quinta-feira, 9 de maio de 2013

Para a preservação do Jardim Botânico


|   Brasília, 8 de maio de 2013
 (Editorial)
O Globo

O anúncio da delimitação do Jardim Botânico, feito ontem pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, revelou-se uma positiva surpresa. Com boa parte da área do parque comprometida, ao longo das três últimas décadas, por invasões de toda sorte, o futuro da instituição como centro de pesquisas e de preservação botânicas parecia comprometido por uma crescente degradação. Tudo resultado da ocupação de suas terras por casas que ex-funcionários transformaram em capitanias hereditárias, favelas e até estabelecimentos públicos.
A surpresa ficou por conta da corajosa decisão do governo federal de remover todas as famílias que moram na área delimitada. Foi o procedimento mais acertado, em razão do imbróglio jurídico em que esta questão está plantada. 
E também porque imprime forte dose de desoxigenação às ações do grupo do PT fluminense que, com trânsito em órgãos oficiais aparelhados pelo partido, como o Serviço do Patrimônio da União (SPU), vinha solapando todas as tentativas de retomada das terras do Jardim Botânico.


A atuação do SPU e da Advocacia-Geral da União (AGU) tem sido um infeliz capítulo à parte neste período em que o Jardim Botânico luta contra a degradação. Criados para defender os interesses do Estado, esses dois órgãos levantaram toda sorte de obstáculos, contrariando as próprias finalidades, para postergar medidas que visavam à retomada de posse de áreas invadidas.
Chegaram ao ponto de se insurgir contra a Justiça, deixando de cumprir sentenças que determinavam a retirada dos invasores. Essas sucessivas manobras para blindar os ocupantes ilegais custaram, inclusive, a saída do presidente do parque, Lizst Vieira. Desgastado em toda esta luta, ele próprio do PT, pediu demissão.
Na prática, por todo este período o que se tem visto no JB é uma deletéria privatização de uma área pública. E de um sítio histórico, criado por Dom João VI no bojo das grandes transformações por que passou o Rio em razão da vinda da família real para o Brasil no início do século XIX.
O Jardim Botânico precisa de espaço para suas atividades — cultivar árvores ameaçadas de extinção, fazer pesquisas botânicas, preservar o bioma brasileiro. Há planos oficiais, inclusive, de aumentar a quantidade de convênios com entidades acadêmicas para incrementar os estudos. As ocupações ilegais inviabilizam a expansão do parque.
Com a delimitação, serão removidas as famílias e permanecem no parque apenas uma escola, uma subestação da Light, a Embrapa e uma unidade do TRE. A do Serpro será desativada. Com isso, o governo estabelece um ponto inflexível para defender esta área da União.
Agora, Brasília precisa manter a mesma determinação numa previsível briga jurídica e resistir às pressões políticas, para ratificar as medidas ontem tomadas e fazer o Jardim Botânico dar mais retorno à sociedade, que nele investe recursos públicos.

Um comentário:

Crismélia Litúrgica disse...

Não sei se a casa da irmã do deputado Edson (o que não tem nada de Arantes de Nascimento, nem muito menos de Pelé, pois só faz gol contra) está entre as que vão sair do Jardim Botânico. Se permanecerem, então esse deputado tem bala na agulha, pois, agora, n~~ao teve aparelhamento que aguentasse essa vergonheira!