O gigante já fez de tudo. Ficou até centenas de anos deitado em berço esplêndido. Parecia uma eternidade. Um dia, pareceu acordar e começou a correr. Dizia de si mesmo que seria poderoso em algumas décadas. Uma potencia antes virada do século.
A pressa foi tanta que tropeçou e caiu. Ficou lá, deitado. Descobriu-se que a corrida era efeito da excitação passageira provavelmente causada pelo álcool ou coisa pior. Naquele momento, sob o efeito do álcool, já lhe faltavam as pernas. Como consolo, diziam apenas que o gigante estava bêbado, mas não estava morto.
Ficou no chão em décadas sem sentido, perdidas. Com muito esforço, o gigante se recuperou da bebedeira, passou pela ressaca e, ao menos pareceria, deixou o vicio de lado. Deu alguns passos decisivos, firmes, para frente, na direção certa. Ate que não resistiu. Caiu no vicio. De novo.
O gigante foi se perdendo aos poucos. Afrouxando a disciplina aqui, e a ética acolá, com o tempo, deu para cambalear de novo. Bate cabeça, raspa o ombro no muro, perde o caminho de casa. Para o gigante, o vício até trouxe algum prazer, mas foi muito ruim para a saúde.
Depois de tanto abuso, o gigante anda caído hoje em dia. Enquanto sente o torpor da bebedeira, ouve vozes e ruídos emitidos pela multidão que o rodeia. Emite sinais que sabe que algo esta acontecendo. Mas demonstra que não entende o que se passa, e que despreza as possíveis consequências dos sons que lhe chegam aos ouvidos.
Ali, no chão, o gigante mente para todos. Inclusive para ele mesmo. Mente, mas não engana. Apenas torce para que os ruídos diminuam sem que ele tenha que fazer qualquer esforço. Não vê os problemas. Ou melhor, não quer ver.
Por desenho, destino ou desejo, o gigante parece não querer sair da bebedeira. Sabe que o preço será a ressaca e a abstinência. Por isto, nega o vício. E, ao negar o vício, não melhora.
Fica condenado a repetir, indefinidamente, erros e perdas passadas. A não ser que as vozes e os ruídos que o cercam fiquem tão fortes que ao gigante somente reste ouvi-los. Com sorte, ele está bêbado, mas não é surdo.
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). E-mail: esimoes@uvic.ca . Escreve aqui às segundas-feiras.
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