domingo, 25 de janeiro de 2009

As Gralhas Enfurecidas (035)

Três últimos capítulos publicados:
032 - em 16/01
033 - em 18/01
034 - em 22/01
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Chegaram de volta ao escritório às quatro horas. Suzana já estava recitando suas mensagens de sempre.
- Sem muitas novidades, Dr. Luiz Felipe, o senhor sabe... Dona Mercedes, Dona Rosângela, Dona Teresa, quatro vezes e um tal de Dr. Charles qualquer coisa.
- Não houve ligação de ninguém da Matriz ?
- Não.
Luiz Felipe disse que não retornasse nenhuma ligação. Estava se sentindo mal, depois de três ou quatro uísques, com os quais comemorara, juntamente com seus colegas, a promoção à Diretoria. E se arrependera de ter bebido tanto, porque pretendia também continuar a comemoração à noite e, certamente, não o faria sozinho.
Teresa tinha ligado quatro vezes... a queda do Mauro não fora motivo suficiente para interromper o processo de implantação das plataformas, nem impedira sua promoção e as de Guilherme e Rodrigo. Mas, o contrato com a Mark and Spencer... A situação na agência devia estar muito ruim. Ele devia ligar para Teresa.
Resolveu abrir seu mail. A primeira mensagem era de Teresa e fora passada às oito horas e cinqüenta e sete minutos daquela manhã. Teresa dizia que já telefonara duas vezes, que tentara o celular e pedia que ele retornasse com urgência, porque estavam querendo saber notícias sobre a saída do Mauro e a situação do contrato.
Havia dois PS, Teresa gostava de PS numerados:
"PS 1 Você ainda não respondeu se quer que eu volte ao seu apartamento para deletar a mensagem comprometedora que deixei em seu micro.
PS 2 Vamos jantar ?”
Luiz Felipe estava se lembrando do exame para a Faculdade de Direito... há quantos anos ? Ele estava começando um namoro com a vizinha da casa em frente ao seu prédio. No dia da última prova oral do vestibular, em um sábado de carnaval, a namorada e a mãe viúva tinham ido para Petrópolis e ficara combinado que Luiz Felipe viajaria logo depois da prova.
Luiz Felipe saiu da Faculdade, aprovado, e o que queria, mesmo, era ficar no Rio, com os colegas do colégio que também tinham sido aprovados, e comemorar a vitória... mas, achou que não podia faltar ao compromisso e, muito contrariado, foi para a rodoviária e tomou um ônibus para Petrópolis.
A situação estava se repetindo. Fora promovido, tinha comemorado com colegas que também tinham sido promovidos, queria continuar a festa, à noite, mas não sabia quem queria como parceira. Rosângela ou Mercedes ? Ou Ana Maria ? Onde andava Ana Maria ? No Paraguai ou em Nova Iorque, gastando o seu dinheiro ? Ou Teresa, que já formalizara o convite ao perguntar se ele queria sair ?
- Luísa, onde você está, Luísa ?
Releu a mensagem e, esforçando-se para não deixar os uísques do almoço atrapalharem seu raciocínio, tentou entender o recado: ela mencionava a saída de Mauro, falava sobre o contrato da agência e nos PS fingia que o estava convidando para jantar, mas, na realidade, estava se convidando para ir ao seu apartamento para deletar a frase que deixara no computador. Não, ela não queria sexo, ela queria informações. Ou, quem sabe, estava negociando a troca de sexo por informações.
Estava decidindo se telefonaria ou se usaria o mail, quando Suzana passou-lhe o recado. Teresa estava ligando, pela quinta vez.
- Puxa, até que enfim ! Estou tentando falar com você o dia inteiro.
- Eu recebi os recados Teresa, estava pedindo para a Suzana ligar para você. Você imagina como foi o dia aqui...
- Posso imaginar. O meu dia não foi, quer dizer, não está sendo nenhuma maravilha.... E aí, o que aconteceu ?
- Como assim ?
- Ora, Luiz Felipe, você não está pensando que nós estamos acreditando nessa história de doença do Mauro. O Charles tinha estado com ele há dois dias e ele estava muito bem. O que houve ?
Luiz Felipe percebeu agressividade e autoritarismo na pergunta, mas creditou-os a alguma coisa parecida com desespero, como se a Mark and Spencer tivesse perdido, se é que tinha perdido, algo mais do que a conta da GLS.
Era preciso mentir.
- Eu não sei o que aconteceu exatamente. A comunicação que recebemos foi que o Mauro tinha sentido fortes dores no peito, durante um jogo de golfe e que tinha sido levado para o hospital. Há quem diga que ele viajou para Cleveland... Você sabe, Diretores vão para Cleveland... Eu não tenho nenhuma intimidade com ele, ou com a família, para telefonar para a casa dele e perguntar. Nem sei se estou interessado...
Achou que estava dando detalhes demais e, como Ana Maria, com o relato do ex-marido, estava comprometendo a veracidade da história.
Tinha de sair da defensiva e atacar:
- Mas, certamente, você e o Charles não estão nada preocupados com a saúde do Mauro. O que querem saber é sobre o contrato, não é ? Pois bem, ele continua no Comitê Executivo. É o que sei.
Teresa estava ficando irritantemente repetitiva e disse que o Charles tinha tentado falar com o Mauro na Companhia mas que não conseguira por causa de uma pane nas linhas telefônicas da Matriz e que também tentara falar para a casa dele, mas ninguém tinha atendido o telefone.
Luiz Felipe decidiu encerrar o assunto e, lembrando-se de Ernesto, resolveu fazê-lo de forma dura, mas sem perder a ternura:
- Teresa, o Mauro não está mais na Companhia. A Diretoria, hoje, já deve ter escolhido o substituto. Então, você diz para o seu chefe que não adianta procurar o Mauro. Vocês têm de esperar... Só isso. Se eu souber de alguma coisa, prometo que aviso.
Teresa respondeu que ficaria aguardando, não mencionou o jantar e desligou sem se despedir. Luiz Felipe concluiu que ela estava à beira de um ataque de nervos, mas logo se deu conta de que, como sempre, ele estava exagerando.
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Capítulo 036 - Prevista a publicação para 28/01

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