quinta-feira, 2 de maio de 2013

Cartas de Berlim: Berlim, cidade dividida, por Tamine Maklouf



Estive semana passada em Berlim e conferi o panorama “Die Mauer” (O Muro), do artista austríaco de ascendência persa Yadegar Asisi.
E como toda vez em que mergulhamos nos detalhes da história do muro e, principalmente, das pessoas que ficaram presas atrás dele, me coloquei a pensar sobre várias histórias que ouvi desde que cheguei aqui em Dresden, de pessoas muito próximas a mim, até.
Famílias do Leste conseguiam migrar para o Oeste na década de 80 em perigosas viagens em trens clandestinos. Era arrumar a mala, dar banho nas crianças, ir para a estação e pular dentro sem nenhuma garantia de que fossem chegar do outro lado. Muitas chegaram, nunca mais voltaram para o Leste e hoje fazem pouco dos costumesossis.
Só havia lápis de cor em três cores, sorvete em dois sabores, e muitos produtos “genéricos” inclusive um Nutella ossi (Nudossi, muito bom, aliás).
No panorama de Asidi vê-se um negócio muito pitoresco: no lado Oeste, uma escada com uma espécie de mirante, mata a curiosidade dos wessis que querem dar uma espiadinha para saber “como é lá dentro”. É claro que eles podiam ir, se quisessem. Mas ninguém tinha lá muita vontade.
O que se vê é uma cidade dividida. A capital das duas Alemanhas recebia dinheiro, muito dinheiro dos Estados Unidos de um lado e da URSS de outro, para que crescesse opulente e exemplar como toda capital.

A RDA, por Harald Hauswald

Na arquitetura o que se vê é a dramática diferença entre o moderno e o concretão cinza comunista. Mas para sentir o peso e esplendor da arquitetura soviética, percorri andando a avenida Karl-Marx-Allee e vi que eles também podiam criar coisas exuberantes. Aquela amplidão da avenida outrora chamada Stalinallee, me lembrou Brasília.
Lembrei também, enfim, de uma galeria que vi um dia desses do fotógrafo Harald Hauswald, um ossi que é conhecido por suas fotografias de rua. O tema era a vida no Leste e nada como alguns cliques do cotidiano, bem como não se quer nada, para captar a atmosfera de uma época.
Ninguém merece viver em uma ditadura. Ninguém.

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