quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

E aí, Serra ? - Ricardo Noblat


O que o PSDB queria de José Serra depois de sua derrota para Dilma Rousseff na eleição presidencial de 2010? Muita distância!
Fatia expressiva do partido abandonara Serra ainda ao longo da campanha. As demais lhe deram as costas tão logo a Justiça Eleitoral terminou a computação dos 44 milhões de votos obtidos por ele no segundo turno.
Foi voto à beça para quem cometeu tantos erros assombrosos e enfrentou o presidente da República mais popular da história recente do país. Nem por isso o PSDB reconheceu os méritos do seu candidato. Pelo contrário. Tratou-o com crueldade.
Serra não tinha mais futuro, dizia-se em voz baixa. Deveria vestir o pijama e sair rapidinho de cena.
Serra imaginou presidir o Instituto Teotônio Vilela, órgão de formação política do partido.
O peso político do cargo era mínimo. Mas conferia ao seu ocupante certa visibilidade. Funcionaria como uma espécie de prêmio de consolação.
Que Serra não levou. Levou foi um “aproxime-se para lá”. Perdeu gente de confiança sua na direção do partido.
E teve de engolir a recondução do ex-senador Sérgio Guerra (PE) à presidência do PSDB. Guerra não conseguira nem mesmo no seu Estado que o partido marchasse unido para tentar eleger Serra.
O PSDB de Pernambuco aderiu sem hesitar ao governador Eduardo Campos (PSB), filho político adotivo de Lula, ativo cabo eleitoral de Dilma e candidato à reeleição.
Recentemente, Fernando Henrique Cardoso apressou-se em decretar: “O candidato óbvio do partido a presidente da República em 2014 é o senador Aécio Neves (MG)”.
Criticado por sua demora em decidir assuntos importantes, o PSDB radicalizara. Sua estrela mais reluzente comunicava que há candidato escolhido para a eleição presidencial de daqui a três anos. Alvíssaras!
Tolice! Era um cala boca em Serra.
Dilma sequer tomara posse e ele já estava ocupado com o seu novo esporte favorito: falar mal de Aécio, que não se empenhara em elegê-lo.
Aécio é um político fraco, sem garra, sem disposição para a briga, adverte Serra. Faz a política da conciliação. Não conseguirá barrar a reeleição de Dilma. Ou a eventual volta de Lula.
Pois bem: esqueça tudo o que escrevi até aqui. Serra está novamente em alta dentro do PSDB.
De norte a sul, de leste a oeste do país, o partido o pressiona para que aceite a ingrata missão de ser candidato a prefeito de São Paulo. Somente ele seria capaz de vencer as forças arregimentadas por Lula para eleger prefeito Fernando Haddad (PT).
Haveria pelo menos dois fortes motivos para Serra recusar ser candidato a prefeito em outubro próximo: a rejeição ao seu nome na cidade de São Paulo ultrapassou a casa dos 30%. E ele só pensa naquilo – concorrer à presidência da República pela terceira vez.
Eleito prefeito, não daria para repetir o truque de 2008 – renunciar ao cargo e sair candidato a outro.
De pouco tempo para cá, Serra começou a descobrir que haveria uma penca de bons motivos para ser candidato a prefeito.
O PT está em expansão por toda parte. Se fizer o sucessor de Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo, poderá tomar do PSDB o governo do Estado em 2014. Seria um desastre de graves proporções para o partido. E a ser debitado na conta de Serra.
Para ele, interessa em primeiro lugar combater o PT administrativa e institucionalmente. Em segundo lugar, sustentar a boa reputação que construiu.
Em 2010, ele derrotou Dilma na capital paulista e no Estado. E mais: nos dois turnos. A prefeitura serviria também para reaglutinar sua turma. Político que nada tem a oferecer aos seus seguidores acaba esquecido.
De resto, como prefeito de São Paulo, Serra comandará o terceiro maior orçamento do país. O pretendente a candidato do PSDB à sucessão de Dilma mendigará por sua ajuda. E se ele estiver certo quanto à apregoada fraqueza de Aécio não terá desperdiçado a chance de ser de novo candidato a presidente.
E aí, Serra? Vai encarar?
Como sempre, ele só dirá algo em cima da hora. É do seu feitio.
Em 2006, por exemplo, o candidato a presidente seria ele, escolhido pelo restrito colégio de cardeais do partido. No minuto derradeiro desistiu de ser candidato. Geraldo Alckmin foi anunciado como tal. Depois do anúncio, Serra quis voltar atrás. Fernando Henrique e Aécio não deixaram.
Em 2010, um dos salões do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado, estava repleto de jornalistas para ouvir Serra admitir oficialmente que disputaria com Dilma a presidência da República. Ele e amigos conversavam numa sala contígua. A dada altura, Serra ouviu um forte argumento contrário à sua pretensão de ser candidato. Hesitou. Quis recuar.
Era tarde.

Um comentário:

Alberto disse...

O Noblat está por dentro.
Bela análise!