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031 - em 11/01__________________________________________________________________
Luiz Felipe foi o primeiro a chegar. Não estava fugindo do atraso para não pagar o almoço. Estava, sim, extremamente ansioso porque na tarde anterior Ernesto tinha voltado de um novo encontro com Mauro, passara muito rapidamente no escritório porque ia ao casamento de uma prima, já estava atrasado, mas dissera que tinha novidades.
Guilherme e seu inseparável escudeiro Rodrigo entraram juntos e logo depois chegaram Selma e seu BB lindo. Pedro Rosenbaum chegou cinco minutos atrasado, mas não era o mais atrasado. Livrara-se da multa. Ernesto foi o último a aparecer e aparentava cansaço, que Luiz Felipe atribuiu à festa da véspera e, imitando o Diretor, disse que ele devia ter bebido todas no casamento da prima.
O assunto, finalmente, era a implantação das novas plataformas. Ernesto estava sendo informado sobre o estágio atual do cronograma dos diversos setores envolvidos na operação.
Pedro Rosenbaum disse que o cronograma estava sendo mais ou menos cumprido, no que se referia às plataformas de cálculo e de aviso de sinistros, o que não acontecia com a plataforma de atendimento ao segurado em que o atraso era de duas semanas. Falou sobre softwares, sobre compatibilidade de sistemas, sobre micros dedicados, e outros nem tanto, queixou-se, quase chorando, do crescimento assustador de seu backlog. Completou dizendo que, graças ao adiamento da implantação das novas plataformas, o cronograma, afinal, não estava atrasado.
Ernesto tentou obter alguns esclarecimentos, mas não conseguiu ficar satisfeito e desistiu quando Pedro Rosenbaum, não podendo responder a uma pergunta específica, disse que eram mistérios da informática.
Guilherme, com os apartes nem sempre esclarecedores de Rodrigo, relatou seus contatos com a área de Recursos Humanos da Matriz, queixou-se da burocracia do Departamento e, como Pedro Rosenbaum, também se valeu do adiamento para declarar que “pode-se dizer que o cronograma não está tão atrasado assim”.
Ernesto, como sempre, endurecendo, mas sem perder a ternura, comentou que, em momento algum, alterara o cronograma em função do adiamento do lançamento, dizendo que “vocês estão é arranjando desculpas por não terem feito o dever de casa”.
Selma não tinha recebido qualquer missão em relação aos novos projetos, mas, mesmo assim, informou que estava desenvolvendo um programa para o controle de qualidade das novas plataformas e cedeu a palavra ao seu BB ravissante.
O BB ravissante explicou que não estava nem atrasado nem adiantado, porque não havia qualquer cronograma a cumprir. E riu, achando que estava na TV, fazendo um comercial de creme dental.
Ernesto olhou para Luiz Felipe e, como acontecera em diversas oportunidades, Luiz Felipe adivinhou o que ele estava pensando: “isso é cousa de veado”.
Luiz Felipe não tinha o que informar. Repetiu o que Ernesto já tinha comunicado na reunião ordinária da penúltima terça-feira, ou seja, que o projeto fora aprovado no Comitê de Marketing, mas que ainda não houvera a manifestação do Comitê Executivo.
Ernesto interrompeu, dizendo que a verba era muito alta e o Comitê Executivo estava examinando detidamente.
- Já houve duas reuniões e o assunto foi adiado para a próxima sexta-feira.
Ernesto prosseguiu, dizendo que a divulgação, se o projeto fosse aprovado pelo Comitê Executivo, passaria a ser problema da turma do Mauro.
- Luiz Felipe fez um ótimo trabalho, mas agora não é mais conosco. Vamos cuidar da nossa cozinha interna.
Abriu uma pasta de papel e tirou uma folha. Luiz Felipe achou que era o organograma que estava dormindo com o rosto escondido sobre a mesa de centro da sala de Mauro há mais de quinze dias.
Aí, pareceu cena dos filmes americanos da década de cinqüenta. Quando o mocinho ia, finalmente, beijar a mocinha, o telefone tocava ou alguém batia na porta... quem não bateu na porta e entrou na sala foi a secretária de Ernesto, que, com a discrição de sempre, colocou a sua frente um bilhete. Ernesto leu, pediu licença, saiu, voltou logo, mas não se sentou.
- Vamos continuar depois do almoço. O Presidente está me chamando agora.
E saiu.
