Você eu não sei, mas quando há um bate-boca como aquele entre os ministros Mendes e Barbosa eu sempre lamento a falta de um texto melhor. Claro, no calor da briga ninguém pode escolher as palavras ou cuidar do valor literário dos seus insultos, mas é impossível deixar de imaginar o que um bom roteirista teria feito com a cena, escrevendo para os dois lados.
Certa vez criei um personagem para um antigo programa do Jô, na Globo. Era o cara que só pensava numa boa resposta quando não adiantava mais. Ele estava caminhando na rua, ou dentro de um ônibus ou numa reunião com amigos e de repente soltava uma frase, como "Só se a sua mãe for junto!" Depois explicava que dia antes alguém lhe dissera para ir tomar banho (no tempo em que mandar alguém se lavar era insulto pesado) e só agora lhe ocorria uma boa resposta. Na hora, ficara só dizendo "Ah é, é ?Ah é, é ?", enquanto pensava numa frase devastadora que nunca vinha.
Há profissionais de resposta pronta, repentistas que retrucam não só no ato como rimado, mas a maioria só pensa no que poderia ter dito muito depois. Humoristas, e supostos humoristas, padecem mais do que os outros com a expectativa de que terão a boa resposta na ponta da língua. Como têm que zelar por uma reputação de tiradas espontâneas, são os que mais precisam pensar na frase, revisá-la e burilá-la para apresentá-la, de preferência uma ou duas semanas depois.
O sentimento de insuficiência na retaliação verbal é tão comum que deveria existir uma expressão, talvez uma daquelas intermináveis palavras compostas com que os alemães transmitem o máximo de sensações possíveis sem o uso de vírgula, hífen ou violino ao fundo, que a descrevesse. E a expressão existe. Mas não é alemã. Diderot, o mais enciclopédico dos enciclopedistas franceses, pois aparentemente dava palpite sobre tudo, chamava a frase que só vem depois de "esprit d'escalier". Perfeito: o espírito que só nos socorre quando já estamos descendo a escada.
Nos bate-bocas brasileiros,,,, predomina o "esprit d'escalier". O que vem na hora raramente passa do "Ah é, é ? Ah é, é ?" ou equivalente.
(Você eu não sei, mas eu torço pelo Barbosa).
Um comentário:
Ivanildo, tbm torço pro Barbosa. Entre Gilmar e Barbosa, os grandes goleiros, Gilmar sempre foi mais manchete apesar dos mais antigos dizerem pegar menos.
Postar um comentário