quinta-feira, 4 de julho de 2013

Três lições políticas dos protestos no Brasil, por Bruno Lima Rocha


GERAL


O Brasil não será como antes, não ao menos em termos de cultura política. Após dez anos de pasmaceira e vinte e um anos sem manifestações massivas, o país se reencontra com a luta política de rua e de massas. Algumas lições foram transmitidas, dentre as quais elenco três.
Primeiro, a noção de que os direitos fundamentais não são fruto da ação institucional, mas sim da luta coletiva. Dentro do rigor fiscal e do contingenciamento de verbas públicas, uma política distributiva é fruto direto da pressão popular. Do contrário, a rotina das agendas burocráticas sempre supera a maioria silenciosa. É conta de chegada.
Quando uma parte desta maioria mobiliza-se, os ocupantes de postos-chave no Estado se veem contra a parede.
Segundo, a ideia de auto-organização. Este conceito fundamental para o sindicalismo, também chamado de independência de classe, estava esquecido. Não caberia mais colocar gente na rua utilizando como abre alas uma enorme faixa vermelha ou amarela, para fazer um desfile cívico cidadão com parlamentares ou candidatos a cargos eletivos à frente.
Ainda estamos longe da consigna da Argentina em dezembro de 2001 (“que se vayan todos!”), mas ao menos está instaurada a desconfiança no processo decisório dos gabinetes e no jogo dos poderes constituídos.


Terceiro, nota-se que finalmente a internet cumpre seu destino manifesto, o de atingir quem se encontrava atomizado, desorganizado. Este papel, o de falar com a maioria que não faz política no dia a dia e informa-se pouco foi possível através da rede mundial de computadores, em especial nas redes de relacionamento. As conversas entre pessoas conhecidas, grupos de afinidade por causas específicas ou temáticas particulares finalmente conseguiu massificar-se no Brasil.
Há cinco anos eu participei de uma pesquisa de campo onde se apontava o uso diário da web entre jovens de 14 a 20 anos. Este era banal, para fins privados e sem temas de fundo. Aumentou o tempo de navegação e o uso da internet móvel. Proporcionalmente, dez por cento de milhões de usuários fizeram a diferença nestas jornadas.
O saldo é positivo. A democracia representativa é exercida por pessoas em cargo eletivo, de confiança, comissão e grupos organizados em prol dos agentes econômicos. A democracia que emerge das ruas brasileiras é outra. Não tem “paciência histórica” e aprendeu o traquejo vendo o andar de cima deitar e rolar; primeiro se pressiona para depois negociar margens de conquistas. Definitivamente, esta é uma nova etapa política.

Bruno Lima Rocha é cientista político.
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)

Um comentário:

Alberto disse...

O "Estado Opressor" foi combatido por pensadores humanistas desde sempre.
Nos séculos XVII e XVIII, Locke, Hume e Smith reconheciam que a desigualdade seria um corolário da criação do dinheiro e da propriedade privada. Esta constatação exigia que o Estado controlasse as iniquidades produzidas pelo mercado.
O problema é que se o Estado pudesse executar esta função eficientemente teria a força para ameaçar os detentores de propriedade a quem deviam proteger.
A busca do equilíbrio entre o Estado e o Mercado é o alvo permanente dos que prezam a liberdade com direitos iguais para
todos.
O esforço de equilibrar esta balança é simplificado pelos radicais da esquerda e da direita que apresentam a solução de remover um dos pratos (Estado ou Mercado)de acordo com sua filosofia fanática.