GERAL
Melissa de Andrade
Está lá na cartilha do departamento de trânsito: se bater em um veículo estacionado e o dono não estiver por perto, deixe um bilhete. E não é que o povo de Seattle deixa mesmo?
Não deveria ser motivo de espanto. Assumir responsabilidade sobre os danos causados não é só civilizado. É justo. Deixar o prejuízo que você causou para outra pessoa pagar e, por isso, se achar o maior esperto da parada é que deveria parecer surpreendente.
Honestidade no trânsito é característica de 67% dos motoristas de Seattle, diz pesquisa da empresa de seguros Pemco. Em caso de acidente e na ausência do dono do outro veículo, os condutores da região escreveriam nome e telefone em um pedaço de papel e deixariam em um local visível no carro danificado, como no para-brisas. Eu acho de bom tom colocar também um pedido de desculpas.
O Detran daqui ensina até a acrescentar data e hora, embora eu não entenda muito bem por que isso é relevante. A parte importante do recado é: “Assumo o que faço, mesmo quando eu tenho que pagar por isso”.
Foto: Chris Hearn @CC
Eu fui vítima de um fulano que integra os 33% dos que não têm consideração pelo bem alheio. O estacionamento era fechado e as vagas eram bem largas, mas o mau motorista conseguiu encostar no para-choque traseiro do meu carro, bem perto da roda. Encostar, não. Sabe aquele arranhão largo, de quem veio fazendo a manobra e foi levando a pintura do carro? Pronto. Mil e trezentos dólares para consertar. Não consertei. E só vi em casa, horas depois.
Poderia ter sido um conhecido meu. Ele se orgulha de ter escapado rapidinho quando encostou em outro carro. Depois de um segundo de hesitação, foi embora. “Ninguém viu mesmo”, justificou. Em alguns estados do país isso é considerado “abandonar local de acidente depois de colisão” e é passível de pena.
Na vizinha Portland, a chance de alguém fazer o mesmo é pouco mais de 50%, segundo a Pemco. Um total de 53% dos motoristas tende a deixar um bilhete avisando da imprudência. Não importa a competição que seja, se os números de Portland são piores do que os de Seattle, o povo daqui já fica felizinho.
Melissa de Andrade é jornalista com mestrado em Negócios Digitais no Reino Unido. Ama teatro, gérberas cor de laranja e seus três gatinhos. Atua como estrategista de Conteúdo e de Mídias Sociais em Seattle, de onde mantém o blog Preview e, às sextas, escreve para o Blog do Noblat.
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