De uns anos para cá, o sistema político brasileiro passou a funcionar com um elemento adicional de imprevisibilidade. E de grande importância, pois deriva do modo como atua seu principal personagem.
Até então, todo mundo achava que conseguia entender Lula muito bem. Havia quem se considerasse Ph.D na matéria, capaz de decifrar cada um de seus gestos à luz do que fizera no passado.
Quem, por exemplo, era versado nas minúcias da vida sindical paulista nos anos 1970 explicava o que ele fazia com base naquelas experiências. Se isso, era porque tinha acontecido aquilo; se o oposto, porque assim ocorrera em um dia determinado.
Tendíamos a avaliar que o Lula do movimento sindical era basicamente o mesmo do presente. Com um ajuste aqui, outro acolá - e as mudanças inevitáveis da idade -, sua persona política tinha sido ali formada e estava pronta.
Um exemplo de quanto mudou é seu papel na CPI do Cachoeira. Tudo que ele fez foi surpreendente – para amigos e inimigos.
Um exemplo de quanto mudou é seu papel na CPI do Cachoeira. Tudo que ele fez foi surpreendente – para amigos e inimigos.
A hipótese de que queria lançar uma cortina de fumaça no julgamento do mensalão é pueril. Equivale a imaginar que os ministros do Supremo Tribunal Federal são tão voláteis nas convicções que modificariam seus votos porque o deputado fulano - ou o governador sicrano - estão enrolados nos negócios do bicheiro.
Conhecendo como conhece o STF - e tendo escolhido vários de seus integrantes –, ninguém precisaria dizer a Lula que a CPI poderia acabar tendo o efeito inverso, se fosse feita somente para atrapalhá-lo.
Outros que se creem entendidos em Lula interpretaram sua disposição de viabilizar a CPI como uma clássica forma de defesa: partir para o ataque, sem aguardar a investida do adversário. Seria na tentativa de se proteger do desgaste que o julgamento do mensalão lhe traria que teria levado o PT a apoiá-la.
Quem elabora essas fantasias não deve conhecer a imagem que Lula tem hoje.
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