terça-feira, 23 de julho de 2013

Papa Francisco: ‘A crise mundial não está tratando bem os jovens’

Pontífice revela preocupação com o desemprego, critica ‘cultura do descartável’ e faz apelo para que jovens não sejam isolados

  • Pontífice brincou com jornalistas brasileiros: 'Vocês já tem Deus brasileiro, e ainda querem o Papa brasileiro. Vocês não se conformam com nada não?'


O Papa se despede do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, antes de embarcar para o Brasil. Francisco revelou sua preocupação com o crescente desemprego entre os jovens e criticou o que chamou de ‘cultura do descartável’
Foto: AP / AP
O Papa se despede do primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, antes de embarcar para o Brasil. Francisco revelou sua preocupação com o crescente desemprego entre os jovens e criticou o que chamou de ‘cultura do descartável’ AP / AP
A BORDO DO AVIÃO DO PAPA - De pé na classe econômica, diante de 69 jornalistas que o acompanham no voo de Roma ao Rio de Janeiro para a 28ª Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco queixou-se da crise econômica e alertou para o risco de se criar uma geração de jovens que nunca trabalhou. Ele fez um apelo para que os jovens, e também os idosos, não sejam "isolados do tecido social". Isso seria, disse, uma injustiça:
— Esta primeira viagem é para encontrar os jovens, mas não em isolamento, mas sim no contexto de ser um tecido social, em sociedade. Quando isolamos os jovens, fazemos uma injustiça. Tiramos eles de onde pertencem. Eles pertencem a uma família, a uma pátria, a uma cultura, a uma fé — afirmou.
E depois ele acrescentou:
— Nos não devemos isolá-los, especialmente da sociedade.
Marcando um estilo radicalmente diferente de seu antecessor, Bento XVI, com com sua linguagem mais simples e política, o Papa Francisco falou sem rodeios. Começou o encontro com os jornalistas com um “bom dia” e uma brincadeira:
— Ouvi algumas coisas estranhas ... de que vocês não são os santos da minha devoção. Estou aqui entre os leões. Eu não dou entrevistas. Não sei por que, mas simplesmente eu não posso. Para mim é muito cansativo, mas agradeço a vocês pela companhia.
Em seguida, ao longo de seis minutos, passou a mensagem essencial: de que tanto jovens quanto idosos são importantes para o futuro, mas estão sendo “descartados” da sociedade.
— Li na semana passada quantos estão sem trabalho, eu acho que corremos o risco de criar uma geração que nunca terá trabalhado. A crise mundial não está tratando bem os jovens. Trabalho dá dignidade a pessoa e habilidade para ganhar o pão.
O Papa depois queixou-se do que chamou de “cultura do descartável”:
— Os jovens nesse momento estão em crise, estamos habituados a uma cultura descartável. Fazemos isso frequentemente com os idosos, mas agora com tantos jovens sem trabalho, também eles sofrem a cultura do descartável. Não! Precisamos de uma cultura da inclusão e do encontro.
É este, conclui Francisco, o sentido que quer dar a visita ao Rio de Janeiro: inclusão de jovens e idosos na sociedade. O Papa fez questão de cumprimentar um a um, os 69 jornalistas que faziam fila para falar com ele. Uma jornalista brasileira comentou com o Papa que, com tantos protestos no Rio de Janeiro, a visita dele talvez fosse oportuna. O Papa concordou dizendo:
— Sim, muito oportuna.
Brincadeiras com os jornalistas e comentários sobre a Copa
Uma outra jornalista contou que durante o conclave muitos fieis brasileiros brincaram na Praça São Pedro: “tudo menos um Papa argentino”. O Papa caiu na gargalhada e disse.
— Vocês já têm Deus brasileiro, e ainda querem o Papa brasileiro. Vocês não se conformam com nada não? — brincou.
Outro jornalista também brincou sobre a rixa entre argentinos e brasileiros.
— Os argentinos dizem que sou argentino, e vocês? O que tem vocês? Vocês tem a mim — afirmou numa menção de que o Papa também é dos brasileiros — Tranquilo, tranquilo.
E quem ganhará a Copa do Mundo em 2014? — perguntou o jornalista. O Papa levou as mãos e olhou para o alto, levantando os ombros.
No avião, João Brás de Avis, único cardeal brasileiro na Cúria Romana, que se ocupa de todas as ordens religiosas da Igreja católica, diz que o Papa está muito sereno com a vinda ao Brasil. Ele reconheceu que alguns no Vaticano questionaram se a vinda do Papa era segura por causa os protestos.
— Nós sempre dissemos que não temos nenhum problema de insegurança. Eu vejo mais (protestos) como um fenômeno positivo.
O cardeal disse ainda que ficou surpreso que os sindicatos tenham chegado nos protestos depois do povo. Quanto aos políticos, ele disse que eles têm que reagir aos protestos eliminando a corrupção "para não fazer projetos dos seus próprios grupos, mas que sejam realmente do povo brasileiro". E defendeu mudanças:
— Nos temos que reformar muito a nossa política porque não está bom não.
Também se disse aliviado com as reformas que o Papa Francisco fará no Vaticano, dizendo que é preciso mudanças também na Igreja.
Francisco embarcou às 8h55m (3h55m de Brasília) de Roma para o Rio de Janeiro. Do avião, ele mandou uma mensagem para os fiéis que o esperam no Brasil.
“Dentro de algumas horas chego ao Brasil e já sinto o coração cheio de alegria por em breve estar celebrando com vocês a 28ª Jornada Mundial da Juventude”, escreveu o Papa em sua conta no Twitter.


2 comentários:

Alberto disse...

Seja benvindo Papa Francisco!

Alberto disse...

Muito feliz a imagem de "cultura descartável".
Está imagem engloba tanto o materialismo exacerbado quanto a dificuldade da preservação de princípios éticos e morais.