O pouco físico e a cara de órfão abandonado do Dickens podem explicar a invisibilidade de Oscar para o público e a crítica
Há muito tempo existiu em São Paulo um centroavante chamado Servílio. Não me lembro em que times ele jogou, sei que chegou à seleção brasileira. E do Servílio se dizia que ele jogava sem a bola. Nunca ficou muito claro o que significava aquilo, jogar sem a bola. Talvez, com seu posicionamento ou sua movimentação, ou até mesmo com a ameaça do que faria se tivesse a bola, Servílio ajudasse a abrir ou assustar defesas. Não era um jogador espetacular como outros do seu tempo (ele foi contemporâneo de Pelé e de Rivelino) e tocou na bola um número suficiente de vezes para ser goleador. Mas, de acordo com a crônica esportiva da época, o grande mérito de Servílio era aquele poder meio misterioso de jogar bola longe da bola. E Servílio ficou como um protótipo do jogador que atua para o time e não para o público, que o público muitas vezes nem enxerga em campo. Sua função estava no seu nome: Servílio, para servir aos outros.
Pensei no Servílio ouvindo e lendo os repetidos elogios para Neymar, Fred e etc. depois da vitória brasileira na Copa das Confederações. Elogios merecidos, mas quase sempre incompletos. Não incluíam o Oscar. E Oscar é dos jogadores mais importantes da nascente seleção do Felipão. No jogo contra a Espanha, os três gols do Brasil tiveram a sua participação. Ele é um anti-Servílio na permanente disposição para receber a bola em qualquer lado do campo, mas é um autêntico Servílio na predisposição para servir ao time, muitas vezes se autoapagando, preferindo o passe preciso e a progressão consequente à jogada de efeito. Seu pouco físico e sua cara de órfão abandonado do Dickens podem explicar sua invisibilidade para o público e a crítica, mas pelo menos o Felipão já deve saber que o ataque para a Copa de verdade tem que ser organizado à sua volta.
Quanto ao resto, estamos bem. Luiz Gustavo — outro neosservílio — foi a melhor surpresa do esquema do Felipão. E aquela bola que o David Luiz tirou de cima da linha do gol num ângulo impossível mostrou que os deuses da física estão do nosso lado. Ajuda.
PAPO VOVÔ
A Lucinda sentou nas minhas costas e eu sugeri que ela usasse minha careca como um tambor. Resposta dela: “Essa é a coisa mais ridícula que eu já ouvi na minha vida.” Não sei quantas coisas ridículas ela já ouviu na sua vida curta, mas minha sugestão bateu todas.
Luis Fernando Verissimo é escritor
Um comentário:
Servílio foi um craque do Palmeiras numa época que o time que contava com Dudu, Ademir da Guia, Chinesinho, Tupazinho e outros era chamado de "A Academia". Em 1965 este time misturado com o Santos formou uma seleção que surrou a Inglaterra por 5X1 no Maracanã.
Exatamente um ano depois os mesmos ingleses se sagrariam campeões do mundo numa Copa em que o Brasil não passou das oitavas de final
Aquele time formidável foi desmontado pelos cartolas que convocaram 4 times (44 jogadores) para o início dos treinos.
Foi inspirada nesta seleção que a Dilma formou um ministério com 39 ministros.
E possível que, da mesma forma que aquela seleção que não treinava, este ministério que não se reúne não passe das oitavas de final sendo derrotados pelas passeatas.
Em tempo, concordo que o Oscar é o pião da seleção.
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