Guilherme e Rodrigo estranharam a convocação e Pedro Rosenbaum disse que “vem confusão por aí”. Selma e seu bebê lindo já tinham saído da sala.
Luiz Felipe, como o mais antigo na casa, disse que o chamado do Presidente não era comum, mas não era inédito. O Presidente, naturalmente, chamava quem quisesse, na hora em que quisesse, para tratar do assunto que quisesse.
Explicou que no tempo em que havia a associação com os franceses, ou seja, quando a GLS Assistência 24 Horas era um empresa fora da estrutura do grupo GLS Seguros, eram freqüentes as convocações do Presidente, porque Ernesto estava funcionalmente e hierarquicamente subordinado a ele, apesar de ser Diretor e não o Vice-Presidente a quem estavam subordinados os outros Diretores. Não eram mistérios da informática, eram mistérios da Superintendência de Organização e Métodos.
No momento em que foi rompido o contrato com o grupo francês e a GLS Assistência 24 Horas foi incorporada ao grupo GLS Seguros, Ernesto passou a ser subordinado ao Diretor de Marketing, o que foi justificado pelo fato do projeto ter nascido no Departamento de Mauro Cardoso.
- Evidentemente, uma justificativa idiota. Na realidade, foi uma manobra do Mauro para ficar com a Assistência 24 Horas. Mais de noventa por cento dos nossos atendimentos são para segurados de automóvel. O lógico seria que a assistência ficasse subordinada ao Diretor de Automóveis. E é, acho, o que vai acabar acontecendo.
Rodrigo quis saber se o chamado do Presidente tinha alguma coisa a ver com essa modificação.
- Pode ser. Isto aqui vai crescer muito com as novas plataformas. É preciso haver uma reformulação.
Luiz Felipe passou por sua sala antes de sair para o almoço e viu o recado que Suzana deixara sobre a mesa. Mercedes queria falar com ele. Ligou para o Tribunal, mas a secretária disse que ela estava com o Procurador do Estado e que não podia ser interrompida.
- Eu estou saindo para almoçar. Se ela puder me ligar... anota, por favor, o número do meu celular.
Luiz Felipe ficou imaginando Mercedes, com o Procurador... Estava realmente tendo uma carreira de sucesso. Certamente faria outros concursos e ainda seria Juíza, o que, ele achava, tinha tudo a ver com ela. E imaginou mais... ele fugira da profissão e só faltava casar-se, aos cinqüenta anos de idade, com uma Juíza...
Estavam almoçando no lugar de sempre. Pedro Rosenbaum não tinha ido, dizendo que aproveitaria o adiamento da reunião para completar alguns relatórios. Selma e o BB maravilha tinham sumido, o que levou Rodrigo a comentar que os dois sempre desapareciam na hora do almoço.
- Acho que eles vão para um motel... Já vi, muitas vezes, a Selma voltar do almoço com os cabelos molhados e o bebê com um ar de quem mamou muito bem...
A ausência de Ernesto e de Pedro Rosenbaum quebrava o ritmo das gozações.
Guilherme estava naqueles dias e despejava informações com uma velocidade jamais vista.
Estava dizendo que, a cada ano, noventa e oito por cento dos átomos do corpo eram substituídos. E, antes que a bobagem pudesse ser comentada, ele já estava declarando que o elefante era o único animal que tinha quatro joelhos. Passou a falar sobre pulgas e Luiz Felipe e Rodrigo ficaram sabendo que havia mais de duas mil e quatrocentas espécies conhecidas e que uma pulga fêmea consumia, por dia, quinze vezes o próprio peso em sangue.
Rodrigo perguntou qual era o consumo da pulga macho e Guilherme disse que pesquisaria e traria um completo relatório no próximo almoço. Luiz Felipe disse que não precisava...
Luiz Felipe olhava para os colegas e sentia uma vontade muito grande de informar que eles seriam promovidos. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia fazer isto. Ele soubera antes do Ernesto, o que o deixara numa situação, no mínimo, embaraçosa. A promoção podia até ter sido cancelada. O organograma que ele achava que tinha visto sobre a mesa, na frente de Ernesto, podia não ser o mesmo. E, agora, naquele mesmo instante, Ernesto estava com o Presidente da Companhia.
Tudo parecia confuso, muito confuso.
