Já fui jovem. Melhor dizendo, sou um jovem.
Tomo um trago e trago na memória o ontem, vivendo-o agora e pronto a levá-lo à frente.
Lembro-me das peripécias de criança, do soltar pipa, pular o muro para pegar balão, da pelada na rua com as freadas dos carros, dos primeiros passos na escola primária, do bonde, das Aventuras de Rin-tin-tin, Bat Masterson (foto) e Zorro. Ah, sim, ouvia pelo rádio Jerônimo o Herói do Sertão.
Pouco adiante, das meninas que passavam na calçada, para as quais assoviava, fiu-fiu, do início da bossa nova, com Gal e Betânia cantando, nas tardes de sábado, no Instituto Lafayette, do Flu-Fla, com mais de 150.000 pessoas no Maracanã, dos cinemas Carioca, Metro, Olinda, com parada obrigatória no Palheta, do Colégio São José, na Rua Barão de Mesquita, do ginásio e do científico, também, do vestibular.
Eis que chega a faculdade e novos desafios a enfrentar. Namorando sério, com carteira de motorista e dirigindo o fusquinha, fico até noivo, prontinho para casar. Começo a trabalhar e vou em frente, pois além da mulher, já tenho um filho para sustentar. Tudo isso, acredite, antes de me formar.
E formado, trabalhando, com esposa e um rebento, outros ares passo a respirar.
Já não solto mais pipa, subo em muro ou jogo peladas, as meninas chamam atenção, é verdade, mas só pra olhar.
Entretanto, após o trabalho, na sexta-feira é sagrado, sento-me com amigos no bar pra jogar conversa fora, contar bravatas, e chopp pra dentro, que ninguém é de ferro.
Horas, dias, meses, anos se passam e, já pai de três filhos, não sinto o tempo passar. Formaram-se e se casaram, fiquei careca, com alguns cabelos grisalhos, é claro, cheio de rugas e vivo o agora como se ontem fosse. Sou um jovem.
Sessentão, meu velho! E daí? E daí? Tenho computador e acesso a internet, vejo e falo com o mundo em fração de segundo. Quer coisa melhor? Ah, ia esquecendo, continuo tomando o meu chopp e as meninas, bem, as meninas, só pra olhar. Afinal, vergonha só passo em casa com o meu brotinho que me atura, diariamente, desde 1974, quando casamos. Sou avô e quando as gatinhas passam, sinto uma nuvem nos olhos, uma nuvem ... Será a bendita catarata?
Não, não adianta brigar com o tempo, tampouco, chorar a saudade. Ao contrário, as lembranças do passado só servem para alegrar, trazendo ao presente uma pequena estória, histórica, a contar. Eis o legado que deixo para os meus Filhos, Netos ..., a alegria de viver feliz, vivendo o presente, recordando o passado, como a ofertar um presente, ao presente, presente. Quanto ao futuro ... garçon, traz mais um chopp aí.
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