
Na semana passada, numa divertidíssima cena de “Avenida Brasil”, Leleco (Marcos Caruso) expressou para Diógenes (Otávio Augusto) sua preocupação com o suposto meio-irmão de Tessália (Débora Nascimento). A moça garantiu que ele era gay, mas não o convenceu. Tudo porque o sujeito não preenche os requisitos que Leleco considera indispensáveis. Foi como disse, indignado, a Diógenes: “Ele queria me ensinar a fazer chuleta na brasa. Agora comenta futebol. Me diz, isso lá é um gay que se apresente?”. Igualmente confuso, o amigo ponderou, apelando para os motivos de força maior: “Concordo que é uma coisa meio estranha, mas o mundo está mudando, faz frio no verão, faz calor no inverno. Tem homem que dança balé e não é gay. Tem gay que comenta futebol. Temos que aceitar...”.
Em “Avenida Brasil”, o que para o malandro é um axioma indiscutível — gay não comenta futebol nem sabe fazer churrasco — para parte do público soa apenas como caricatura. E nessa história, a caricatura em evidência é a do machista incorrigível, do pensamento conservador, da boçalidade e até da ingênua ignorância. Os personagens homossexuais desta vez — diferentemente do que ocorreu em outras novelas — passam longe da representação burlesca. É o caso de Roni (Daniel Rocha). Sem lição de moral, sem militância nem campanha, “Avenida Brasil” prefere o caminho do humor refinado. E, como todo mundo sabe, o humor é uma ótima via para a reflexão. E o refinamento não tira pedaço de ninguém.
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