João de Deus M. Barreto
A sociedade encontra-se perplexa diante da criminalidade de todos os matizes, máxime através de atos com requintes de perversidade praticados por menores, como ocorreu com os homicídios e estupros em SP e RJ.
Todos esses crimes foram praticados por menores prestes a completar 18 anos, o que significa que, de acordo com o que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente, ficarão, praticamente, apenas, três anos internados, sem qualquer condição de recuperação quando, pelos mesmos atos, o maior de idade está sujeito a uma pena de até 30 anos de reclusão.
Se não existe consenso para o rebaixamento da idade relativamente a todos os atos análogos a crimes, praticados por menores, que se a rebaixe somente aqueles atos correspondentes aos crimes hediondos.
Por outro lado, o argumento de que o pacto de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, impossibilitaria modificação constitucional, não tem lastro jurídico.
A redação constante do atual artigo 5º parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988 estabelece que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos devem ser aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos, para serem considerados emenda constitucional.
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Ora, essa modificação ocorreu aos 8 de dezembro de 2004, pela Emenda Constitucional nº 45. Logo, o pacto de São José da Costa Rica inserido na legislação pelo decreto 678 de 2/11/92, não tendo obedecido à exigência constitucional da aprovação por três quintos, passou a ostentar força normativa de lei ordinária e sem condições de vedar emenda constitucional.
A solução adequada é o rebaixamento para 16 anos, através de emenda constitucional, uma vez que o artigo 228 da Constituição Federal está inserido no capítulo da família, criança, adolescente e idoso, e não no elenco dos direitos e garantias fundamentais, previstos no seu artigo quinto, não constituindo cláusula pétrea.
O ministro da Justiça, ao invocar o artigo 60, § 4º da CF, comete equívoco, eis que a menoridade não é direito individual de que cuida a Carta Magna. Estes, entre outros, são o direito de ir e vir, o direito adquirido, o de expressão e informação, que constituem, sim, cláusulas pétreas, não a menoridade penal, perfeitamente suscetível de modificação constitucional.
Todavia, nenhuma providência resultará positiva se não for reestruturado, por completo, o sistema penitenciário, com a construção de novos presídios e instalações dignas e higienizadas próprias a uma pessoa humana, assim como a inclusão de salas de aula, capelas ecumênicas e, principalmente, cursos profissionalizantes. Isso significa preparar a ressocialização.
Do contrário, a inércia do Poder Público estimulará as agressões diuturnas, porque é a sua omissão que incentiva o sangramento da sociedade indefesa.
João de Deus Menna Barreto foi desembargador no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Um comentário:
O equívoco do Ministro da Justiça quanto ao entendimento do que é Cláusula Pétrea chega às raias de um crime hediondo.
Este Ministério forte candidato ao pior de todos os tempos, fica mais pobre quando o Ministro da Justiça se equipara aos Mantegas e Lobões da safra Dilma.
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