Para ex-reitor da PUC, no entanto, condenação do preconceito não é novidade dentro da Igreja
RIO - Movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos LGBT receberam com surpresa, vendo como um passo importante no combate à discriminação dos homossexuais, as declarações do Papa Francisco em seu voo de volta a Roma. O Pontífice — que quando arcebispo de Buenos Aires foi um crítico da aprovação, na Argentina, do casamento entre pessoas do mesmo sexo — disse na viagem que o catecismo explica bem que os gays não devem ser discriminados, mas integrados na sociedade. E ainda afirmou que, se uma pessoa é gay e procura Deus, quem era ele para julgá-la. Declarações que, para o coordenador do programa estadual Rio Sem Homofobia, Cláudio Nascimento, dão uma contribuição importante ao debate sobre o ódio e o preconceito contra os homossexuais.
— Ele manda uma mensagem para seus fiéis, de que os dogmas da Igreja não podem ser usados para justificar a violência e a discriminação. Ainda é preciso esperar mais para ter clareza das consequências da entrevista do Pontífice. Mas o Papa tirou do armário o assunto, que veio para a antessala. Veremos, agora, se virá para a sala. Mas já é um passo importante — diz.
À espera de ações concretas
Já o presidente do Grupo Arco-Íris, Julio Moreira, frisa que nunca foi uma pretensão dos movimentos LGBT interferir na doutrina da Igreja. Mas, defende ele, é preciso separar a questão religiosa dos direitos civis dessa população. E a fala de Francisco poderia indicar um caminho de diálogo, enquanto argumentos religiosos ainda são amplamente usados pelos que se opõem a igualar esses direitos:
— Agora, vamos esperar ações concretas da Igreja. Primeiro, vejo (as declarações) como uma posição dele (do Papa). Mas, como líder e com poder de influência, creio que ele possa inspirar outros católicos.
— Não houve nada de novidade no que diz respeito à parte doutrinal. As pessoas já sabem o que pensa a Igreja. Devemos condenar o pecado, mas não o pecador. Não aceitamos essa conduta, está errada. Mas quem julga é Deus. Sem dúvida, porém, respeitamos essas pessoas.O padre Jesus Hortal, ex-reitor da PUC-Rio, por sua vez, ressalta que as palavras do Pontífice não indicam mudanças na Igreja:
Posição parecida com a do teólogo Paulo Bosco, da Universidade Católica de Brasília. A novidade, diz ele, é um Pontífice falando diretamente sobre o assunto:
— Ele fala diretamente desse acolhimento ao homossexual. A Igreja não é contra alguém, mas a prática não é virtuosa. Temos um Papa falando isso de forma direta: vamos amar aquele que está numa condição de segregado, tratado de maneira discriminatória.
Referências claras que são consideradas “um avanço único” por Carlos Alexandre Neves Lima, à frente interinamente da Coordenadoria da Diversidade Sexual da prefeitura do Rio. E que o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, Fernando Quaresma, diz que alimentam “esperanças de uma mudança próxima”.
— O Papa está no topo da hierarquia da Igreja e pode, sim, fazer essas mudanças. No próprio cristianismo, Cristo sempre esteve do lado dos mais fragilizados. Hoje, entre outros grupos, os LGBTs estão entre os mais fragilizados. Nada mais justo do que uma visão mais humana sobre o tema — diz Fernando.
Nesse sentido, diz outro teólogo, Érico João Hammes, professor da PUC-RS, a Igreja Católica tem aprofundado estudos sobre homossexualidade:
— É preciso esperar a continuidade desses estudos e aguardar os avanços da própria sociedade.
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Um comentário:
A Igreja combate e combaterá sempre qualquer tipo de preconceito ou discriminação.
Isto não equivale a negar as diferenças verificadas entre filosofias, pontos de vista e práticas e costumes na sociedade humana.
Não há como negar que heteros, homos e mixtos quentes são coisas diferentes. Qualquer tentativa de fazer um purê destas três batatas não passa de um lobby mercadológico.
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