quinta-feira, 11 de julho de 2013

Yankees, go home!, por Zuenir Ventura



Zuenir Ventura, O Globo
Será que Barack Obama vai continuar em silêncio diante da indignação de Dilma Rousseff, que ameaça recorrer à ONU contra a “interferência” da Agência de Segurança Nacional, a NSA americana? Será que ele, tão politicamente correto, não vai fazer nada contra a “violação da nossa soberania e dos direitos humanos”? Como disse o professor de Direito Constitucional Pedro Serrano, é “um ato de agressão”.
Essa verdadeira invasão de privacidade revolta não apenas nossas autoridades, mas também os cidadãos em geral, porque é um atentado à individualidade de todos e de cada um de nós.
Aliás, já pedi ao José Casado — que teve acesso aos documentos vazados e produziu, com Roberto Kaz e Glenn Greenwald, um extraordinário furo de reportagem — para procurar entre os milhões de mensagens de brasileiros monitoradas pelos EUA os telefonemas e e-mails começando pela letra “Z”. Fico imaginando aqueles burocratas fuçando minha intimidade.
É claro que se trata de mania de grandeza, uma herança paranoica da época de nossa ditadura militar, quando a prática do grampo era disseminada entre políticos, jornalistas, artistas, intelectuais em geral (Ziraldo e eu ficamos presos durante meses por causa de uma conversa gravada, tida como perigosamente subversiva).
Até há pouco tempo, me surpreendia interrompendo o interlocutor do outro lado da linha: “Isso a gente fala pessoalmente, por telefone é perigoso.” Mas aqueles eram tempos de generais e de censura aqui, e de Nixon e guerra do Vietnam lá.
Hoje, porém, não será pior? Há pelo menos mais sofisticação, com o advento da globalização, da internet e da revolução da tecnologia da informação. Antigamente, a operação de escuta era demorada: instalação do microfone, gravação, transcrição da fita.


Agora, o volume de informações monitoradas é gigantesco. “Só no mês de janeiro deste ano”, informa a reportagem, “a NSA rastreou 2,3 bilhões de dados nos EUA”, e o Brasil ficou pouco atrás, sendo o país mais espionado da América Latina, e isso sem ser base de terrorismo, só de corrupção.
Em tempos de passeatas e cartazes, não surpreende que desenterrem uma palavra de ordem ao mesmo tempo fora de moda e muito atual: “Yankees, go home.”
Honra ao mérito desse jovem D. Quixote, herói real num mundo virtual: o ex-técnico da NSA Edward Snowden, que está vivendo em trânsito, atualmente no aeroporto de Moscou, fugindo dos americanos como um criminoso por ter denunciado essa diabólica rede de espionagem eletrônica.

Zuenir Ventura é jornalista.

Um comentário:

Alberto disse...

O assunto é sério, hoje a informação substituiu as especiarias e metais e pedras preciosas como bens mais valiosos do mundo.
Hoje quem perde a privacidade perde a soberania.
As invasões nos sistemas de informação são mais eficientes que as invasões armadas.