segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Melhor Idade - Ruy Castro


 A voz em Congonhas anunciou: “Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestante e portadores de cartão tal terão preferência  etc.. etc” Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança  de colo, gestantes ou portador de dito cartão, só me restava a “melhor idade”- algo entre os 60 anos e a morte.

Para os que ainda não chegaram  a ela, “terceira idade” é quando você pensa duas vezes  antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair, se ninguém estiver olhando, chuta-o debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o ato singelo de dar o laço no pé esquerdo  do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica .

Privilégios da “melhor idade” são o ressecamento da pele, a osteoporoses, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência  dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar,  a queda de cabelo, a tendência á obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós da “melhor idade” estamos com tudo,  e os demais  podem ir lamber sabão.
Outra característica da “melhor  idade”, é a disponibilidade de seus membros para tomar a montanha de Rivotril,  Lexotan,e Frontal que seus médicos lhes receitam e  depois não conseguem retirar.

Outro dia, bem cedo um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: “Voltando da farra Ruy?” Respondi eufórico: “Que nada! Estou voltando da farmácia!”. E esta, de fato, é uma grande vantagem da “melhor idade”: você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga  ir.

Um comentário:

Alberto disse...

O segredo é esse.Qualquer idade é a idade de viver.Viver bem só com senso de humor.