Guilherme e seu inseparável escudeiro Rodrigo entraram juntos e logo depois chegaram Selma e seu BB lindo. Pedro Rosenbaum chegou cinco minutos atrasado, mas não era o mais atrasado. Livrara-se da multa. Ernesto foi o último a aparecer e aparentava cansaço, que Luiz Felipe atribuiu à festa da véspera e, imitando o Diretor, disse que ele devia ter bebido todas no casamento da prima.
O assunto, finalmente, era a implantação das novas plataformas. Ernesto estava sendo informado sobre o estágio atual do cronograma dos diversos setores envolvidos na operação.
Pedro Rosenbaum disse que o cronograma estava sendo mais ou menos cumprido, no que se referia às plataformas de cálculo e de aviso de sinistros, o que não acontecia com a plataforma de atendimento ao segurado em que o atraso era de duas semanas. Falou sobre softwares, sobre compatibilidade de sistemas, sobre micros dedicados, e outros nem tanto, queixou-se, quase chorando, do crescimento assustador de seu backlog. Completou dizendo que, graças ao adiamento da implantação das novas plataformas, o cronograma, afinal, não estava atrasado.
Ernesto tentou obter alguns esclarecimentos, mas não conseguiu ficar satisfeito e desistiu quando Pedro Rosenbaum, não podendo responder a uma pergunta específica, disse que eram mistérios da informática.
Guilherme, com os apartes nem sempre esclarecedores de Rodrigo, relatou seus contatos com a área de Recursos Humanos da Matriz, queixou-se da burocracia do Departamento e, como Pedro Rosenbaum, também se valeu do adiamento para declarar que “pode-se dizer que o cronograma não está tão atrasado assim”.
Ernesto, como sempre, endurecendo, mas sem perder a ternura, comentou que, em momento algum, alterara o cronograma em função do adiamento do lançamento, dizendo que “vocês estão é arranjando desculpas por não terem feito o dever de casa”.
Selma não tinha recebido qualquer missão em relação aos novos projetos, mas, mesmo assim, informou que estava desenvolvendo um programa para o controle de qualidade das novas plataformas e cedeu a palavra ao seu BB ravissante.
O BB ravissante explicou que não estava nem atrasado nem adiantado, porque não havia qualquer cronograma a cumprir. E riu, achando que estava na TV, fazendo um comercial de creme dental.
Ernesto olhou para Luiz Felipe e, como acontecera em diversas oportunidades, Luiz Felipe adivinhou o que ele estava pensando: “isso é cousa de veado”.
Luiz Felipe não tinha o que informar. Repetiu o que Ernesto já tinha comunicado na reunião ordinária da penúltima terça-feira, ou seja, que o projeto fora aprovado no Comitê de Marketing, mas que ainda não houvera a manifestação do Comitê Executivo.
Ernesto interrompeu, dizendo que a verba era muito alta e o Comitê Executivo estava examinando detidamente.
- Já houve duas reuniões e o assunto foi adiado para a próxima sexta-feira.
Ernesto prosseguiu, dizendo que a divulgação, se o projeto fosse aprovado pelo Comitê Executivo, passaria a ser problema da turma do Mauro.
- Luiz Felipe fez um ótimo trabalho, mas agora não é mais conosco. Vamos cuidar da nossa cozinha interna.
Abriu uma pasta de papel e tirou uma folha. Luiz Felipe achou que era o organograma que estava dormindo com o rosto escondido sobre a mesa de centro da sala de Mauro há mais de quinze dias.
Aí, pareceu cena dos filmes americanos da década de cinqüenta. Quando o mocinho ia, finalmente, beijar a mocinha, o telefone tocava ou alguém batia na porta... quem não bateu na porta e entrou na sala foi a secretária de Ernesto, que, com a discrição de sempre, colocou a sua frente um bilhete. Ernesto leu, pediu licença, saiu, voltou logo, mas não se sentou.
- Vamos continuar depois do almoço. O Presidente está me chamando agora.
E saiu.
Guilherme e Rodrigo estranharam a convocação e Pedro Rosenbaum disse que “vem confusão por aí”. Selma e seu bebê lindo já tinham saído da sala.
Luiz Felipe, como o mais antigo na casa, disse que o chamado do Presidente não era comum, mas não era inédito. O Presidente, naturalmente, chamava quem quisesse, na hora em que quisesse, para tratar do assunto que quisesse.
