O PT faltou ao Dia Nacional de Luta promovido pelas centrais sindicais.
Pensando bem, era só o que faltava: o partido que governa o país sair às ruas para cobrar do governo o que ele prometeu e não fez. Ou o que não prometeu, mas poderia fazer se quisesse.
As centrais apoiam o governo. Estão de prontidão para socorrê-lo em qualquer aperto. Mas elas devem o mínimo de satisfação aos seus associados.
Segura o choro, Cabral!
O Dia Nacional de Luta foi um fracasso. Tanto maior porque pode ser comparado com o recente movimento liderado por jovens que cobram passe livre nos ônibus.
Um brotou espontaneamente. Aderiu quem quis. E os que aderiram poderão dizer: "Eu participei das maiores manifestações populares da história do Brasil em pouco mais de 500 anos".
O outro movimento nada teve de espontâneo. Parecia a projeção em preto e branco de um filme antigo, como observou o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula.
Com uma diferença: no passado, o vermelho que coloria as ruas era monopólio do PT. Hoje, o vermelho que se vê aqui e acolá foi providenciado por outros partidos.
A militância do PT tem mais o que fazer. Está empregada. Parte dela muito bem empregada.
Há pelo menos duas frases exemplares cometidas nos últimos 10 dias por figurinhas carimbadas da República. Reunidas e explicadas, ilustram o estado de coisas que uma quantidade crescente de brasileiros gostaria de empurrar para sempre esgoto a dentro.
"Eu sou de carne e osso e preciso, vez por outra, de um descanso", afirmou Cid Gomes, governador do Ceará, a propósito de uma viagem à Ásia.
Em junho último, quando multidões irrompiam por toda parte, Cid embarcou para uma viagem de 14 dias com destino a Coreia do Sul. Tinha compromissos oficiais por lá.
Uma vez na Europa, esqueceu a Coreia, divertiu-se o quanto pode na companhia de amigos e até encarou um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Na ausência de Cid, o vice dele voou à Israel e Arábia Saudita. A trabalho. E também para repousar.
A segunda frase: "Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil. Outros fazem também", defendeu-se Sérgio Cabral, governador do Rio e alvo de uma reportagem publicada pela VEJA.
A revista descobriu que Cabral usava helicóptero do governo, comprado por quase R$ 20 milhões, para fazer diariamente um trajeto de não mais do que 10 minutos entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e o palácio onde despacha.
Às sextas-feiras, o helicóptero chegava a voar cinco ou seis vezes entre o Rio e o município de Mangaratiba, onde Cabral tem uma casa de praia.
Cabral seguia no último voo. Nos anteriores, sua mulher, filhos e amigos deles, babás e o cão Juquinha.
O mesmo número de voos se repetia no domingo, de volta de Mangaratiba. Aumentava quando se esquecia algo. Como um vestido da primeira-dama resgatado por uma babá em voo extra.
“O governador Sérgio Cabral encara como uma perseguição ao seu mandato informações que soem como ‘denúncias’ quanto ao uso de helicópteros do Estado”, advertiu nota distribuída pela assessoria dele.
Ninguém ligou. O tempo não anda bom para os lados de Cabral.
Então outra nota anunciou que doravante Cabral irá trabalhar de carro. Os voos para Mangaratiba foram mantidos. Às nossas custas, naturalmente.
Cabral só se preocupa com valores do tipo moral, ética e decência quando flagrado atropelando algum deles. Ou todos ao mesmo tempo.
Aí finge que mudará seu comportamento. E até inventa código de ética que não sai do papel.
Mas não muda de comportamento, como se vê.
Porque ele sempre foi assim desde que escolheu a política como meio de sobrevivência. E nada sugere que deixará de ser assim.
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