quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Elefantes cor de abóbora, por Carlos Tautz



Elefantes cor de abóbora, por Carlos Tautz

Um absurdo passou batido pelas festas de final de ano, mas ainda é tempo de resgatar a barbaridade. Em 17 de dezembro passado, juntaram-se o filho do bilionário americano Donald Trump, a Caixa Econômica Federal e o sempre sorridente prefeito do Rio para anunciar que um elefante cor de abórora será construído na Zona Portuária do Rio. O bichão esquisito vai andar da seguinte maneira.
Pelo que anunciou a trupe do Trump, no segundo semestre começam a ser construídas na degradada zona portuária da cidade duas torres comerciais de 38 andares cada, com 150 metros de altura.
O negócio será dividido da seguinte forma: Trump entra com o nome e a Caixa, com algo entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões - dinheiro que, pela missão da empresa, deveria ser alocado em saneamento e habitação.
O R$ 1 bilhão de dinheiro público de diferença entre os dois prováveis orçamentos sabe-se lá para onde vai.
Já Eduardo Paes, o prefeito do bota acima, vai se encarregar de fazer o elefante abóbora passar lépido entre o emaranhado de instâncias de licenciamento.
Pelo previsto, esse animal esquisito deve ficar adulto em 2016 – número mágico, o do ano das Olimpíadas na Cidade. Até lá, esse número que identifica a febre obreirística que encanta governantes e suas empreiteiras seguirá justificando o andamento de uma manada inteira de elefantes abóboras na Cidade Maravilhosa.
Outro desses paquidermes hipetrofiados em custos, o dos corredores rodoviários expressos que já abrem buracos na pista poucos meses após sua inauguração, venceu sabe-se lá como a disputa com outros modais muito mais ecologicamente corretos e adequados aos transportes realmente de massa, como metrôs de superfície.
Depois do esburacado Transoeste, outros dois elefantes cor de abóra – a Transcarioca e a Transbrasil – estão a pleno vapor, para júbilo de construtoras e tesoureiros de campanhas eleitorais.
Para completar o faz e desfaz, o sorridente Paes inventou outra, por assim dizer, digna de nota (fúnebre). Cerca de cinco anos após ser construído, outro patrimônio público pode vir abaixo. Trata-se da Vila Olímpica da Gamboa, que atende a quase 2,5 mil pessoas, quase todas residentes no Morro das Providência.
A desculpa para a destruição desse enorme espaço de esporte, na cidade que hospedará partidas da Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos dois anos depois, é construir ali o Centro Integrado de Operação e Manutenção do Veículo Leve Sobre Trilho (VLT) que vai servir a Zona Portuária.
Detalhe importante de mais este elefante cor de abóbora: a Vila é pública. O VLT nascerá privatizado.

Carlos Tautzjornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas

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