sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Casa da Mãe Joana (*)




A cinco dias da eleição do novo presidente da Câmara, o Planalto acionou o sinal de alerta diante da contabilidade indicando que Michel Temer (PMDB-SP), (na foto, com líderes que o apoiam)apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, reduziu significativamente sua vantagem, por conta da acirrada disputa de bastidores pelos cobiçados cargos da Mesa. Temer concorre com o apoio institucional de 422 deputados e conta agora com cerca de 300 votos. Com esse número estaria eleito - são necessários 257 votos -, mas é uma margem frágil diante das ameaças de traição que vêm de todos os partidos, inclusive do PMDB.
Temer perdeu apoio a partir da confirmação da candidatura de José Sarney no Senado.uitos resistem em dar ao PMDB o comando das duas Casas - e da dificuldade de atender aos pedidos de cargos dos 14 partidos que formaram o "Blocão" para apoiá-lo. Nesta quarta, governadores nordestinos que estiveram no Planalto alertaram o presidente sobre a rebelião e o crescimento das candidaturas de Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Foi assim que Severino Cavalcanti (PP-PE) surpreendeu e derrotou o então candidato do Planalto, o petista Luiz Eduardo Greenhalgh, em 2005.
Nesta quarta, governistas não escondiam a preocupação com candidaturas avulsas aos cargos da Mesa. O PTB, por exemplo, está revoltado com o PMDB, porque, pelo acerto, teria direito à 4ª secretaria. Indicou Nelson Marquezelli (PTB-SP). Mas Elcione Barbalho (PMDB-PA) já se lançou para o mesmo cargo e conta com o apoio do ex-marido, Jader Barbalho (PMDB-PA). Augusto Farias (PTB-AL), irmão de PC Farias, ameaça entrar na disputa pela mesma vaga.
Pelo acordo original, o PSDB deve ficar com a poderosa 1ª secretaria, e lançou Rafael Guerra (MG). Mas Rômulo Gouveia (PSDB-PB) entrou na disputa. Há forte articulação para derrotar os dois candidatos petistas à Mesa: Marco Maia (RS), que disputa a 1ª vice-presidência, e Odair Cunha (MG), para a 3ª secretaria. Já para a 2ª secretaria, a briga é no PR, entre Inocêncio Oliveira (PE) e José Carlos Araújo (BA). No DEM, Edmar Moreira (MG) e Vic Pires Franco (PA) querem a 2ª vice.
A campanha de Temer já calcula que os 380 votos contados na véspera caíram para 300. Especula-se que Temer perderá entre 20 e 30 votos do seu próprio partido, e pelo menos 20 do PT. No PDT, PTB e PR, o percentual de traição seria de 30%, índice calculado para os deputados do DEM.
- Traição pode existir. Para mim, se o Temer tiver 258 votos está bom. Até porque vai matar muita gente de raiva - ironizou Luciano Castro (PR-RR).
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), atacou:
- Quero saber quem é esse Barack Obama da Câmara que vai destruir um acordo institucional de 14 partidos? É uma agressão ao parlamento fazer a apologia da traição.
Mesmo diante da grande diferença de intenção de votos em relação aos demais candidatos, Temer preferiu se dizer cauteloso quanto à vitória.
- Saio fortalecido, mas vou aguardar o resultado no dia 2 - afirmou Temer, que não acredita em traições entre os aliados.
Eleição gera disputa por mordomias e nomeações de servidores
Não é apenas pelos holofotes e a visibilidade dentro e fora da Câmara que parlamentares se digladiam para ocupar os cobiçados cargos da Mesa diretora nas duas Casas. Além de prestígio político, quem integra o comando da Mesa na Câmara tem poder para nomear quase uma centena de servidores, se somar os staffs do gabinete de apoio e cargos de direção. Só o presidente, no gabinete, tem 89 cargos, além de 25 no gabinete de deputado, com R$ 60 mil de verba. E conta com 15 funcionários na residência oficial - empregados e seguranças.
O segundo cargo mais cobiçado é o de primeiro-secretário, o "prefeito" da Câmara e responsável pela administração de todo o orçamento, este ano estimado em R$ 3,5 bilhões. Cabe à 1ª secretaria, com a Diretoria Geral, propor e executar obras, licitações e comandar o orçamento. Este ano o cargo caberia, pela proporcionalidade do tamanho das bancadas, ao PT, mas o partido abriu mão para o PSDB porque preferiu a 1ª vice-presidência.
Todo membro da Mesa - sete titulares, incluindo o presidente - tem direito a carro oficial e, além da estrutura do gabinete, conta com quase meia centena de funcionários nos cargos de direção. Os suplentes, além de carro com motorista, podem nomear cada um outros 12 funcionários. Há sempre grande disputa para presidir as sessões. Na ausência do presidente, a preferência é dos membros da Mesa, começando pelo vice-presidente.
Cabe ao segundo vice-presidente deliberar sobre ressarcimento de despesa médica e exercer a poderosa função de corregedor. O segundo-secretário cuida de passaportes diplomáticos para os parlamentares e pedido de visto ao Itamaraty. O terceiro-secretário controla passagens aéreas, licenças e justificativa de faltas e exerce a função de corregedor-substituto. O quarto-secretário supervisiona o sistema habitacional - apartamentos funcionais e auxílio-moradia.
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Bob's Blog é cultura:
(*) Ensina Câmara Cascudo que a expressão se deve a Joana, cujo nome completo se desconhece, que viveu na Idade Média entre 1326 e 1382 e foi rainha de Nápoles e condessa de Provença. Teve uma vida atribulada e em 1346 passou a residir em Avignon, na França, segundo alguns autores por ter se envolvido em uma conspiração em Nápoles de que resultou a morte de seu marido, segundo outros por ter sido exilada pela Igreja por causa de sua vida desregrada e permissiva.
Em 1347
, aos 21 anos, Joana regulamentou os bordéis da cidade onde vivia refugiada. Uma das normas dizia: "o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar." Transposta para Portugal, a expressão paço-da-mãe-joana virou sinônimo de prostíbulo. Trazida para o Brasil, o termo paço, por não ser da linguagem popular, foi substituído por casa e casa-da-mãe-joana e serviu, por extensão, para indicar o lugar ou situação em que cada um faz o que quer, onde imperam a desordem, a desorganização. Uma variante chula da expressão é cu-da-mãe-joana.

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