Empresa bate recorde de ações na Bolsa, já vale US$ 104 bilhões, mas alta foi só de 0,6%
NOVA YORK e RIO — Em meio à crise econômica global e após cinco meses de especulações, o Facebook finalmente encarou o mercado de capitais e fez na sexta-feira sua estreia na Nasdaq por meio de uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A Nasdaq é a bolsa de valores que concentra empresas de alta tecnologia em Nova York. Mas as ações da rede social de 901 milhões de usuários subiram bem menos que o esperado pelos investidores — houve quem apostasse em valorização de 50% — e fecharam quase estáveis, a US$ 38,23, uma diferença de apenas US$ 0,23 em relação ao valor inicial fixado de US$ 38. A rede social levantou US$ 18,4 bilhões no mercado, com lote suplementar de ações: foi o terceiro maior IPO da história americana e o maior do setor de tecnologia.
Com o preço de fechamento multiplicado por pouco mais de 573 milhões de ações (recorde, o número anterior era da General Motors, e 2010), a fatia de Mark Zuckerberg vale US$ 19,3 bilhões, o que o torna mais rico do que os fundadores da Google, Sergey Brin e Larry Page, no ranking de bilionários da Bloomberg. Já o Facebook teve seu valor de mercado avaliado em US$ 104,54 bilhões, acima da Amazon.com e maior que os valores combinados de empresas como Hewlett-Packard (HP) e Starbucks.
Na sede do Facebook em Menlo Park, na Califórnia, o fundador e presidente-executivo da rede social, Mark Zuckerberg, ao lado da vice-presidente operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, acionou remotamente a campainha que anunciou a abertura de capital da empresa na Nasdaq, por volta das 11h45min, cercado por funcionários e vestindo jeans e moleton.
Logo de início, um grande volume de ordens de compra e venda causou problemas técnicos no sistema da Bolsa, o que atrasou as operações em 30 minutos. As ações do Facebook começaram a ser negociadas com alta de 12%, cotadas a US$ 42,5, segundo a Nasdaq. Houve lances de US$ 45 (alta de 18%), mas a ação fechou com alta de apenas 0,61%.
LinkedIn e Groupon se saíram melhor
O desempenho foi muito inferior ao previsto por analistas, que previam valorização de até 50% dos papéis do Facebook, baseados em aberturas anteriores de capital de empresas como LinkedIn e Groupon, que tiveram altas respectivas de até 170% e 50% em suas estreias.
— Temos algumas pessoas infelizes aqui — disse Wayne Kaufman, estrategista-chefe de mercado da John Thomas Financial, uma corretora de varejo em Wall Street. — Elas estavam esperando que o Facebook se saísse consideravelmente melhor.
Analistas culparam, entre outras razões, a fraqueza do mercado acionário de modo geral pelo IPO morno. A decisão da General Motors, esta semana, de desistir de anunciar na rede social também pesou. E mesmo os problemas na Europa contribuíram: a especulação sobre a saída da Grécia da zona do euro tirou US$ 1 trilhão do mercado americano nas últimas semanas, de acordo com dados da Bloomberg.
Poucos minutos depois do início das operações, a alta nas ações já era de 5%, com papéis negociados a US$ 40, que seguiram com preço instável. A situação afetou resultados de outras empresas, como Zynga, cujas ações recuaram 13%, atingindo seu patamar mais baixo, a US$ 7,17, e LinkedIn, cujas ações se desvalorizaram 6%. A própria Nasdaq fechou o dia em baixa de 1,24%.
— Isso é o que acontece quando você precifica algo 100 vezes mais que os ganhos — comentou Barry Ritholtz, diretor executivo da consultoria FusionIQ.
Valor de mercado pós-IPO supera o de empresas como Amazon
O valor de mercado do Facebook pós-IPO, de US$ 104,54 bilhões, supera o de outras empresas, como Amazon (US$ 100,3 bilhões), GM (US$ 34 bilhões) e Yahoo! (18,3 bilhões). Mas o Face ainda está longe de gigantes como Apple (US$ 498,9 bilhões), Exxon (US$ 384,5 bilhões), Microsoft (US$ 252 bilhões) e Google (US$ 206,2 bilhões).
Segundo operadores, a forte oscilação das ações da rede foi característica de aberturas de capitais com grande demanda pelos investidores.
— Como nem todos os interessados em comprar as ações devem ter sido atendidos na oferta, o início foi marcado por uma grande procura por esses compradores, o que valorizou os papéis — explicou um operador da bolsa. — Pouco depois da abertura, os papéis chegaram a subir mais de 10% por causa dessa grande procura. Os investidores percebem, então, que têm um ganho fácil nas mãos e começam a vender tudo e embolsar os lucros. Isso faz com que os papéis voltem à estaca zero. Mesmo assim, quem participou da oferta ganhou o equivalente a um ano de renda fixa em aproximadamente 30 minutos.
De acordo com os especialistas brasileiros, esse movimento inicial ainda diz pouco sobre o que se pode esperar da empresa no mercado de ações.
— É preciso esperar passar esse turbilhão de operações, especulações, para ver os rumos reais que a ação vai tomar — diz um gestor.
Segundo o “Wall Street Journal”, o sistema que exibe o preço das ações na Nasdaq travou por problemas no cancelamento e alteração de pedidos, devido ao grande número de interessados. Durante a tarde, a Nasdaq enviou um e-mail aos investidores sobre a falha. “A Nasdaq está investigando um problema na entrega de pedidos no símbolo FB (de Facebook), e trabalha para entregar essas execuções de volta aos clientes o mais rápido possível”, disse.
A Securities and Exchange Commission (SEC), órgão regulador do mercado americano, também demonstrou preocupação com as falhas na Nasdaq. Um porta-voz da SEC, John Nester, disse que uma comissão “vai analisar o incidente para determinar causas e as medidas a serem tomadas”.
Um comentário:
Para que serve o Facebook?
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