quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

A Sete Palmos - Mariana Caminha



Sabe-se que a economia inglesa não anda lá bem das pernas, mas o mercado de trabalho por aqui já foi bem pior.
Há quem ainda duvide desta história, mas diz-se que uma das formas mais comuns de ganhar dinheiro na Inglaterra do fim do século XVIII era como “desenterrador” de corpos. Uma espécie de coveiro… só que ao contrário.
Eram os chamados “resurrection men”, ou RM, gente que faturava até quatro libras por “mercadoria”, dependendo do tamanho do corpo.
O trabalho era perigoso… Os RM corriam risco permanente de serem pegos, especialmente pelos parentes dos mortos que, sabendo do sucesso da profissão, bolavam armadilhas para surpreender os espertinhos.
Entre as técnicas mais usadas entre os resurrection men estava a de cavar um buraco pequeno até o caixão, que tinha a tampa quebrada para que o corpo pudesse ser levantado e, assim, arrastado até a superfície. Era uma forma de economizar tempo e não chamar tanta atenção.
A prática tornava-se cada vez mais popular quando os RM começaram a assassinar pessoas. Era um jeito de acelerar esse processo todo, vocês devem entender. Não deu certo, e a “brincadeira”  teve de acabar.
Mas engana-se quem pensa que a curiosa relação entre os mortos-vivos ingleses teve um fim duradouro.
Exemplo disso é uma faculdade da cidade de Peterlee, nordeste da Inglaterra. Trata-se da East Durham College, que em 2010 chegou a oferecer curso de especialização emgrave digging (cavar covas).
Obtinha-se o diploma após quatro dias de curso intensivo, no qual se aprendiam técnicas para preparação da cova, manutenção e noções de segurança do trabalho.
O objetivo do curso era fazer com que o funeral, essa cerimônia triste para toda família, corresse bem, sem incidentes ou surpresas desagradáveis, como uma queda livre do caixão, por exemplo.
Foi um sucesso, o curso. Mais de 30 pessoas se matricularam, e a iniciativa ainda contou com o apoio da cooperativa funerária local. O caixão usado nas aulas foi doado pela comunidade que, por sinal, andava carente de bons coveiros.
Para muita gente foi uma surpresa tamanho interesse dos jovens de classe média inglesa pela profissão de gravedigger. Eles, por sua vez, encaram o trabalho como outro qualquer, como mais uma chance de fazer uma graninha extra.
Estão mais que certos. E aposto que poucos sabem que têm como colega de profissão ninguém menos que Abraham Lincoln, um dos mais famosos presidentes americanos. Sim, ele já foi um gravedigger. Mais uma prova de que o céu é o limite para quem está, ou já esteve um dia, no fundo… da cova.

Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se divertir

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