Como a Ivana da novela de João Emanuel Carneiro, Letícia Isnard recebeu, pela primeira vez, uma chance maior na televisão. Sorte do público. Não que a atriz seja uma estranha total para o telespectador: recentemente, ela apareceu em “Tapas & beijos” e “A grande família”. Antes disso, teve um papel fixo em “Minha nada mole vida”, a atendente da portaria do hotel onde a ação se passava. Ivana, entretanto, é sua personagem mais complexa na teledramaturgia até hoje e integra o núcleo principal do folhetim.
O humor é uma das especialidades de Letícia, e Ivana permite que ela mostre essa faceta. Vítima de um golpe do baú, a moça feia, que os pais nunca acreditaram que fosse encontrar um par, tem divertidas cenas com Marcello Novaes. Os dois repetem a mesma litania infantilizada — se apelidaram mutuamente de “Bebê” e se referem um ao outro usando tatibitate. A coisa não é, porém, totalmente cômica porque há implícita uma alta dose de crueldade da relação do malandro com a empresária. Ele desvia dos acenos sexuais dela, enquanto tenta arrancar um ou outro trocado. Ivana é carente e relativamente ingênua, mas não abobalhada. Além disso, como é dona da fortuna, tem poder. Com isso, não é apenas a graça dos diálogos que atrai o público para esta trama. Ivana e Max usam um vocabulário de criança, mas seu enredo é dos menos infantis.
Letícia é talentosa e experiente em outras praias e há anos brilha nos palcos com o grupo Os Dezequilibrados. “Avenida Brasil” tem duas finalistas no último Prêmio Shell de teatro: Vera Holtz (a mãe Lucinda) e ela. Nenhuma levou o troféu, mas as indicações também dizem muito do nível do elenco da novela.
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