a continuação da entrevista: "salário/condomínio". Marcos disse que, durante 13 anos seguidos, foi obrigado a reservar 30% de seu salário do Senado para o pagamento mensal de despesas pessoais de Camata.
- Quando fui nomeado, ele disse: "Marcos, você vai pagar umas contas". Paguei o condomínio do apartamento do senador, o IPTU, a luz e o telefone. Quando fui cobrar reembolso, tive uma surpresa. Ele disse que, todo o mês, eu teria de fazer aquilo. E sem reembolso.
O ex-caixa, responsável por quase duas décadas pelas finanças de Camata, aponta dois momentos dessa experiência em que diz ter testemunhado o uso indevido de verbas do Senado pelo político capixaba. Disse que o senador capixaba recebe auxílio-moradia mesmo tendo um apartamento próprio em Brasília. Também afirmou que Camata usou a verba indenizatória destinada a aluguel de carros para comprar um veículo, burlando a natureza do recurso.
Marcos disse ainda que Camata teria simulado o aluguel de um carro, um Golf GTI, avaliado em R$ 109 mil, quando na verdade estava comprando o veículo com a verba indenizatória do Senado.
Camata contesta denúncias e afirma que seu ex-assessor está perturbado
Camata negou todas as denúncias feitas por seu ex-contador. Ele disse que, além de magoado, o ex-colaborador enfrenta hoje problemas psicológicos que comprometeriam o teor de seu depoimento.
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- Chefe, essa é um senhora patuscada !
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