quarta-feira, 24 de abril de 2013

Campeões 2.0, por Míriam Leitão



Míriam Leitão, O Globo

Na política dos “campeões nacionais”, o BNDES resolveu testar a hipótese de que uma política que deu errado uma vez, se repetida, daria certo. A proposta foi a mesma que mobilizou o governo militar: escolher algumas empresas para serem receptoras de recursos públicos. Elas se tornariam fortes, e o capitalismo brasileiro teria boa capacidade de competir com os outros países do mundo.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, anunciou em entrevista ao “Estado de S. Paulo” que a política vai ser abandonada por falta de setores para se criarem os campeões. É uma interpretação curiosa. E distante dos fatos.
O que o BNDES fez nos últimos tempos foi uma extravagante ajuda e uma inaceitável intervenção em alguns setores, como o de frigoríficos. A decisão de escolher os campeões foi feita quando o Brasil já havia se tornado o maior exportador de carne. Portanto, ganhava o campeonato sem o BNDES.


O banco distribuiu empréstimos subsidiados, aportou capital, comprou lotes inteiros de debêntures, transformou-as em capital em dois dos frigoríficos para que eles comprassem outros no Brasil e no exterior. Marfrig não vai bem, JBS virou o maior do mundo, mas alguns negócios no exterior não foram bem sucedidos, e a exportação brasileira de carne não aumentou.
O grupo Bertin foi convencido a vender para o JBS seu negócio e entrar em outra área. Foi novo desastre retumbante. Bertin entrou em energia, disputou vários leilões, ganhou, mas não conseguiu realizar os projetos.
Nada, no entanto, se compara ao desastre da decisão de fazer um grande campeão em laticínios. Pouco depois de ser constituída, em sociedade com o BNDES, a LBR Lácteos Brasil entrou em recuperação judicial e está assim até hoje.
Coutinho cita áreas em que o BNDES teria feito campeões: petroquímica, siderurgia, celulose, suco de laranja e cimento. Na petroquímica, a decisão que resultou na criação da Brasken, do grupo Odebrecht, em sociedade com a Petrobras, foi anterior à gestão atual do BNDES.
Na celulose, o Brasil já tinha grandes empresas, mas o surgimento da Fibria foi resultado de uma operação de salvamento. Aracruz e Votorantim Papel e Celulose estavam muito expostos a ativos cambiais em 2008, quando a crise internacional fez o dólar subir muito. Várias empresas tiveram dificuldades. Entre elas, as duas. E o BNDES entrou salvando e tornando possível a fusão.
A internacionalização dos setores de suco de laranja foi decisão das empresas e muito anterior ao atual governo. A concentração no setor de cimentos também já é antiga.

Um comentário:

Alberto disse...

Há de convir que o governo é bastante esforçado. Suas tentativas de reanimar a economia, controlar a inflação, democratizar a distribuição de riquezas e garantir a reeleição são fascinantes.
Infelizmente para executar esta tarefa é necessário ser um malabarista profissional e profundo conhecedor da Lei da Gravidade (Lei do Mercado), atributos ausentes na Equipe Dilma.
Enquanto os três patetas malabaristas (Coutinho, Mantega e Lobão) estiverem no picadeiro aplicando a cartilha PTista a mando da gerenta, o Circo pode pegar fogo.