sábado, 19 de maio de 2012

A Guerra contra o Crack


Operação marca início de projeto piloto do governo federal para tratar usuários da droga no Catete e em bairros vizinhos



Policiais ocupam o Morro Santo Amaro, no Catete, em ação contra o crack
Foto: Fernando Quevedo / O Globo
Policiais ocupam o Morro Santo Amaro, no Catete, em ação contra o crackFERNANDO QUEVEDO / O GLOBO
RIO - As polícias civil e militar ocupam, desde o final da madrugada desta sexta-feira, o Morro Santo Amaro, no Catete. Nenhum tiro foi disparado, e após cerca de 20 minutos os policiais já consideravam a favela ocupada. Ninguém foi preso e alguns usuários de crack foram recolhidos. O objetivo é ocupar a comunidade para a entrada de 150 homens da Força Nacional, que permanecerão por tempo indeterminado no local para que a Secretaria municipal de Assistência Social (SMAS), instale na comunidade um projeto piloto para atender usuários de crack que se espalham pelas ruas do bairro, além de Glória, Flamengo e Botafogo. Com 200 assistentes sociais, psicólogos e educadores, o posto é parte do convênio assinado em dezembro do ano passado com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, dentro da campanha “Crack, é possível vencer”, do governo federal.

No Morro Santo Amaro, vivem 1.500 famílias (aproximadamente cinco mil pessoas), das quais 473 recebem auxílio em programas dos governos federal (Bolsa Família) e municipal (Família Carioca). Um contêiner ficará na parte baixa da favela e dois serão instalados no alto. O atendimento será estendido a toda a região. Segundo a secretaria de Assistência Social, o Santo Amaro é umas das 11 cracolândias da cidade do Rio de janeiro. Equipes da SMAS instalarão três contêineres no alto do morro e em um dos acessos à comunidade. O projeto prevê que psicólogos, assistentes sociais e educadores do município trabalhem 24 horas. Participam da ocupação, homens do 2º BPM (Botafogo) e as Delegacias de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de Combate às Drogas (DCOD), da Criança e Adolescente Vítima (DCAV), além da 9ª DP (Catete).— A droga passou a atingir mais pessoas, de diversos perfis, o que demanda uma ação integrada. Vamos instalar um posto permanente no Santo Amaro, atendendo usuários e assistindo seus parentes — afirmou o secretário municipal de Assistência Social, Rodrigo Bethlem, coordenador do projeto no Rio.
— A Força Nacional permanece no local por prazo indeterminado e nós também. Vamos levar saúde e assistência social a uma região carente. Teremos equipes volantes agindo no morro e no asfalto. Vamos recolher as crianças e os adolescentes, levando-os para as nossas casas de acolhimento. E convidaremos os adultos — disse Bethlem.
A presença de policiais da Força Nacional num programa de saúde é parte do projeto, que prevê, além de ações de saúde, operações de segurança e de inserção social.
— Já estamos encontrando nas ruas pessoas de classe média dependentes de crack, mas a grande maioria dos usuário é pobre e tem baixa escolaridade. Cinquenta por cento deles são de fora do Rio: vieram dos municípios da Região Metropolitana, do interior, de cidades que ainda não têm um programa de tratamento — observou o secretário municipal.
O convenio da prefeitura e do Ministério da Saúde envolve também ações do governo estadual. Serão criados no estado 427 leitos e qualificados outros 71 (totalizando 498) em enfermarias especializadas em pacientes dependentes de álcool e drogas. Esses leitos serão destinados a internações de curta duração. Além disso, haverá 77 novas unidades de acolhimento, sendo 57 destinadas ao atendimento de adultos e 20 para crianças e adolescentes. A previsão é de um investimento total, segundo Bethlem, de R$ 40 milhões em toda a cidade.
No programa estão previstas ainda ações de segurança pública, com operações policiais concentradas nas divisas do estado e em cracolândias, onde serão instaladas câmeras. Segundo o ministro da Justiça, a ideia é identificar e prender quadrilhas de traficantes. O Rio receberá cem câmeras, cinco bases móveis de videomonitoramento, 15 veículos e 200 profissionais de segurança pública. O total de investimento federal nesse sistema será de cerca de R$ 9 milhões.

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