- Bayern e Borussia Dortmund, que nesta terça enfrenta o Real Madrid, estão na moda no país que dita as regras na Europa
BERLIM - A partir da compreensível euforia pelas contundentes vitórias sobre Barcelona e Real Madrid — bichos-papões do futebol europeu batidos fragorosamente por 4 a 0 e por 4 a 1 nas partidas de ida da semifinal da Liga dos Campeões, respectivamente contra Bayern de Munique e Borussia Dortmund —, o futebol alemão começa a enxergar no horizonte resultados ainda mais expressivos. O próprio treinador da seleção nacional, Joachim Löw, aproveitou a onda de alegria para afirmar que sua seleção tem chances concretas de conquistar a Copa do Mundo do próximo ano, no Brasil.
— A Alemanha pode se medir com qualquer um — garantiu ele.
O desempenho dos dois principais clubes do país dá razão ao técnico. Borussia e Bayern precisam ainda jogar uma vez, cada um, contra os dois times espanhóis — nesta terça-feira o clube de Dortmund enfrenta o Real Madrid no Estádio Santiago Bernabéu, enquanto os atuais campeões alemães reencontram o Barcelona nesta quarta-feira, no Camp Nou. Ambos podem até perder que ainda assim chegarão à decisão do principal torneio de clubes do planeta. Só não podem ser goleados. Portanto, salvo viradas históricas, a final, dia 25 de maio, no mítico Wembley, em Londres, será exclusiva dos alemães.
Escola de talentos
Aliás, o desfecho provável da competição continental está criando um problema para a seleção alemã. No próximo dia 16, a Alemanha viajará para os Estados Unidos, onde fará dois amistosos em Miami — contra o Equador e os donos da casa —, e Löw terá dificuldade para preencher os lugares no avião. Afinal, 13 dos 22 jogadores são do Bayern e do Borussia. Para o ex-jogador Paul Breitner, que formou a equipe liderada por Franz Beckenbauer campeã mundial em 1974, o futebol alemão tem atualmente seus melhores talentos em todos os tempos — oito deles do Bayern onde Breitner e Beckenbauer fizeram história. E o melhor da atualidade é, segundo o ex-jogador, Mario Götze, de apenas 20 anos, destaque do Borussia Dortmund.
O craque do Dortmund, que estreou na seleção com apenas 18 anos, foi contra o conselho do avô e do pai, que queriam que ele permanecesse no Borussia, e aceitou a oferta de Munique. Os torcedores do time preto e amarelo ficaram furiosos com a transferência para o maior rival. Consideram que Götze traiu o clube e seus fãs. O jogador se defende: diz que a possibilidade de trabalhar com o treinador espanhol Pep Guardiola, ex-Barcelona, foi determinante.Com Götze, Thomas Müller (Bayern), Sami Khedira ou Mesut Özil (ambos do Real Madrid), Löw tem realmente uma das melhores seleções desde a que conquistou o titulo em 1974. Götze acaba de ser contratado pelo Bayern por €37 milhões, segunda maior transferência da história do futebol alemão.
— Mario Götze já é um ícone como Franz Beckenbauer — exagera o jornalista Oskar Beck, do jornal “Die Welt”.
Para Guardiola, Götze é tão talentoso quanto o argentino Lionel Messi. Já Löw acentua a capacidade de Götze de “fazer truques com a bola”. No jogo contra o Real Madrid, os gols do Borussia foram todos do centroavante polonês Robert Lewandowski, que também deverá jogar na próxima temporada no Bayern.
A nova onda de predomínio do futebol alemão surpreende por acontecer somente uma década depois de o país ser eliminado da Eurocopa ainda na primeira fase, gerando um debate nacional sobre a escassez de talentos. Àquela época, a equipe também tinha Bayern e Borussia como base, mas era o time mais idoso de toda a história da seleção, com 30 anos de média.
Novos talentos, como Götze, descobertos ainda na adolescência, materializaram-se graças a um programa da Federação Alemã, que organizou uma rede nacional de escolas de futebol, que custa aos cofres do governo € 10 milhões por ano. Quase todos os jogadores alemães dos dois times que estão a caminho da final da Liga dos Campeões — além de Khedira e Özil, do Madrid — moldaram seus talentos em uma das escolas de futebol, que funcionam também como internatos, onde as crianças têm as aulas normais de matemática, inglês, etc. Mas o futebol, claro, é a disciplina mais importante.
Os novos ‘brasileiros’
Depois do “wir sind Papst”, como os alemães manifestavam seu orgulho pelo Papa Bento XVI, o novo slogan repetido como uma ladainha nos comentários dos jornais e das emissoras de TV é o “wir sind besser” (“nós somos melhores”), no futebol.
— Os alemães jogam como os brasileiros de antigamente — exalta o filósofo e professor de esporte Gunter Gebauer, da Universidade Livre de Berlim.
Em plena crise da zona do euro, a economia alemã vai relativamente bem, se comparada com os países vizinhos, alguns com taxa de desemprego de 27%, caso justamente da Espanha, dos poderosos Real Madrid e Barcelona. Mas, com um teimoso clima de tensão sobre os possíveis desfechos da crise, o futebol e o sucesso da seleção e dos times alemães unem pessoas de todas as classes.
— A seleção alemã joga agora de forma bonita e mágica. Como faziam os brasileiros — sublinha Gebauer.
Segundo ele, há altos e baixos na importância do futebol para o país. O auge da escala foi na Copa do Mundo de 1954, disputada na Suíça. Foi quando aconteceu o “Milagre de Berna”, a vitória de 3 a 2 sobre a quase imbatível Hungria na final do Mundial. A conquista ajudou os alemães a sair da ressaca moral da Segunda Guerra. Já nos anos 1970 e 80, o futebol era mais uma ocupação das massas, apesar de vitória na Copa que o país sediou, em 1974. A partir de 1990, quando a Alemanha foi de novo campeã mundial, a elite alemã também foi fisgada pelo futebol. E, se não acontecerem zebras históricas hoje e amanhã, a paixão seguirá em alta.
Um comentário:
Respeitando sempre os deuses do futebol,a Alemanha é forte candidata à próxima Copa.
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