Rasheed Abou-alsamh, O Globo
Quando ouvi na segunda-feira a noticia de duas explosões na maratona de Boston, a primeira coisa que pensei foi: “Tomara que não tenham sido feitas por um muçulmano ou saudita.” Essa minha reação, quase automática, vem ocorrendo desde os ataques terroristas de 11 de setembro, 2001, contra Nova York e o Pentágono, onde 11 dos 19 sequestradores de aviões americanos usados como armas fatais foram sauditas.
Como sempre, entrei no Twitter para ver se podia conseguir mais detalhes sobre as explosões e foi aí que vi a notícia divulgada pelo tabloide “New York Post” de que a polícia estava vigiando um suspeito, que era um homem saudita de 20 anos, com queimaduras graves, num hospital de Boston, e que eles estavam interrogando ele. Eu retuitei (@RasheedsWorld) essa notícia, adicionando um comentário “um suspeito saudita!”
Muitos dos meus amigos no Twitter também tinham visto a notícia, e muitos deles postaram comentários de que nós devíamos levar qualquer coisa vinda do “Post” com extrema cautela. Afinal de contas esse tabloide é propriedade do Rupert Murdoch, o magnata australiano, dono de um império mediático que inclui a xenofóbica rede de televisão de direita Fox News, que construiu sua reputação e fama através do seu patriotismo quase fascista.
E de fato o “Post” também naquele mesmo dia estava anunciando que havia 12 mortos nas explosões de Boston, enquanto todas as outras agências de notícias estavam divulgando que somente duas a três pessoas tinham morrido. Isto, por si mesmo, deu um ar de loucura para a cobertura do tabloide. O jornal atribui sua informação sobre o suspeito saudita a uma fonte policial.
Na primeira entrevista coletiva dada pelas autoridades em Boston, um chefe de polícia desmentiu que alguém tinha sido preso como suspeito no atentado, mas não negou categoricamente que pessoas estavam sendo interrogadas. E não levou muito tempo para outros jornais relatarem a mesma notícia do suspeito saudita: primeiro o “Los Angeles Times”, depois o “Washington Post” e no dia seguinte o “New York Times”.
Muitos céticos não querem acreditar em noticias não confirmadas ou cruzadas e comparadas com várias outras fontes. Eles acham que tudo isso é somente fofoca e pura especulação. Muitas vezes é. Por isso eu tuitei, logo depois do meu primeiro tweet, dizendo que o saudita no hospital poderia muito bem, sim, ser um espectador inocente que ficou ferido.
Várias pessoas na internet questionaram por que o saudita estava correndo na direção oposta das explosões, uma pergunta ridiculamente estúpida, já que onde já se viu alguém correr na direção de uma explosão?
De novo um saudita, somente por causa de sua nacionalidade, religião e talvez cor da pele, estava sendo suspeito de ser um terrorista nos Estados Unidos. Infelizmente, isso virou uma coisa de rotina nos EUA depois dos atentados de 11 de setembro.
Como vem acontecendo muito nos últimos anos, um avião que partia de Boston para Chicago na segunda-feira voltou para o portão de embarque depois que vários passageiros se queixaram à tripulação que ouviram dois passageiros falarem em árabe. Como um jornalista brasileiro perguntou retoricamente no Twitter: “Virou crime agora nos EUA falar em árabe?” “Virou sim”, eu respondi, “e faz muito tempo”.
Um comentário:
Antes de serem muçulmanos os Chechenos são legítimos representantes do grupo Loucos Varridos que transitam livremente na sociedade por falta de uma vacina preventiva.
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