quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sócios da boate Kiss têm ficha na polícia por agressão e estelionato



  • Kiko Spohr é acusado de agredir clientes em duas ocasiões; já Mauro Hoffmann tem registro na polícia por golpe
  • Os dois foram presos nesta segunda-feira por incêndio que provocou 231 mortes

Mauro Hoffmann foi levado para a Penitenciária Estadual de Santa Maria, no distrito de Santo Antão Foto: Emerson Souza/Agência RBS
Mauro Hoffmann foi levado para a Penitenciária Estadual de Santa Maria, no distrito de Santo Antão Emerson Souza/Agência RBS
SÃO PAULO e SANTA MARIA — Presos e com bens bloqueados pela Justiça nesta segunda-feira, Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko, e Mauro Hoffmann, sócios da boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, já tinham ficha na polícia gaúcha: o primeiro é acusado de agredir clientes em duas ocasiões e ainda de se envolver em um acidente de trânsito com lesão culposa, e o segundo é suspeito de estelionato. As duas queixas de agressão contra Spohr foram comunicadas pelos próprios clientes da danceteria. Já a ocorrência de trânsito foi encontrada no banco de dados do Departamento Estadual de Informatica Policial (Dinp). Nos arquivos da polícia, o nome de Mauro Hoffmann aparece relacionado a um caso de estelionato, no entanto, a polícia não deu mais detalhes da acusação.
Sob custódia da polícia gaúcha em hospital de Cruz Alta, onde alega que se internou por causa da inalação de fumaça, Kiko Spohr foi acusado de agressão corporal na danceteria no dia 18 de abril de 2010, mesmo ano do acidente de trânsito, como descrevem os boletins policiais. O segundo caso de agressão a cliente da boate ocorreu no dia 30 de janeiro de 2011. Já o caso de estelionato envolvendo Mauro foi registrado no dia 20 de novembro de 2011. Estes boletins podem ou não virar inquérito policial, dependendo a decisão da autoridade responsável pela área.

A conta de Kiko Spohr no Facebook foi palco, durante esta segunda, de um confronto verbal entre amigos do empresário e internautas inconformados com o descaso da boate com a segurança dos frequentadores. O dono de uma empresa de produções artísticas, que pediu para não ser identificado, disse que Kiko não gostava de pagar cachês alegando que o palco da Kiss, por ser uma das casas noturnas mais conhecidas do Rio Grande do Sul, era uma vitrine para qualquer grupo musical.Embora a polícia gaúcha o aponte como um dos donos da Kiss, Kiko tem em seu nome apenas 96% de participação na empresa Verdes Vales Distribuidora de Pneus, representante da GP Pneus em Santa Maria. Seu pai é dono da Pneus Continental. Na cidade e na cena artística gaúcha, Kiko é tido como o empresário da danceteria, responsável pela contratação das atrações, além de ser vocalista do Projeto Pantana, banda que se apresentava com frequência na Kiss e na Absinto Hall, outra casa noturna em Santa Maria ligada ao empresário Mauro Hoffmann.
Kiko já levou nomes como o de Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana, para tocar na Kiss, bem como subiu ao palco para tocar ao lado dos Cachorro Grande, uma das bandas de rock mais conhecidas do Rio Grande do Sul. No site do Projeto Pantana, ele aparece ao microfone numa das apresentações da banda. O blog do grupo foi retirado do ar.
Ao depor no dia do incêndio, Elissandro admitiu que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação. Ele culpou a banda Gurizada Fandangueira pelo início do incêndio e negou ter ordenado aos seguranças que impedissem a saída dos jovens da festa na hora que o fogo começou. Também negou ter retirado do local o computador que armazenava as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da boate. As gravações não foram localizados na boate, razão pela qual a polícia pediu a prisão de Kiko, Mauro e de dois integrantes da Gurizada.
Entenda a tragédia
Na madrugada do dia 27 de janeiro, centenas de jovens participavam de uma festa na boate Kiss, no Centro de Santa Maria. O fogo começou durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira. Por volta de 2h30m, um dos integrantes do grupo utilizou um sinalizador luminoso, cujas fagulhas atingiram a espuma de isolamento acústico da casa noturna, provocando o incêndio. As vítimas buscaram rotas de fuga, no entanto, segundo relato de sobreviventes, um grupo de seguranças bloqueou a única saída da boate para evitar que os clientes saíssem sem pagar. Sem conseguir sair do estabelecimento mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. A maioria dos mortos foi vítima de intoxicação pela fumaça. Os bombeiros encontraram dezenas de corpos empilhados nos banheiros, onde muitos ainda tentaram se proteger, e em frente à porta da boate. O incêndio, que teve repercussão internacional, é considerado o segundo maior da História do país e a maior tragédia do Rio Grande do Sul.
Com 262 mil habitantes, Santa Maria é uma cidade universitária que fica na região central do estado. A festa, chamada de “Agromerados“, reunia estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS). A maior parte deles tinha entre 16 e 20 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o plano de prevenção contra incêndios da boate Kiss estava vencido desde agosto de 2012. (SAIBA COMO FOI O INCÊNDIO)
Localizada na Rua Andradas, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes — além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15.


Um comentário:

Alberto disse...

Tá tudo errado mas não devemos perder o foco. O problema em questão é como evitar novas ocorrências deste tipo de criminosa omissão tanto dos empresários como como dos responsáveis pela fiscalização.