sábado, 26 de maio de 2012

A Saída da Crise é conjunta - José Dirceu



A saída para a grave crise que a cada dia se aprofunda mais na Grécia é mesmo o país deixar a zona do euro?
Esse tem sido o principal questionamento que cerca a situação europeia, como se a opção grega por deixar ou manter-se sob o arco do euro tivesse, de fato, o poder de dissolver a crise. Mais uma vez, o debate está fora de lugar.
O debate que pode realmente modificar o panorama econômico e social no Velho Continente –e, por decorrência, mundial– foi introduzido indiretamente a partir das quedas e trocas de governo nos últimos meses, mais especialmente após a eleição na França: a situação de gravidade econômica só será superada se outras políticas forem adotadas.
Um caminho que encontra nas ruas, nas manifestações e protestos da população, nas urnas, seu maior apoio.
É preciso reconhecer que a solução está mais no campo da política – e isso não significa defender o abandono de instrumentos técnicos a balizar a condução da economia. Pelo contrário: há instrumentos de sobra para sentenciar que é ineficaz e nocivo o modelo de austeridade exigido pela Alemanha como receita para os demais países superarem a crise.
Primordialmente, porque o resultado é a recessão, comprometimento da atividade econômica e alto níveis de desemprego. E a população dos demais países já mostrou que não está disposta a pagar esse preço injusto.
Para piorar, a Alemanha é a única nação a registrar crescimento, o que permite concluir que o modelo em curso provoca desigualdades internas à zona do euro. A "solução" de retirar a Grécia do euro - ou o país decidir sair, por decisão popular - é altamente arriscada para ambas as partes.
É certo que a Grécia passaria a ter moeda própria, instrumento que seria usado para desvalorizar o câmbio, estimular as exportações e o crescimento e ampliar as possibilidades de equalização do endividamento grego - hoje, o país tem cerca de 1,5 PIB em dívidas.
Mas esse caminho traria consigo um cenário de superinflação, além da perda de credibilidade e confiança, podendo significar um custo mais elevado do que se imagina, com o prolongamento da crise. 

José Dirceu66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do Diretório Nacional do PT

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