GERAL
Paulo Delgado
No Rio, ônibus é multidão: de linhas mais de um milhar; de empresas duas centenas. Ousado, como foi seu irmão jogo de bicho, o obsoleto trava-ruas se faz de fanfarrão. Autoritário, não está preparado para ceder. Não é movido a motor, mas jactância, seguindo um trajeto incompreensível que desconhece a geografia da cidade. Circula com cumplicidade e indulgência, fora do controle das repartições. Veloz, odeia passageiro; vazio na Zona Sul, lata de sardinha nas zonas Oeste e Norte. Misterioso, como se a Guanabara fosse o Cairo com seu trânsito balançando como o andar do camelo.
Por que não se diz não ao ônibus? Por que ele é, entre nós, o mais tradicional canal da graça que a promiscuidade presta à política. De horizonte estreito é o transporte do país que enxerga perto.
Personagem altamente noticiado, e intimidador, é frio e calculista; com seu jeitão agressivo mistura e sobrepõe trajetos. Realiza, a cada dia, a miséria do sistema de transporte, roubando do trem, do barco e do metrô a bela história da sua vida pública em todo o mundo.
A velocidade, feiura, excesso de veículos, irracionalidade das linhas — tudo conspira contra a compreensão e a sensatez. A ambição do ônibus, estampada em seu movimento sem qualidade e desorganizado, esconde o poder que tolera seu itinerário.
Por que todos vão a todos os lugares, vêm de todos os bairros, brotam de todas as ruas como inundação? Deixam para trás, sem cerimônia, o trouxa que ninguém defende, estima ou lhe oferece um guarda-chuva.
O abandonado no ponto — sem cobertura, assento, qualquer sinal de horário — tem que avançar sobre a rua com as mãos estendidas para implorar que o selvagem desprenda da turba, e pare ali para recolher o infeliz.
Será que a lei do ônibus é percorrer os quilômetros da cidade, aos milhares, inúteis, como pretexto para fixar tarifas?
Um comentário:
No Rio de Janeiro as autoridades estão indo bem na solução do tráfico mas estão longe de uma solução técnica para o tráfego.
A tecnologia existe mas falta vontade política para resolver o problema. No quesito de indiferença dos poderes constituídos o tráfego está de mãos dadas com a seca do Nordeste.
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