Explicou que no tempo em que havia a associação com os franceses, ou seja, quando a GLS Assistência 24 Horas era um empresa fora da estrutura do grupo GLS Seguros, eram freqüentes as convocações do Presidente, porque Ernesto estava funcionalmente e hierarquicamente subordinado a ele, apesar de ser Diretor e não o Vice-Presidente a quem estavam subordinados os outros Diretores. Não eram mistérios da informática, eram mistérios da Superintendência de Organização e Métodos.
No momento em que foi rompido o contrato com o grupo francês e a GLS Assistência 24 Horas foi incorporada ao grupo GLS Seguros, Ernesto passou a ser subordinado ao Diretor de Marketing, o que foi justificado pelo fato do projeto ter nascido no Departamento de Mauro Cardoso.
- Evidentemente, uma justificativa idiota. Na realidade, foi uma manobra do Mauro para ficar com a Assistência 24 Horas. Mais de noventa por cento dos nossos atendimentos são para segurados de automóvel. O lógico seria que a assistência ficasse subordinada ao Diretor de Automóveis. E é, acho, o que vai acabar acontecendo.
Rodrigo quis saber se o chamado do Presidente tinha alguma coisa a ver com essa modificação.
- Pode ser. Isto aqui vai crescer muito com as novas plataformas. É preciso haver uma reformulação.
Luiz Felipe passou por sua sala antes de sair para o almoço e viu o recado que Suzana deixara sobre a mesa. Mercedes queria falar com ele. Ligou para o Tribunal, mas a secretária disse que ela estava com o Procurador do Estado e que não podia ser interrompida.
- Eu estou saindo para almoçar. Se ela puder me ligar... anota, por favor, o número do meu celular.
Luiz Felipe ficou imaginando Mercedes, com o Procurador... Estava realmente tendo uma carreira de sucesso. Certamente faria outros concursos e ainda seria Juíza, o que, ele achava, tinha tudo a ver com ela. E imaginou mais... ele fugira da profissão e só faltava casar-se, aos cinqüenta anos de idade, com uma Juíza...
Estavam almoçando no lugar de sempre. Pedro Rosenbaum não tinha ido, dizendo que aproveitaria o adiamento da reunião para completar alguns relatórios. Selma e o BB maravilha tinham sumido, o que levou Rodrigo a comentar que os dois sempre desapareciam na hora do almoço.
- Acho que eles vão para um motel... Já vi, muitas vezes, a Selma voltar do almoço com os cabelos molhados e o bebê com um ar de quem mamou muito bem...
A ausência de Ernesto e de Pedro Rosenbaum quebrava o ritmo das gozações.
Guilherme estava naqueles dias e despejava informações com uma velocidade jamais vista.
Estava dizendo que, a cada ano, noventa e oito por cento dos átomos do corpo eram substituídos. E, antes que a bobagem pudesse ser comentada, ele já estava declarando que o elefante era o único animal que tinha quatro joelhos. Passou a falar sobre pulgas e Luiz Felipe e Rodrigo ficaram sabendo que havia mais de duas mil e quatrocentas espécies conhecidas e que uma pulga fêmea consumia, por dia, quinze vezes o próprio peso em sangue.
Rodrigo perguntou qual era o consumo da pulga macho e Guilherme disse que pesquisaria e traria um completo relatório no próximo almoço. Luiz Felipe disse que não precisava...
Luiz Felipe olhava para os colegas e sentia uma vontade muito grande de informar que eles seriam promovidos. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia fazer isto. Ele soubera antes do Ernesto, o que o deixara numa situação, no mínimo, embaraçosa. A promoção podia até ter sido cancelada. O organograma que ele achava que tinha visto sobre a mesa, na frente de Ernesto, podia não ser o mesmo. E, agora, naquele mesmo instante, Ernesto estava com o Presidente da Companhia.
Tudo parecia confuso, muito confuso.
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Capítulo 033 - Prevista a publicação para 18/01
2 comentários:
Quando vai terminar esta charopada ? E, quando terminar, o que você vai publicar aos domingos ?
Esse senhor anônimo que escreve "charope" deve ser um xato (com X), além de grosso e mal educado. Além de anônimo...
As Gralhas não são uma obra prima, mas talvez nem tivesse sido a intenção do autor. É de leitura leve, agradável, misturando muito bem, como disse o autor na apresentação do livro, as doses de humor, suspense, mistério e sexo. Muito melhor do que ficar diante da TV vendo as "charopadas" do Faustão, do Luciano Hulk, do Sílvio Santos. Claro que o Anônimo discorda.
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