Mas petistas históricos avaliam que partido se transformou em ‘máquina eleitoral’
SÃO PAULO — O presidente nacional do PT, Rui Falcão, minimizou nesta sexta-feira a baixa participação de petistas nas manifestações convocadas pelas centrais sindicais em São Paulo, atribuindo a ausência à indisponibilidade de militantes para participar, apesar da convocação feita pelo partido.
— A militância participa no limite da sua disponibilidade. Tem muita gente que, felizmente, está empregada agora depois de 10 anos do governo Lula. (A manifestação) Foi durante a semana, não era feriado, boa parte da nossa militância está empregada — ironizou o dirigente, que admitiu não ter ido ao ato para “não se expor”, por sugestão dos próprios sindicalistas.
Nesta sexta-feira, petistas históricos e simpatizantes lamentaram a discreta participação nos atos em São Paulo, berço do partido e espaço de constante participação da sigla no passado.
O sociólogo Chico de Oliveira, fundador do PT, acredita que a ausência mostra como o partido “se burocratizou e se transformou em máquina eleitoral e política, no lugar de partido da transformação”.
Preço da “modernização”
Para Chico de Oliveira, o partido paga o preço de sua “modernização” e não tem mais condições de mobilizar as massas para ocupar as ruas, assim como outros partidos.
— Os movimentos de massa foram muito importantes na História do Brasil, no combate à ditadura, em especial, mas não é preciso ficar tentando fazer de novo daquele jeito. É no Congresso que os partidos políticos precisam se revitalizar — diz o sociólogo, para quem o país segue a partir de agora tendência observada nos EUA e na Europa, onde a participação política se dá cada vez menos nas ruas.
Um dos únicos a levar sua bandeira com a estrela do PT na manifestação de quinta-feira, o petista Markus Stokol discorda de Oliveira.
— O PT só tem sentido como partido se corresponder a seu propósito fundador, de subordinar toda sua participação no plano institucional ao movimento de massas popular, com objetivo de transformar o Estado. Ele precisa expressar a identidade da classe trabalhadora. Esse papel não pode ser confinado no Parlamento ou no Executivo — diz Stokol, para quem o partido corre o risco de se dissolver ao perder sua capacidade de se mobilização:
— É preciso mais compromisso com as reivindicações do povo, o governo é um instrumento, não um fim em si mesmo.
Para Frei Chico, irmão do ex-presidente Lula e responsável por sua filiação ao PT, é hora de a esquerda repensar sua atuação:
— Quem militou na esquerda tem que aprender a fazer autocrítica, tem que reconhecer que está errando em alguma coisa. Está todo mundo achando que é dono da verdade, que acabou, e isso não é certo. Só posso falar que estão todos desgastados nessa história.
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