Vitória de sociais-democratas em estado estratégico revelaria rejeição a planos de austeridade
BERLIM - As eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestfália terminaram em desastre para a União Democrata Cristã (CDU), a legenda da chanceler federal, Angela Merkel. O partido obteve apenas 26,3% dos votos, um resultado 8 pontos percentuais inferior ao da última votação — no seu pior desempenho na região desde a Segunda Guerra Mundial.
O candidato de Merkel, Norbert Röttgen, admitiu a derrota e disse que deixaria a liderança do partido no estado. Röttgen, o ministro do Meio Ambiente que deve visitar o Rio em junho para participar da Rio+20, tentou relativizar o resultado como uma derrota pessoal:A derrota, a décima-primeira em votações locais para a legenda, foi interpretada como uma rejeição às políticas de austeridade defendidas pela chanceler e deve fortalecer a oposição a seu governo — nos campos interno e externo — e aumentar a incerteza sobre o futuro da região em um momento crítico da crise de dívida. O Social-Democrata (SPD) foi o grande vencedor, com 39,1% dos votos, de acordo com os resultados preliminares.
— Este foi um dia amargo para nós. Sofremos uma clara e decisiva derrota.
Junto com os votos do Partido Verde, os sociais-democratas, liderados pela economista Hannelore Kraft, poderão formar uma coalizão de esquerda com 50,4% dos votos e governar a Renânia do Norte-Vestfália sem maiores dificuldades.
O estado mais populoso do país, com uma população maior do que a da Holanda e uma economia do tamanho da Turquia, abriga um em cada cinco alemães e tem importância estratégica. Foi nesse estado que a grande derrota do Partido Social Democrata em 2005 ajudou a abrir caminho para a ascensão de Merkel como chanceler federal. Em setembro de 2013, ela tentará conquistar um terceiro mandato na votação nacional. E tudo indica que o caminho até lá será mais difícil do que se esperava. O resultado dificultou também as chances da União Democrata Cristã de escolher um sucessor para Merkel. Se Röttgen tivesse passado no teste das urnas, seria um dos mais cotados.
Vencedora pode se tornar rival de chanceler
O mais novo revés para a chanceler federal não poderia ter ocorrido em hora pior. Merkel acaba de testemunhar a vitória do socialista François Hollande, na França, que já se disse pronto a renegociar o pacto fiscal, o ponto central da política alemã de combate à crise do euro. E na Grécia, os eleitores deram uma surra nas urnas nos partidos favoráveis a novos sacrifícios para a população conforme o previsto no acordo fechado com a União Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. A defesa do corte de gastos e de pôr as finanças em ordem tem acolhida cada vez menor entre os eleitores, em busca de soluções que resgatem o crescimento econômico.
As derrotas locais já se traduzem em dificuldade para emplacar leis. O governo de aliança entre a União Democrata Cristã e o Partido Liberal Democrata (FDP) perdeu a maioria no Conselho Federal, formado por representantes dos governos estaduais. Na semana passada, o conselho bloqueou uma decisão do governo de acabar com o subsídio para a energia solar. A situação atual da chanceler foi definida por Jasper von Altenbochum, do jornal “Frankfurter Allemeine Zeitung”, como a de “um gigante que cambaleia”.
Além do avanço da coalizão de esquerda formada pelos sociais-democratas e verdes, a Renânia do Norte-Vestfália confirmou também o sucesso do Partido Pirata, uma nova agremiação que defende a internet livre e a transparência na política. A legenda obteve 7,8% dos votos e conseguiu ingressar no quarto Parlamento estadual depois de Berlim, Sarre e Schleswig-Holstein.
— No próximo ano, conquistaremos o Parlamento federal — disse Joachim Paul, líder da legenda em Düsseldorf.
Na Casa Willy Brandt, a central do Partido Social-Democrata em Berlim, a vitória na Renânia do Norte-Vestfália foi comemorada com cerveja e salsicha ao molho curry (Currywurst), muito apreciado, em alusão a um cartaz da campanha eleitoral de Hannelore que teve o slogan mais popular na internet: “Currywurst é como o SPD”.
Com a vitória de ontem, a economista Hannelore Kraft passou a ser vista também como uma opção do seu partido como candidata para desafiar Merkel no próximo ano. Sete anos após a derrota do ex-chanceler Gerhard Schroeder, com uma política contra a austeridade, os sociais-democratas voltam a ter chance de regressar ao poder, mas ainda não há decisão sobre o candidato. Hannelore, que segundo analistas teria condições de derrotar a atual chanceler, já afirmou que pretende cumprir o seu mandato à frente do governo da Renânia do Norte-Vestfália.
Um comentário:
Nada como uma verdadeira democracia para botar os pingos nos ii.
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