sábado, 29 de junho de 2013

A quem servem os partidos?, por W. Moreira Franco


W. Moreira Franco, Valor Econômico
Em seu "Dicionário de Política", o mestre italiano Norberto Bobbio, um dos maiores historiadores do pensamento político do século XX, resume assim as funções dos partidos: eles são "um instrumento importante, senão o principal, por meio do qual grupos sociais (...) podem exprimir as próprias reivindicações e as próprias necessidades e participar, de modo mais ou menos eficaz, da formação das decisões políticas".
Olhando para as ruas no Brasil neste mês de junho, é de se questionar em que parte da definição de Bobbio os partidos políticos brasileiros se encaixam. Muito se tem escrito sobre o movimento até agora, e tanto analistas quanto políticos ainda estão perplexos na busca de suas causas.
Um entendimento majoritário que emerge, porém, é que nada no sistema partidário brasileiro hoje reflete "as reivindicações e as próprias necessidades" dos manifestantes. A ponto de eles, repetidas vezes, terem pedido a militantes de partidos que guardassem suas bandeiras durante as passeatas.


De todos os bordões gritados nas ruas de São Paulo, Brasília, Rio, Fortaleza, Belo Horizonte e de tantas outras cidades, o "Não nos representam!" é o que mais confronta o regime vigente.
Como alguém que desde adolescente atua na política partidária e que hoje é um dos dirigentes nacionais do PMDB, sou obrigado a reconhecer o óbvio: a vida partidária brasileira descolou-se da sociedade e tornou-se largamente irrelevante.
Pior do que isso, o sistema político tornou-se um fim em si próprio, uma engrenagem girando em falso. Entendimentos político-partidários deveriam atender a programas, objetivos e conquistas da sociedade.
Hoje, no Brasil, tais entendimentos dão-se em torno de cargos, privilégios, benefícios, espaço, tudo isso desligado das políticas públicas que deveriam vir da base.
O direito de associação, pedra angular da democracia, passa a ser manipulado pelo nepotismo e pelo compadrio. Isso acaba por contaminar o processo eleitoral e o próprio ato de governar.
Coalizões eleitorais são formadas não em razão de afinidades ideológicas ou de conteúdo programático, mas do tempo de exposição na TV durante os horários eleitorais gratuitos - essa cobiçada commodity política dos nossos tempos.
O resultado inevitável é o desencantamento da sociedade com a política e os políticos, a descrença nas instituições, a desesperança no futuro.
Talvez as novas tecnologias estejam colocando o mundo no rumo de um redesenho completo da democracia.
O risco desse desencantamento é a criação de uma repulsa à participação política. Talvez as novas tecnologias estejam colocando o mundo no rumo de um redesenho completo da democracia; talvez isso aconteça ainda em nosso tempo de vida.


Um comentário:

Alberto disse...

O Sr. W. Moreira Franco chegou a estas conclusões após uma longa e aprofundada pesquisa ou será que foi um agente ativo na montagem do monstrengo descrito em seu cínico depoimento.