Protestos são momentos de rara comunicação sem interferência entre governantes e eleitores. Ao quebrar os protocolos e subverter as hierarquias, as vaias deixam claro ao político sua subordinação ao mandato popular.
O coro entoado no estádio Mané Garrincha sábado, assim como as manifestações que surgiram desde então, revelam a futilidade de se tentar mascarar a percepção geral sobre o desempenho do poder público.
No caso do Mané Garrincha, a reação dos governistas foi desdenhar da qualidade das pessoas ali presentes. “Vaia de playboy não vale”, disse um deputado, “Não é essa a turma da Dilma e do Lula”, resumiu um senador.
Não creio que medir o valor do eleitor pela renda seja algo adequado. Também duvido que a turma “da Dilma e do Lula” fosse a do lado de fora, que protestava contra os bilhões de reais em investimentos mal empregados.
Enquanto a realidade desmascara o artificialismo do discurso oficial, o governo segue fazendo pouco e reclamando muito. Só que essa vitimização ressentida, dos velhos do restelo ao terrorismo informativo, não comove mais ninguém.
Acuado pelo descontentamento, o governo montou seu “gabinete de crise” como era de se esperar: buscou refúgio na sombra de Lula e no marqueteiro João Santana. “Onde não somos governo temos que estimular a militância a estar junto desse movimento”, disse um deputado petista.
O fato é que a crítica geral recai sobre as prioridades e os costumes políticos. O dinheiro público vazando pelos canos e o segundo plano ocupado pelos problemas cotidianos estão no centro dos protestos.
Daí, é natural que a foto da presidente entre Joseph Blatter e José Maria Marin, num estádio que custou 87% a mais que o previsto, saia borrada de vaias. As manifestações têm como alvo, antes de tudo, esses teatros do poder.
José Aníbal é economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP) e secretário de Energia de São Paulo.
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