segunda-feira, 15 de abril de 2013

Thatcher e seu fiel consorte, por Dorrit Harazim




Dorrit Harazim, O Globo

Por tamanha enrascada ninguém esperava, até porque Margaret Thatcher já estava fora do poder há 23 anos e, debilitada e com demência há mais de cinco, sequer aparições públicas mais fazia. Parecia destinada a ocupar levas de historiadores do século XX, como a mulher que maior poder político exerceu na arena mundial.

E continuaria a gerar montanhas de análises sobre as transformações que impôs à sociedade britânica como chefe de governo. O que ninguém previu foi que a Dama de Ferro ainda ressuscitaria velhas paixões depois de falecida.

O anúncio de sua morte, na segunda-feira passada, gerou previsíveis manifestações de pesar, respeito e reverência para quem foi a figura mais dominante da Grã-Bretanha desde Winston Churchill em 1940. Só que o monopólio da narrativa apologética durou pouco.



Paralelo ao luto oficial de quem vê em Thatcher a líder que salvou e modernizou o país, brotou a céu aberto o rancor armazenado por milhões de excluídos por sua política. Sindicalistas, mineiros, servidores públicos, todo o tecido social da Inglaterra de espinha dorsal quebrada que teve de se adequar à era Thatcher, pelo visto não esqueceu. Nem perdoou.

Ninguém estranha quando mortes de ditadores e tiranos são festejadas por opositores que a eles sobreviveram. Já o falecimento de líderes ou ex-líderes de países democráticos suscita, no máximo, indiferença em quem não quer se juntar ao luto nacional. Ofensas e regozijo são considerados de mau gosto. No caso de Margaret Thatcher, contudo, está valendo tudo.

Ruidosas chopadas em Brixton e Glasgow se sucederam alegremente desde o anúncio fúnebre que enlutou a nação. Enquanto se programa o solene e grandioso enterro de quarta-feira próxima, ao qual comparecerá a rainha, até mesmo um membro da força policial britânica já postou um tweet saudando “o mundo agora melhor, com esta morte que chegou 87 anos atrasada”. Foi expulso da corporação, é claro. Passeatas, protestos, acrimônia na internet não arrefecem. Polêmica em vida, Margaret Thatcher reemergiu além túmulo com todo seu potencial divisionário.

Em um único quesito, pode-se afirmar sem medo de erro, a primeira- ministra sempre obteve aprovação unânime: na figura do fiel consorte que ocupou 10, Downing Street a seu lado durante os anos no poder.

Denis Thatcher era um executivo de sucesso na indústria petrolífera, recém-aposentado, quando Margaret Hilda Roberts, com quem casara mais de duas décadas antes, se tornara líder do Partido Conservador. Além do sobrenome, deu à esposa a segurança financeira necessária para que ascendesse na política fazendo carreira solo.

Um comentário:

Alberto disse...

Independentemente de linha política, pessoas isentas aplaudem a recuperação da Inglaterra no período Thatcher.