segunda-feira, 25 de maio de 2009

Oposição a Serviço do Terceiro Mandato - Jorge Viana





Correm notícias de que o deputado Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados, deseja colocar em votação, ainda na semana que se inicia, a urgência da reforma política. Seria um alento para a democracia brasileira. Uma reação positiva e propositiva no Congresso Nacional diante da crise de credibilidade que está colocando suas duas casas na lona.
Na verdade, entre quem pouco se lixa para a opinião pública e quem constrói castelos com areia superfaturada, alguns procuram culpados para a crise evitando olhar para o próprio umbigo. E, muito infelizmente, esse desvio de visão da realidade não se restringe ao chamado baixo clero do Parlamento. É uma conduta que contamina até os partidos mais comprometidos com a democracia e com a responsabilidade de governar, como é o caso do próprio PSDB, que já governou e que tenta se apresentar como alternativa de poder.
Esse desvio de visão dos políticos está levando a oposição a trilhar um caminho perigoso. Como o desgate da imagem do Congresso Nacional ameaça indistintamente parlamentares orgânicos e fisiológicos, éticos e picaretas, inocentes e culpados, todos se desesperam por uma solução. E no desespero, até os bons sucumbem à tentação das sereias dos mares de lama.
Sereias que encantam com o conto das soluções fáceis e mirabolantes, especialmente com o mais perigoso de todos os recursos políticos: criar uma crise nova para esfumaçar a crise velha.
Assim agiram alguns políticos que ainda guardam grande respeitabilidade na opinião pública, associados a velhos e manjados grupos fisiológicos com grande poder de manobra no Congresso Nacional, inventando a CPI da Petrobras como contraponto para a crise de credibilidade que vem se arrastando há meses. Um equívoco. Um erro político que só realça a necessidade da reforma que o Congresso não consegue fazer. E um risco que pode custar muito caro ao país, prejudicando o patrimônio nacional que a Petrobras representa. CPI, no Brasil, a gente sabe como começa, mas não tem a menor ideia de como termina.
Não surpreende a atitude dos fisiológicos de sempre, que, em busca de vantagens, conspiram no governo ou saracoteiam na oposição. Mas preocupa a forma festeira como os setores mais orgânicos da oposição, PSDB à frente, se escalam para surfar na onda da crise criada para esconder a crise real.
O Congresso já tem sua crise e quer criar a crise do Executivo como agenda política. Mas não dá para disfarçar que a CPI da Petrobras atende mais o calendário eleitoral do que as reais necessidades do Parlamento e do país. Em vez de tentar socializar sua agenda negativa, o Congresso deve enfrentar seus verdadeiros problemas com uma agenda positiva que o leve ao reencontro com a sociedade. Sem dúvida, a reforma política é o caminho para isso.
Mas os parlamentares não fazem a reforma política e ainda destacam uma explosiva capacidade de alimentar crises, tentando trazer o governo para o patamar de suas próprias mazelas.
O que eles não percebem é que enquanto estão tentando usar a Petrobras numa CPI que a uns servirá de palanque e a outros de objeto de chantagem, o governo Lula fortaleceu a mesma Petrobras para que ela garanta o Brasil como país autossuficiente em petróleo.
Enquanto eles patinam sobre castelos de areia, o governo consolida o PAC, amplia o Bolsa Família e conduz o país com segurança no turbilhão da maior crise financeira mundial, da qual estamos saindo como uma economia confiável e necessária ao mundo,
As oposições não atentam que o governo encaminhou uma proposta de reforma política para o Congresso. Lá é que a coisa não prosperou. Pelo menos até agora.
Entre todos esses desvios de visão, até o PSDB embarca no conto da CPI da Petrobras, se associando ao fisiologismo que emperra a política brasileira e deixa o país sem horizontes.
Com os políticos se lixando para a opinião pública e a oposição ocupada em criar novas crises para atingir o Executivo, sobra espaço para a recorrência de uma tese que todos nós já havíamos descartado, que é a possibilidade de um terceiro mandato.
O presidente Lula continua sendo o líder mais popular do país e todos nós sabemos que a tese do terceiro mandato só não prosperou ainda porque nunca recebeu o beneplácito presidencial. Enquanto isso, é impressionante como a oposição se arrisca em manobras que só podem contribuir para afundar ainda mais a credibilidade dos políticos, sem entender que estão praticamente trabalhando pela popularização da ideia do terceiro mandato.
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Jorge Viana é ex-prefeito de Rio Branco e ex-governador do Acre.

Um comentário:

AAreal disse...

Ivanildo, o Jorge Viana do Acre. O som do seu estado é parecido com o que eu emitti depois da leitura do artigo dele.