segunda-feira, 22 de abril de 2013

PSC contabiliza ‘fator Feliciano’ para faturar na eleição de 2014


Deputado deve buscar reeleição para aumentar bancada da legenda

  • Partido também estuda candidatura própria à Presidência


O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marco Feliciano, não pensa em renunciar ao cargo
Foto: Ailton de freitas / Agência O Globo

O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Marco Feliciano, não pensa em renunciar ao cargo Ailton de freitas / Agência O Globo
BRASÍLIA — Aproveitando a projeção do polêmico deputado Marco Feliciano (SP), seu partido, o PSC (Partido Social Cristão), pretende lançar seu vice-presidente, pastor Everaldo, como candidato a presidente da República no ano que vem. A ideia é que Feliciano dispute a reeleição, como puxador de votos em São Paulo, com o objetivo de aumentar a bancada do partido na Câmara. O que para alguns do próprio PSC era visto como sinônimo de desgaste — a manutenção de Feliciano na presidência da Comissão de Direito Humanos da Câmara (CDH) — foi vislumbrado por Everaldo como uma chance para o partido aparecer e se afirmar.
Mesmo que mantenha a disposição de disputar o Palácio do Planalto, e não negocie seu apoio a outro candidato, o PSC não terá o monopólio do voto evangélico, que abrange 22,2% da população, de acordo com o Censo 2010. Algumas lideranças nacionais de diferentes igrejas evangélicas consideram que Everaldo não teria envergadura para disputar o cargo e não aprovam o discurso de Feliciano, muito menos a postura de confrontação adotada por ele.
Ao encontrar Everaldo, que é da Assembleia de Deus, em Madureira, na última terça-feira, em uma festa da Embaixada de Israel, o ministro Marcelo Crivella (Pesca), da Igreja Universal do Reino de Deus, aconselhou-o a recuar na polêmica em torno de Feliciano, que é acusado de ser racista e homofóbico por militantes de direitos humanos.
— É hora de baixar a bola. Estou falando com a experiência de quem já chutou a santa — disse Crivella, de acordo com pessoas que presenciaram o diálogo, referindo-se ao episódio em que um bispo da Universal chutou, em um programa de TV, uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida.
A receptividade do vice-presidente do PSC, porém, não foi boa. Ele aproveitou para reclamar do fato de o PRB de Crivella, com apenas dez deputados, ter um ministério, e o PSC, com 16, não ter nenhum:
— Baixar a bola? Quem mandou você me falar isso? Você não tem oito deputados (sic) e tem um ministério! E a gente não tem nada.
Crivella ainda tentou, sem sucesso, contemporizar:
— Mas eu sou seu ministro também...
O PSC, que apoiou a eleição de Dilma em 2010, já anda insatisfeito com o governo há tempos, por não ocupar nenhum cargo relevante no governo. E não está prestes a ganhar. Everaldo admite que nenhum emissário de Dilma o procurou para negociar apoio nas eleições do ano que vem:
— Ninguém procurou a gente. Do jeito que o governo trata o PSC, a gente não deve interessar — afirmou o pastor.
Feliciano aposta no fortalecimento entre conservadores
A pré-candidatura de Everaldo está pacificada dentro do partido. Feliciano, que almeja vaga no Senado, afirma que o nome mais forte é mesmo o do vice-presidente da sigla. E explica que sua projeção na Comissão de Direitos Humanos (CDH), embora polêmica, contribuiu para alimentar a ideia da candidatura própria do PSC:
— O pensamento do partido é se estabelecer como um partido de verdade. Boa parte da população é conservadora e passou a ter simpatia pelo partido.
Além das declarações polêmicas de Feliciano e dos confrontos com manifestantes, o PSC resolveu partir para cima do PT. Seus líderes e dirigentes dizem agora que o pastor só deixa a presidência da CDH se os deputados José Genoino e João Paulo Cunha, ambos do PT por São Paulo e condenados no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, saírem da Comissão de Constituição e Justiça.
Dilma quer ficar distante da polêmica
Mesmo com a reação dos petistas, que se retiraram da CDH na semana passada, a presidente Dilma Rousseff pretende ficar longe desse assunto. As ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Marta Suplicy (Turismo) chegaram a criticar Feliciano, mas o movimento foi justificado pelo fato de elas terem uma militância histórica na defesa de direitos da comunidade LGBT.
Mas Dilma não quer o núcleo duro do governo metido nessa polêmica. Sua preocupação é com o eleitorado evangélico, que foi decisivo no segundo turno das eleições de 2010, após um primeiro turno em que dominou o debate sobre questões controversas como aborto e casamento gay.
Os evangélicos têm uma relação de desconfiança com Dilma e há um temor, de acordo com lideranças do setor, de que, em um eventual segundo mandato, sem ter que disputar a reeleição, ela se sinta mais livre para apoiar temas como a descriminalização do aborto. A nomeação de Eleonora Menicucci para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, aliás, é um fator de insatisfação do PSC. Ela é favorável à descriminalização do aborto.
— Não há conversa dela (Dilma) com os evangélicos, da mesma forma que também não há conversa dela com o Congresso — disse o senador Magno Malta (PR-ES), da Igreja Assembleia de Deus Ministério Vem Viver.
Os evangélicos também têm restrições em relação ao candidato virtual do PSDB, senador Aécio Neves (MG). E um fator de desgaste com os tucanos é a defesa feita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso da descriminalização das drogas.

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