quinta-feira, 3 de maio de 2012

Cachoeira queria eleger Demóstenes


Em gravações da PF, bicheiro e vereador dizem precisar de alguém com ‘poder na mão’


Cachoeira queria Demóstenes Torres como prefeito de Goiânia
Foto: Agência Senado / Waldemir Barreto
Cachoeira queria Demóstenes Torres como prefeito de GoiâniaAGÊNCIA SENADO / WALDEMIR BARRETO
BRASÍLIA - Gravações interceptadas pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça mostram o bicheiro Carlinhos Cachoeira discutindo com o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) a candidatura do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) à prefeitura de Goiânia. Na conversa, eles dizem que precisam de alguém com “poder na mão”. Até o início deste ano, Demóstenes era um dos pré-candidatos mais cotados à prefeitura da capital goiana. Mas desistiu publicamente da disputa.
O estouro do escândalo envolvendo Cachoeira sepultou as esperanças de quem ainda via no parlamentar um potencial candidato. Demóstenes Torres é considerado a ponte de Cachoeira com o mundo político em Brasília.

— Deixa eu te contar uma coisa: o Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai? Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe — disse Santana Gomes, em telefonema feito no dia 13 de março do ano passado.
— Exatamente, exatamente — responde Cachoeira.
Os dois conversaram pelo telefone inicialmente para falar de Jorcelino Braga, secretário estadual da Fazenda na gestão anterior, do ex-governador Alcides Rodrigues (PP), de 2006 a 2010.
Alcides, que era vice do atual governador tucano Marconi Perillo (GO), assumiu o governo quando o titular renunciou ao mandato para disputar o Senado, em 2006. Mas eles terminaram por se afastar e Braga se desentendeu com Marconi Perillo, que em 2011 voltou a ser governador de Goiás.
Planos para o governo em 2018
O bicheiro diz acreditar que Jorcelino Braga quer uma aproximação com o grupo. Santana Gomes — que inicialmente fica com medo de entrar em contato com o ex-secretário e “se queimar” com o atual governador — concorda em fazer a aproximação e sugere que isso vai ajudar a fazer Demóstenes Torres prefeito de Goiânia.
— Então  bom. Vamos tomar um café amanhã pra gente bater umas ideias e montar uma estratégia beleza pra gente começar. Eu vou começar. Eu já sei que  tá pensando. O Demóstenes vai ser prefeito. É isso que tá querendo dizer, né? — indaga Santana.
Pouco depois, Cachoeira diz:
— Traz ele (Braga) pro nosso lado. Tenta trazer.
Santana então rasga elogios ao chefe:
— Você é certo demais, você é forte demais. Não, você fez perfeito. Com esse trem na mão, nós estamos bem na foto, né, amigo. Nós vamos fazer nosso prefeito, né?
— Ele tá com o c... na mão, rapaz. Traz o Braga pro lado. Tá bom? Procura ele amanhã (sic). Não tem problema, não. Não queima, não. Tem nada que queimar com Marconi — responde Cachoeira.
As pretensões políticas iam além. A Juventude do DEM chegou a lançar Demóstenes candidato a presidente para 2014, na sucessão de Dilma Rousseff. Os mesmos jovens, após o surgimento das denúncias e o envolvimento com Cachoeira, defenderam a expulsão do senador do partido.
Em um outro diálogo, captado pela Polícia Federal no dia 16 de maio de 2011, o próprio Demóstenes Torres diz ao bicheiro Carlinhos Cachoeira que o governador Marconi Perillo o queria não apenas para prefeito este ano, mas para governador em 2018.
Demóstenes não é o único parlamentar goiano cotado para a prefeitura da capital a ser exposto no escândalo por suas relações com Cachoeira. O grupo inclui ainda os deputados federais Jovair Arantes (PTB), Sandes Júnior (PP) e Leonardo Vilela (PSDB).


 

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